TAIZÉ

Textos bíblicos com comentário

 
Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.

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2016

Janeiro

Actos 7,54-8,4: A oração e o perdão de Estêvão,o primeiro mártir
Ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. «Olhai, disse ele, eu vejo o Céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.» Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: «Senhor, não lhes atribuas este pecado.» Dito isto, adormeceu. Saulo aprovava também essa morte. No mesmo dia, uma terrível perseguição caiu sobre a igreja de Jerusalém. À excepção dos Apóstolos, todos se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. Entretanto, homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grandes lamentações. Quanto a Saulo, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e entregava-os à prisão. Os que tinham sido dispersos foram de aldeia em aldeia, anunciando a palavra da Boa-Nova.
(Actos 7,54-8,4)

Estêvão é acusado de falar contra o Templo de Jerusalém e a Lei de Moisés (Actos 6, 13). Na sua defesa, começa por falar da longa história de Deus e do seu povo, falando depois das duas acusações. Relativamente ao Templo, explica que, de facto, desde o estabelecimento da Aliança no Monte Sinai, Deus escolheu permanecer com o seu povo e ordenou a Moisés que construisse um santuário móvel, a arca da aliança. Mais tarde, Salomão, filho de David, erige um templo em Jerusalém. Contudo, Estêvão cita textos bíblicos para provar que Deus permanece no céu e na terra, no universo inteiro. Sobre a Lei de Moisés, Estêvão vira a sua acusação contra os seus acusadores. Não são os que acreditam em Jesus que infringem a lei de Deus, mas sim os que o traíram e mataram.

Provavelmente, Estêvão não tinha intenção de concluir o seu discurso com o assassínio de Jesus. Nos Actos dos Apóstolos, a acusação «Mataram Jesus» é sempre seguida do anúncio da Boa Nova: «mas Deus ressuscitou-o!» Naquele momento, as palavras de Estêvão são de tal forma intoleráveis para os seus juízes que não o querem deixar terminar. No entanto, apesar da sua fúria, ele continua. Não está já a falar com eles. Já não está a argumentar. O Espírito Santo permite-lhe ver o invisível, e Estêvão é apenas uma testemunha. Vê Cristo Ressuscitado na glória de Deus e limita-se a confirmar o que vê. Então, os juízes fecham os seus ouvidos e começam a berrar para não ouvirem a blasfémia de Estêvão.

O problema não está na visão dos céus que se abrem. Antes dele, profetas como Isaías e Ezequiel viram os céus abertos e a glória de Deus no seu templo celestial, um que não foi feito com mãos humanas. O que leva os juízes a acusarem Estêvão de blasfémia é a sua alegação de que vê o homem Jesus em Deus. Como poderia um homem condenado e crucificado partilhar a glória de Deus? Tal significaria que há em Deus espaço para sofrimento e morte. Foi por compreender exactamente o que estava em causa que o futuro apóstolo Paulo, que ali estava presente, aprovou a morte de Estêvão. Se aquilo de que Estêvão dá testemunho é verdade – e, mais tarde, Paulo convencer-se-á de que sim – então, em Deus há «loucura» e «fraqueza» (1 Cor 1,25).

Estêvão vê que Jesus é um com Deus. A sua visão da unidade de Deus e Jesus dá forma e orienta a sua oração. As orações anteriomente mencionadas nos Actos dos Apóstolos são sempre dirigidas a Deus. Estêvão é a primeira pessoa a rezar a Jesus. Na cruz, Jesus dirigiu-se a Deus com um versículo do Salmo 31, adicionando a palavra Pai: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Estêvão dirige a mesma oração a Jesus: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito». Reza a Jesus da mesma forma que as pessoas rezam a Deus, não apenas devido ao que aprendeu sobre fé na Trindade, mas porque, ao olhar para Deus, vê Jesus.

A unidade de Cristo Ressuscitado com Deus na sua eterna Glória tem ainda uma outra consequência. Pela sua lealdade até à morte, Estêvão assemelha-se aos sete irmãos e sua mãe que foram mártires no tempo dos Macabeus dois séculos depois (2 Macabeus 7). Contudo, há uma diferença importante. Os sete irmãos pedem a Deus que lhes faça justiça e ameaçam o seu carrasco: «Mas não julgues que ficarás impune; (...) Não escaparás à mão de Deus.» (2 Macabeus 7,19.31). Estêvão reza «Senhor, não lhes atribuas este pecado!». Não pode pedir retribuição porque, olhando para Deus, vê Jesus, o Filho do homem crucificado. Não podem rezar a Deus sem que Jesus lhe apareça. Como poderia pedir a Jesus, que amou os seus inimigos, por retribuição e vingança?

A perseguição que inicia com o martírio de Estêvão não pode impedir que o Evangelho se espalhe. Pelo contrário, a Boa Nova ultrapassa fronteiras com os que precisam de fugir e estão dispersos.

- De que forma o modo como vemos Deus influencia a nossa oração?

- O que faz nascer e crescer o desejo de perdoar?

- Que momentos difíceis, na minha vida pessoal e na vida da Igreja ou da minha comunidade, se tornaram ocasiões para ultrapassar uma etapa ou ir mais longe?



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Última actualização: 1 de Março de 2024