Peregrinação aos Antípodas
No primeiro dia, em Melbourne, foi organizada uma cerimónia de acolhimento pelos delegados pastorais dos aborígenes australianos. Vicki, a responsável cuja terra natal fica no lago Mungo, em Nova Gales do Sul, presidiu à cerimónia. Ela trouxe terra das margens do lago, num «coolamon», um tronco de árvore moldado para transportar crianças, água ou bens preciosos, embrulhado num lenço que pertenceu à sua mãe.
Ela convidou outros aborígenes a deitar um pouco de terra nas nossas mãos, depois fechámos os olhos e ela rezou para que a terra dos primeiros habitantes deste país nos acolhesse. Vicki recitou uma longa oração enquanto mantínhamos a terra nas nossas mãos. De seguida devíamos deitar a terra no «coolamon». Depois disso fizemos a nossa oração com eles. Uma das responsáveis disse que a oração meditativa estava verdadeiramente na sua tradição.
No mesmo dia, um piquenique no parque reuniu uma quinzena de jovens adultos de Igrejas diferentes que já tinham vindo a Taizé e prepararam uma bela jornada de encontro com jovens de todo o Estado de Victoria e mesmo de mais longe. A oração da manhã na Igreja de Wesley foi seguida por uma introdução bíblica; o pastor tinha sido voluntário em Taizé nos anos 70. Ao meio-dia, a oração teve lugar na igreja de S. Francisco e depois foram propostos ateliês durante a tarde. À noite, teve lugar a oração na catedral anglicana. O jantar foi preparado por jovens refugiados birmaneses.
No domingo, em Brisbane, fomos acolhidos em casa do Arcebispo católico, que contou como os escritos do irmão Roger o acompanharam ao longo de toda a sua caminhada. A oração na catedral tinha sido preparada por jovens que mal conheciam Taizé, mas que prepararam muito bem os cânticos.
Nós partimos de seguida para a Nova Zelândia. À chegada, fomos conduzidos ao norte de Wellington, na região de Otaki, na cidade de Rangiatea. Que bela surpresa ver 200 pessoas à nossa espera em frente à igreja, que é como a catedral para os anglicanos maori. As mulheres cantaram e conduziram a procissão em direcção à igreja. O padre anglicano maori e o bispo de Wellington fizeram-nos o acolhimento tradicional e nós improvisámos uma oração com os nossos cânticos.
A estrutura do edifício da igreja é a das salas comunitárias maori, tradicionalmente dedicadas a um ancião da tribo. Para os cristãos, este ancião é Cristo que nos reúne no seu corpo. As vigas representam as costelas de Jesus, os três pilares principais a Trindade e os muros são revestidos por uma tecelagem com múltiplas estrelas, sagradas para os maori, que fazem pensar na promessa feita a Abraão e a Sara. No final, o padre anglicano levou-nos à igreja católica ali próxima. É um lugar importante para os maori e nós rezámos diante do muro de reconciliação construído no pátio.
Daí, seguimos para a comunidade fundada pelo bispo anglicano num lugar afastado. A comunidade da Arca veio rezar connosco. No dia seguinte à noite, em Wellington, foi proposto um ateliê na catedral católica, seguido de uma oração na catedral anglicana. As Missionárias da Caridade levaram um grupo de jovens originários das ilhas do Pacífico, que vivem num bairro desfavorecido.
Em Christchurch, na ilha do sul, a bispo anglicana Victoria Matthews esperava-nos. Tendo vindo duas vezes a Taizé, ela acolheu-nos muito bem. Ela gostaria de voltar a Taizé com um grupo de jovens em Julho de 2016.
Atravessámos a ciadde ainda sinistrada por causa dos tremores de terra de 2011; o centro tornou-se um grande terreno baldio, as duas catedrais estão em ruínas, os edifícios destruídos.
Muitos continuam marcados pelo que passaram. Mas é belo ver que surgiram iniciativas de solidariedade entre as igrejas no meio destas catástrofes.
À noite, ateliês e oração na «Catedral de Transição», também chamada «Catedral de Cartão», construída muito rapidamente após os tremores de terra por um arquitecto japonês. A oração à volta da cruz foi particularmente intensa.
Regresso à Austrália ao norte de Adelaide, sexta-feira, para um dia com os estudantes de uma escola anglicana-católica e uma oração da noite na «Igreja da União». Desta Igreja, veio a Taizé em 2013, um grupo de uma vintena de jovens, entre os quais dois aborígenes.
No sábado, descobrimos o «Outback» - grandes planícies que pouco a pouco conduzem ao deserto. Peregrinação na tribo Adnyamathanha, «o povo do rochedo». Auntie Denise, uma anciã da tribo, mãe de uma jovem que veio a Taizé em 2013, veio também ela em 1980. Ela contava como ao traduzir os nossos cânticos na sua língua redescobrira todo um vocabulário espiritual característico da sua cultura. Saída de uma tradição oral, ela tem um dom maravilhoso para partilhar os contos do «Dreaming», contos fundadores que não são simplesmente um olhar sobre o passado, mas que falam ainda hoje. A ligação entre a terra e a vida interior é primordial. Toda a vida espiritual dos antepassados preparou o caminho de Cristo; Deus estava com eles antes do anúncio do Evangelho.
Domingo de manhã cedo, partimos para ver o nascer do sol enquanto ela nos contava o conto da criação. Como o sol infalivelmente se levanta, infalivelmente a luz de Cristo levanta-se e ajuda-nos a ver a direcção e a orientar os nossos passos.
Hoje, os aborígenes ainda são expulsos das suas terras. 150 comunidades serão fechadas devido à política do governo e aos interesses financeiros que querem apoderar-se das riquezas naturais da sua terra. Auntie Denise reza «Jesus, remember me» (Jesus lembra-te de mim), porque ela sente que o seu povo é esquecido.