O Verão começou e nós, os irmãos, ficamos admirados ao ver que, ano após ano, tantos jovens de tantos países continuam a passar na nossa colina.
Teríamos, sem dúvida, preferido que tivessem uma estadia mais solarenga. O frio e a chuva são um pouco desafiantes. Ao serão, procurem cobertores na camarata 101. Se não possuem agasalhos quentes, peçam-nos às irmãs no El Abiodh. Elas têm alguns disponíveis.
Vêm como peregrinos, quer dizer que buscam algo. Quiçá o objecto desta procura não esteja muito explícito. Importa, então, colocar-se a questão: no fundo de mim mesmo, o que procuro? Qual é o meu desejo mais profundo?
Acontece que também nós, os irmãos, nos tornamos peregrinos. No último mês de Maio, estive no México, para um encontro de jovens preparado durante vários meses por alguns irmãos e uma equipa internacional de jovens. A religiosidade profunda do povo mexicano impressionou-me.
Dois mil jovens de diferentes países da América Latina foram acolhidos nas famílias da Cidade do México. A oração final reuniu cinco mil jovens na grande basílica de Guadalupe.
Nesta basílica, encontra-se a imagem de Maria que é quase um ícone. Para incontáveis pessoas, é uma porta de entrada no Evangelho, permite aceder à consolação que Cristo traz à humanidade. O primeiro capítulo do Evangelho de Lucas mostra justamente que Maria é aquela que permite a vinda de Cristo ao mundo.
Neste grande ícone mexicano, o rosto de Maria é o de uma jovem mestiça. Tal significa para o povo mexicano que Deus se identifica com eles, que Cristo veio para eles, não para abolir a sua cultura, mas sim para a cumprir.
A fé ajuda inúmeros mexicanos a atravessar situações difíceis. Falaram-me frequentemente da violência que mina a sociedade, numerosos jovens desejam abandonar o país. Os jovens latino-americanos que se encontram aqui poderão falar-lhes melhor do que eu desta situação.
Quero contar-vos uma visita que realizámos no México. Juntamente com Consuelo, uma jovem que passou aqui uma temporada como voluntária, fomos ao encontro de jovens que vivem na rua. Num bairro sobretudo rico, quarenta pessoas vivem numa tenda improvisada, reforçada por cartão e todo o tipo de materiais.
Consuelo visita-os regularmente e eles alegraram-se ao vê-la chegar. Encontrámo-nos na rua. Um jovem tem ali a sua casa há 12 anos. Um pequeno rapaz de dez anos nasceu ali. Uma mulher muito jovem está grávida. Fazem o possível para encontrar um pouco de dinheiro para subsistir. A maioria inala uma droga quase constantemente.
Passado um pouco, convidaram-nos a entrar na sua tenda. No meio, encontrava-se um televisor. Vislumbro uma cruz num dos cantos. Propomos que cantemos juntos «Nada te turbe». Depois, Consuelo teve espontaneamente a ideia de os convidar para a oração da noite do nosso encontro de jovens.
Embora eu não acreditasse, todos vieram. Nessa noite, tivemos a oração em torno da cruz, como aqui às sextas-feiras. Estivemos reunidos em torno de Cristo com estes jovens bem como com responsáveis das diferentes igrejas. Foi um grande momento de esperança.
Porque vos conto isto? Não apenas para partilhar uma experiência, mas para vos encorajar a fazer também visitas assim. Certamente que se pode questionar se alteram a miséria daqueles que se visita. Não é essa uma maneira fácil de tranquilizar a nossa consciência perante os enormes problemas das nossas sociedades?
A nossa visita não alterou a situação destes jovens. Contudo, talvez tenhamos podido alumiar uma pequena chama de esperança. Quem sabe? Nos seus corações permanece porventura a recordação do encontro, da oração. E sei que, em qualquer caso, eu próprio fui profundamente tocado.
Quando sofremos, esperamos certamente a cura ou a ajuda material. Mas temos também necessidade de encontrar um coração que nos escute e compreenda, onde possamos encontrar uma esperança e, talvez, um alívio para o nosso sofrimento.
A miséria material, as estruturas de injustiça são inaceitáveis. A nossa solidariedade começa quando deixamos que os nossos corações se humanizem, levando um pouco de calor humano ao frio que tenta invadir as nossas sociedades. Cristo identifica-se com os mais pobres, é aí que nos espera, é a isso que nos chama. Estejam certos de que é um caminho de profunda alegria.
Assim, gostaria de vos encorajar a fazer também visitas, sozinhos ou em grupos de dois ou três. Juntos, vejam quem, ao vosso redor, podem visitar, estrangeiros, doentes, crianças abandonadas…
A solidariedade entre os humanos é o tema que escolhemos para o próximo ano. Cristo convida-nos a ultrapassar as fronteiras. Perto e longe.
Tornar-se mais sensível aos outros: que belo é este convite do Evangelho! Dá sentido à nossa vida, faz-nos conhecer melhor o amor de Deus.