TAIZÉ

Meditação do irmão Alois

A igreja da Reconciliação tem cinquenta anos

 
Quinta-feira 9 de Agosto de 2012

Esta semana, celebramos uma data especial. Há cinquenta anos, a 6 de Agosto de 1962, a igreja em que estamos reunidos foi inaugurada. Talvez saibam que se chama «igreja da Reconciliação». O nosso irmão Denis, que é arquitecto, elaborou o desenho e jovens alemães de um organismo criado para a reconciliação após a guerra mundial, «Aktion Sühnezeichen», assumiram os trabalhos de construção.

Ao longo dos anos, esta igreja conheceu modificações e aumentos, porque o irmão Roger alimentava-se constantemente deste desejo: que todos o que entram na igreja possam compreender que é Deus que os acolhe. Por ocasião da inauguração, o irmão Roger escreveu estas palavras:

«Quem vem a Taizé procura, conscientemente ou não, algo que está para além de si. Se nos pedem pão, oferecer-lhes-íamos pedras para contemplar? Após terem estado nesta igreja da Reconciliação, mais do que guardar recordações das paredes, possam as pessoas recordar o apelo à reconciliação e fazer dela o pão quotidiano das suas vidas.»

O irmão Roger convida-nos a fazer da reconciliação o nosso pão quotidiano. Isso significa acolher a paz de Deus, crer que Deus nos acolhe sem colocar condições. Não só nos aceita como somos, como ama profundamente cada um de nós, poderíamos até dizer perdidamente, e para sempre.

Jesus veio para nos revelar este amor de Deus. Fê-lo indo até ao fim, até à cruz, conhecendo as mais profundas trevas. Possamos nós compreender que carrega os nossos fardos e as nossas faltas e que perto dele encontramos a paz do coração, a reconciliação interior.


Esta igreja foi inaugurada a 6 de Agosto, dia em que celebramos anualmente a Transfiguração de Cristo. Podem ver o ícone da transfiguração junto ao altar da igreja. Meditemos mais frequentemente este importante momento da vida de Jesus e aí encontraremos uma luz totalmente nova.

Antes da sua paixão, onde será terrivelmente desfigurado, três discípulos vêem por um breve momento Jesus irradiar uma luz que ultrapassa tudo o que conhecem. Vêem Jesus como realmente é: o enviado de Deus, o Filho de Deus.

Na nossa oração, muitas vezes simples e talvez muito pobre, por vezes esta luz de Cristo toca o nosso coração por um momento, mesmo que não tenhamos uma experiência sensível. O irmão Roger escreveu ainda há 50 anos:

«Não é por acaso que a inauguração da igreja da Reconciliação foi agendada para o dia da festa da Transfiguração. Devemos, de facto, recordar-nos que Cristo opera a sua obra de transfiguração em nós e no próximo. Converte as resistências mais profundas que se opõem à reconciliação. Pouco a pouco, faz entrar a sua luz nas nossas trevas mais opacas.»

Estas palavras do irmão Roger permanecem verdadeiras. Acolhemos a reconciliação de Cristo de variadas formas: na Eucaristia, rezando o Pai Nosso e mesmo dizendo simplesmente, do fundo do nosso coração, esta antiga oração: «Jesus Cristo, Filho de Deus, vêm em meu auxílio.»


E mesmo quando duvidamos do perdão de Deus, talvez motivados por uma falha grave, podemos escutar, numa voz humana, no sacramento da reconciliação, a certeza de sermos perdoados.

Acolhemos o perdão de Deus até ao fim quando o transmitimos aos outros. Assim, pedimos a Deus: Torna-nos, pelas nossas vidas, portadores de paz e de reconciliação nos locais onde vivemos, nas nossas famílias, entre os que nos rodeiam, entre cristãos separados, entre os povos da terra.

É verdade que conhecemos situações onde o perdão pode ser extremamente difícil e, em alguns casos, parecer em certos momentos impossível. Nessas situações, é ainda mais importante manter a paz de coração, acreditar que Cristo carrega esta situação connosco e que o desejo de perdoar é já um primeiro passo.

Partilhar o pão quotidiano da reconciliação que recebemos: desejamos sempre, e especialmente hoje, assumir um gesto concreto. Assim, pensámos num país recentemente independente e saído de duas décadas de guerra: o Sudão do Sul. Através da «Operação Esperança», que apoia projectos em diferentes continentes, ajudaremos a partir deste momento e ao longo dos próximos três anos crianças desfavorecidas da cidade de Rumbek.


Sabem que, antes do Encontro Europeu de Roma, teremos no mês de Novembro um Encontro Africano no Ruanda. Três responsáveis da pastoral juvenil deste país encontram-se entre nós, dois padres e um pastor. A sua presença é preciosa para nos preparar para este Encontro. Eles regressam ao seu país no domingo.

Desejamos dizer-lhes que os acompanhamos com as nossas orações. Que a reconciliação difícil que os ruandeses se esforçam por viver, após o terrível genocídio que conheceram, pode ter contornos profundos. O seu admirável esforço de reconciliação é um apelo para todos nós: que a reconciliação de Cristo atinja os nossos corações, que façamos da reconciliação o nosso pão quotidiano, para que a esperança da paz se possa erguer para todos os humanos.

Permitam-me citar ainda algumas palavras que o irmão Roger escreveu para a inauguração desta igreja, palavras que poderão acompanhar-nos por um tempo:

«Um homem reconciliado consigo mesmo e com o seu próximo encontra uma força viva (…) um dinamismo, uma nova Primavera.»
Última actualização: 10 de Agosto de 2012