O encontro começou com muita simplicidade. Começámos à espera dos grupos que vinham de fora às 8 da manhã. Mas às 14 horas, ainda só havia um grupo vindo de Potosi. Mas tudo mudou ao princípio da tarde. Começaram a chegar grupos vindos de toda a Bolívia, de Cochabamba, Santa Cruz, Oruro, e ainda um grande número vindo de Altiplano. Alguns, como os de Chuma e Titicacha, tinham viajado durante mais de doze horas. Mais de 150 jovens de Jesus de Machaca vieram em camiões! Até haviam pessoas da Argentina, do Chile, do Brasil e da República Dominicana. Também vieram voluntários europeus, que estão a trabalhar agora na Bolívia. Às 18:30h, o bispo acolheu os jovens explicando-lhes por que razão estes dias de reconciliação eram importantes. Durante os dias que precederam o encontro, algumas pessoas estavam inquietas por causa da nova onda de greves e barragens das estradas em várias regiões do país. Em Outubro passado, El Alto foi o centro das manifestações que fizeram cair o presidente. Assim, para muitos, o encontro chegava como uma luz a brilhar nas trevas.
O núncio apostólico leu uma mensagem do Papa João Paulo II, e uma mensagem do irmão Roger foi lida em ayamara e em espanhol:
«… Na Bolívia, como em todos os países do mundo, muitos sabem que não é possível avançar sem perdoar, sem múltiplas reconciliações. Por isso gostariam de se preparar para criar confiança à sua volta. Então, em conjunto, podemos rezar:
Espírito Santo, que habitas em cada ser humano, vens depositar em nós estas realidades de Evangelho tão essenciais:
a bondade do coração e o perdão.
Amar e exprimi-lo através da nossa vida, amar com a bondade do coração e perdoar: concedes-nos dessa forma que encontremos uma das fontes da alegria…»
Decoração com a face de Altiplano
Foi numa grande sala de desportos da escola dos Salesianos que uma equipa instalou a decoração para a oração. Três grandes painéis: um com Emaús, outro com as bodas de Caná e o último com a Trindade. Todas as faces são, na realidade, de Altiplano. No painel da Trindade, por baixo, há a figura de uma mulher. Para as pessoas de Altiplano, ela representa a Pachamama, quer dizer a mãe terra. Por cima, a cruz andina, uma espécie de cruz quadrada em pedra com um sol ao meio. Para a sensibilidade local, representa Deus Pai. Os desenhos foram feitos por jovens formados por jesuítas na faculdade de Belas Artes de Oruro.
Em solidariedade com os que sofrem
O dia de sábado começou com orações nas paróquias. Em cada paróquia, uma equipa de jovens tratava disso. Em seguida houve visitas a locais de sofrimento e de esperança, e a diferentes projectos de beneficência. Era uma forma de exprimir que a oração e a solidariedade humana vão a par. De tarde, havia encontros na escola dos Salesianos sobre a Bíblia, a unidade dos cristãos, a situação política actual da Bolívia, os caminhos de reconciliação, o chamamento que Deus faz a cada um de nós.
Um dos irmãos que ajudou a preparar o encontro escreve: «depois do encontro, um padre comentou: é a primeira vez que num encontro os jovens do campo e os da cidade se misturam sem formarem grupos separados. E na minha paróquia, desde há quinze anos tento levar os jovens a cantar também em ayamara. Sempre se recusaram. Mas depois do encontro, espontaneamente, no fim da missa, cantaram um cântico de Taizé em ayamara!»