Ruskasta kaamokseen
No Norte, este ano o Outono chegou cedo. Quando comecei a minha viagem, em meados de Setembro, parti de Kirkenes/Kirkkoniemi (Noruega), onde as folhas já tinham caído. A primeira etapa foi a visita da pequena capela ortodoxa de São Jorge, em Neiden, construída em 1565 pelos primeiros missionários na Lapónia Oriental. No último domingo de Agosto é ainda hoje celebrada uma liturgia ao ar livre com a bênção das águas.
A capela ortodoxa de São Jorge
Dez quilómetros mais a sul, atravessámos a fronteira finlandesa para visitar a aldeia de Skolt sami de Sevettijärvi. (Chamava-se, outrora, ao povo sami «os Lapões», termo hoje considerado pejorativo.) Visitámos a pequena escola (10 alunos e três professores) que naquele dia estava ao rubro: havia um seminário sobre a gramática skolt com um professor da universidade de Oulu. A língua skolt é falada apenas por cerca de 400 pessoas. Ainda não têm toda a Bíblia na sua língua, mas o trabalho de tradução continua. Os mais velhos da região foram também convidados para o almoço e, todos juntos, com as crianças, cantámos nas três línguas utilizadas na região: o finlandês, o sami e o norueguês (e em latim e inglês, no Laudate omnes gentes).
Nessa noite, o mesmo cântico ressoou à volta da igreja de Ivalo, sobre o lago Inari, onde celebrámos o 10º aniversário da oração mensal com os cânticos de Taizé.
Será esta a oração mais a norte? Latitude de 68°37 Norte!
Durante a viagem em autocarro e comboio, deu-se uma longa conversa com um jovem Sami que voltava para o trabalho na construção civil, no sul, depois de uma visita à sua família. O seu pai morrera com um cancro de pulmão quando ele era ainda adolescente, de maneira que as manadas de renas tiveram que ser vendidas. Depois do seu serviço militar não conseguiu encontrar nenhum trabalho na região e, como tantos outros, teve que se deslocar para sul, perdendo assim a ligação com a sua terra. Este foi um tema constante da viagem. Como é que uma nação, baseada desde a origem na pastorícia, na caça e na pesca, pode exprimir a sua cultura numa nova moldura urbana? E para a oração e a fé, como podem estas mudanças demográficas ser tidas em consideração?
A aldeia de Sevettijärvi
Os dias seguintes passaram-se em Tampere e Kangasala, alternando entre visitas a escolas, orações e longas discussões sobre a fé e os jovens na Finlândia.
Tampere tem 206 mil habitantes, dos quais 1700 (a maioria de 15 anos de idade) se prepara para o Crisma – representam, incrivelmente, 90% do seu grupo etário! Com encontros semanais e com uma semana de campo três vezes por ano, a preparação para o Crisma é de facto algo que estes jovens apreciam; é uma preparação bem conduzida pela Igreja. Durante os dois anos que se seguem ao Crisma, alguns jovens ajudarão nos campos como «irmãos mais velhos» ou «irmãs mais velhas».
E depois? Onde podem eles, como jovens adultos, encontrar o seu lugar na Igreja? Onde podem ser úteis, necessários? Onde podem encontrar orações e celebrações correspondentes à sua situação de vida?
A capela/celeiro de Topi
Os estudantes do liceu e das universidades da geração actual têm duas etiquetas contraditórias. A geração «faz tu» e a geração «curling». Geração «faz tu», porque normalmente os dois pais trabalham. Desde que começam a caminhar, ouvem as palavras «agora faz tu», e não só relativamente ao caminhar, porque, mesmo quando ainda são bebés, devem aprender a ser autónomos.
A geração «curling» tirou o nome do desporto chamado curling, no qual os jogadores fazem deslizar pedras grandes de granito sobre uma superfície de gelo até à zona-alvo. Dois jogadores, com as suas vassouras, acompanham a pedra de modo a que ela deslize sobre a superfície de gelo. As vassouras servem para polir o gelo à frente da pedra, permitindo-a ir mais rapidamente e mais longe. A excelente situação económica da Finlândia nos anos 1990 e início de 2000 fez com que, com os salários dobrados, os pais pudessem «facilitar o caminho» aos seus filhos, oferecer-lhes muitas «coisas» e experiências. Hoje o clima económico é muito diferente. Como é que estes jovens, por quem se fez tudo, podem descobrir a interdependência da solidariedade, aprender a ajudar os outros, ir ao encontro daqueles que são talvez diferentes deles?
A capela/celeiro de Topi
Os dias em Helsínquia foram um sonho à luz de Outono, com as altas silhuetas das suas numerosas igrejas sempre visíveis no horizonte.
A Catedral de Helsínquia
Sábado à tarde houve uma oração e um encontro na igreja luterana Agrícola (paróquia da Catedral de Helsínquia) com o bispo luterano de Helsínquia Irja Askola.
Foi um encontro para os jovens. No início da introdução bíblica, abriu-se uma porta lateral e uma velha senhora entrou, empurrada numa cadeira de rodas. Todos espontaneamente se levantaram para saudar a sua chegada!
Anna-Maija Raittila é conhecida como escritora, poeta, tradutora e linguista. Se folhearem um livro de cânticos da Igreja na Finlândia, vão ver que quase metade dos cânticos foi, ou escritos, ou traduzidos por ela. Ela já esteve em Taizé no início dos anos 70, e se o nome Taizé é conhecido na Finlândia, é, em grande parte, graças à sua amizade com o irmão Roger e com a comunidade, e pelos numerosos grupos que ela levou a Taizé ao longo dos anos. A sua presença no encontro marcou-nos ao mostrar-nos que a peregrinação de confiança é também uma peregrinação no tempo; caminhamos juntos através das gerações, recebendo de uns e transmitindo a outros. É a peregrinação pessoal de cada um, mas também uma corrente humana onde cada um tem o papel de partilhar e transmitir aos outros a fé, a esperança e a confiança.
A minha viagem terminou em Turku e Rusko, na costa sudoeste da Finlândia.
A viagem a Turku foi principalmente consagrada aos estudantes de teologia de língua sueca (o sueco é uma das línguas oficiais da Finlândia e a minoria linguística sueca representa cerca de 5,5% da população). Bebendo quantidades enormes de café e conversando na sala comum da faculdade, foi refrescante ver o entusiasmo dos estudantes com suas matérias de estudo, e como as achavam adaptadas à vida de hoje. É bem verdade que a fé não foi marginalizada na Finlândia. Isso via-se também claramente pelos numerosos artigos de jornal consagrados ao sínodo que houve em cada diocese (no qual Taizé participou animando uma das orações da manhã na diocese de Turku).
Em Rusku encontrámos um grupo de jovens que irá a Taizé no próximo ano. A noite acabava com uma peregrinação com lanternas, desde as novas salas da paróquia, num centro comercial, até à igreja paroquial na periferia da cidade. Nesta época do ano, nesta parte do mundo, o crepúsculo chega cada dia 10 minutos mais cedo que na véspera. O crepúsculo e as lanternas lembraram-nos que em breve será o tempo de Kaamos (crepúsculo de inverno), quando o sol não se elevará no horizonte durante 37 dias, no norte, e aqui, no sul, as horas do dia serão muito curtas. Poderíamos estar tristes por dizermos adeus ao Verão. Mas os finlandeses sabem que Kaamos é igualmente um momento muito importante: um tempo para estarem juntos no calor de uma família ou de uma comunidade, um tempo para olhar interiormente e para a contemplação.
A peregrinação com as lanternas