TAIZÉ

Carta de Taizé

O desejo do perdão

 

A «Carta de Taizé» é publicada quatro vezes por ano.

Nesta página publicamos textos sobre o tema do último número da Carta, «O desejo do perdão». Cada um dos testemunhos comenta uma passagem da «Carta do Chile».

Cada ser humano precisa do perdão como do pão quotidiano. Deus dá-o sempre, gratuitamente, «ele que perdoa todas as tuas culpas». Abrir as mãos na oração é um gesto muito simples que pode exprimir o nosso desejo de o acolher.
Joseph (Vietname)

Durante a minha estada em Taizé, muitas vezes me perguntei como é que pessoas de tantos países, culturas e até religiões diferentes podiam rezar e viver juntas. Na igreja reparei que, no início da semana, alguns pareciam ter dificuldade em manter silêncio. Mas, com o passar do tempo, a maior parte conseguia rezar com alegria e mergulhar profundamente em Deus. Vi também que a maior parte deles estava à vontade para falar abertamente sobre a sua vida espiritual e ao mesmo tempo participar em tarefas práticas, tanto as mais aborrecidas como as mais pesadas... por exemplo, limpar casas de banho. Todos pareciam fazê-lo com alegria. E que bela expressão de alegria!

Como é isto possível em Taizé? As pessoas ultrapassam diferenças para se unirem na oração e na vida em comum. Talvez se apercebam que Deus as ama sempre e que o seu perdão é incondicional. Então sentem que são amadas, os seus corações estão cheios de alegria e querem expressá-lo.


Cristo distingue entre a pessoa e a falta cometida. Até ao seu último suspiro na cruz, recusou-se a condenar quem quer que fosse. E, longe de minimizar a falta, tomou-a sobre si mesmo.
Eze (Nigéria)

O perdão é uma atitude de amor que aceita os erros para poder construir a paz. Não podemos estar em paz com os outros se não começarmos por nos reconciliar connosco próprios. Como cristãos, conseguimos fazê-lo se aceitarmos que em primeiro lugar é Cristo que nos perdoa.

Penso que perdoar não é tão fácil como parece, pois implica um compromisso e uma responsabilidade. Compreendi que só se pode vivê-lo pela graça e pelo amor de Deus. Gostaria de dizer que reconhecer Cristo como aquele que nos ama e nos perdoa significa receber a sua presença nas nossas vidas. É aí que se criam raízes de paz, de liberdade e de reconciliação, connosco e com a criação de Deus.


Acolher e transmitir o perdão de Deus é o caminho que nos foi aberto por Cristo. Podemos avançar nele apesar das nossas fragilidades e das nossas feridas. Cristo não faz de nós pessoas que já chegaram à meta.
Daniel (Costa Rica)

Nos dois últimos anos lutei comigo memo para decidir o que queria fazer com a minha vida. Tomei algumas decisões que não foram correctas, o que me deixou sem esperança e sem confiança. Mas, durante o tempo que passei em Taizé, compreendi que acolher o perdão de Cristo significa em primeiro lugar perdoar-me a mim próprio.

Aceitei que me tinha enganado e isso ajudou-me a sarar as feridas. Até compreendi que os erros podem trazer-me luz e comecei a descobrir quem sou e o que quero fazer da minha vida. Saber isso não apaga o medo nem significa que a vida será sempre fácil, mas sei que posso assumir o risco de viver: o perdão de Cristo deu-me vida!


Sendo pobres do Evangelho, não temos, enquanto cristãos, a pretensão de sermos melhores do que os outros. O que nos caracteriza é simplesmente a escolha de pertencermos a Cristo. Ao fazermos esta escolha, queremos ser totalmente consequentes.
Jessica (Nova-Zelândia)

Uma das alegrias que o facto de ser cristã me dá reside na escolha que faço diariamente de pertencer a Cristo. Esta escolha não é daquelas coisas que eu tenho que anunciar a toda a gente à minha volta, é uma escolha pessoal que eu faço com Cristo. Comprometer-me continuamente a pertencer-lhe implica uma exigência de viver activamente a minha fé, seguindo aquele que é «manso e humilde de coração». Implica perseverar em Cristo, não para ser notada pelos outros mas porque ouvi o que Cristo me confiou e escolhi seguir esse caminho.

Apesar de eu escolher todos os dias pertencer a Cristo, apercebo-me que em muitas ocasiões as minhas interrogações e as minhas dúvidas me levam a pensar que não vou conseguir fazê-lo. Nessas alturas, rezo a Cristo, confiando-me a ele com as minhas dúvidas, e peço-lhe para me ajudar a perseverar nesta escolha com a minha pouco fé.


«O cristão é um homem que vive do perdão, que sabe bem que todos os dias transgride os mandamentos de Deus, mas que também todos os dias regressa a Deus, e que sabe, com uma certeza invencível, que será sempre Deus a ter a última palavra na sua vida. Cristo encarregou-se dele, tornou-se responsável por ele perante o Pai; o cristão não está sozinho na luta, porque aquele a quem se deu nunca o abandonará.» Suzanne de Dietrich (1891-1981)
Mel (Chile)

Ao reflectir sobre o perdão penso necessariamente na parábola do filho pródigo e também na segunda carta de Paulo aos Coríntios (5,18-21). Jesus faz a distinção entre a pessoa e o pecado que a pessoa cometeu porque o ser humano pertence a Deus e o pecado é uma queda na tentação que põe a nossa fé à prova. Mas o Pai, na sua infinita misericórdia, dá-nos uma liberdade plena. Paciente, ele espera pelo nosso regresso da longa viagem que decidimos realizar por não estarmos à vontade em casa.

É o Pai que deixa imediatamente o que está a fazer assim que nos vê ao longe, no caminho. Sem julgamentos precoces, ele corre ao nosso encontro e vendo o nosso arrependimento abraça-nos com a ternura de um amor desconhecido neste mundo. Sem nada pedir em troca, ele prepara-nos uma festa. Fica feliz com o nosso regresso e celebra com todos a chegada do seu filho perdido. Desta forma nos abandonamos a ele e encontramos a reconciliação, na infinita ternura do amor filial.


«O cristão não é apenas de Jesus Cristo, como sem dúvida todos os seres humanos lhe pertencem, mas ele é parte de Cristo, o que quer dizer que a obra que Jesus Cristo realiza no mundo torna-se também o sentido da sua própria acção; o combate que Jesus Cristo trava nas trevas contra as trevas torna-se o combate no qual o cristão deve por sua vez comprometer-se.» (Karl Barth, 1886-1968)
Abigail (Malta)

Cristo disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.» (Mateus 16,24) Como ser humano que sou, não é fácil para mim viver como verdadeira cristã. Vejo-me confrontada com obstáculos e recusas. As questões e as dúvidas também vão surgindo. Há um combate permanente em mim, entre aquilo que Deus quer que eu realize e aquilo que eu desejo. Então recordo que, mesmo na noite mais escura, Jesus está perto de mim. Ele é a minha luz e o meu guia. A ele eu levanto a minha alma. É bom esperar e confiar no Senhor. «De tudo sou capaz naquele que me dá força.» (Fl 4,13). Com ele vou conseguir!

Última actualização: 16 de Outubro de 2011

No seguinte documento encontram-se os testemunhos de jovens publicados na Carta de Taizé:

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