Os irmãos vão viver em Cuba
No domingo, vamos recordar o irmão Roger. Será o aniversário da sua morte. E vamos também recordar o 100º aniversário do seu nascimento e o 75º aniversário da sua chegada a Taizé.
Ele deixou-nos como legado as suas principais preocupações: a paz, a partilha, a solidariedade entre os seres humanos. Ele falou de «luta» e de «contemplação»; ele sabia que a bondade de Deus pode transbordar nas nossas vidas através da bondade e da compaixão para com os que estão aflitos.
Através da terra, há novas formas de sofrimento - deslocamento de populações, desastres ambientais, desemprego em massa, violência. Tudo isso exige novas solidariedades. Então, cada um de nós pode perguntar-se: estou disposto a dar as minhas energias para permitir que estas novas solidariedades possam crescer? Estou preparado, sem ficar à espera, para começar com os que me rodeiam?
Durante esta semana, os fóruns e os ateliês são importantes para este questionamento pessoal. Gostava de agradecer a todos os que vieram para nos ajudar a aprofundar esta procura. Encorajam-nos com o vosso compromisso e com as vossas capacidades. Espero que através dos encontros destes dias, vos consigamos também encorajar!
Os sinais de esperança apoiam-nos. Mais e mais iniciativas locais de partilha estão a surgir, por exemplo, com os migrantes. As migrações, que estão a aumentar em todo o lado, vão dar uma nova face às nossas sociedades.
O irmão Roger sempre acolheu refugiados, ainda quando estava sozinho em Taizé, durante a Segunda Guerra Mundial. Estamos felizes por continuarmos a fazê-lo e por termos acolhido recentemente na colina uma família do Iraque.
Outro sinal de esperança é ver a crescente consciência de que todos nós pertencemos à mesma família humana. É verdade que há ainda medo uns dos outros e de estrangeiros, e todos nós experimentamos isso. No entanto, não encontraremos uma solução para esse medo isolando-nos atrás de muros, mas apenas indo ao encontro dos que não conhecemos.
Não terão os cristãos a vocação de promover uma fraternidade universal? Não terá Cristo estendido os braços na cruz para acolher todos os seres humanos?
Estamos gratos por se terem juntado a nós durante esta semana alguns responsáveis de várias Igrejas: D. Manuel Clemente, o Cardeal Patriarca de Lisboa, veio de autocarro com um grupo de jovens portugueses. O Cardeal Monsengwo chegou de mais longe, de Kinshasa, no Congo. Cumprimentamos ambos calorosamente.
Representantes de outras Igrejas vão chegar no domingo. A sua presença é um sinal importante de que estamos no mesmo caminho com toda a Igreja, com todos os que amam a Cristo.
E somos tocados porque entre nós estão pessoas de diferentes religiões. Um rabino judeu e a sua esposa, e alguns muçulmanos já cá estão. Alguns crentes budistas e hindus também virão. Une-nos um compromisso pela paz.
Em todos os países, há muitas pessoas que estão à procurar a paz para a família humana. Vêem a globalização como uma oportunidade para concretizar uma fraternidade universal. Então, uma pergunta se torna mais e mais imperativa; já a referi na última quinta-feira: não será essencial a criação de organismos supranacionais, e até mesmo uma espécie de autoridade universal, que fixe regras que garantam uma maior justiça e mantenham a paz?
Em Taizé, as semanas de Verão permitem-nos viver a fraternidade universal em pequena escala. Vocês, jovens, trazem convosco a vossa bela imaginação. Conseguem concretizar uma partilha entre as diferentes faces da humanidade. No Wanagi Tacanku, à entrada da nossa aldeia, a vossa criatividade torna-se beleza e comunhão entre os povos.
Uma outra parte da herança do irmão Roger consiste em expressarmos a unidade da família humana através da nossa vida comunitária. Para nós, irmãos, é uma alegria virmos de diferentes países e de diferentes continentes. E, nos dias de hoje, pela primeira vez na nossa história, estamos todos juntos. Não temos quartos suficientes e por isso alguns irmãos têm de dormir em tendas.
A partir da próxima semana, alguns irmãos vão partir para os lugares onde vivem, nos diferentes continentes. Neste contexto, quero partilhar convosco uma notícia e pedir as vossas orações para a perspectiva que ela abre. Nós decidimos começar uma fraternidade num país muito amado: em Cuba. Em Setembro, dois irmãos irão viver nesse país para partilharem com simplicidade a vida das pessoas, e também para formarem um lugar de oração e de acolhimento
Temos falado muito sobre solidariedade durante esta semana. O curto texto que receberam à chegada, «Taizé 2015», explica como vamos avançar nos próximos três anos. Guiar-nos-ão três palavras que para o irmão Roger expressam o espírito das bem-aventuranças: alegria, simplicidade e misericórdia.
Para o próximo ano, vai ser esta simples palavra: «misericórdia» - a compaixão de Deus, a compaixão entre os seres humanos.
Para permanecermos fiéis num compromisso é importante irmos até às fontes da solidariedade. O ícone que vemos na parte da frente da Igreja pode ajudar-nos. É o ícone da misericórdia. Ao olharmos para ele, acolhemos a misericórdia de Cristo e dâmo-la aos que estão feridos. Por vezes, nós mesmos somos quem está ferido. Cada um de nós é convidado a ajudar e a dar, mas também a aceitar ser ajudado e a receber.
Nós não estamos sozinhos a seguir a Cristo. A peregrinação de confiança continua. Os encontros em Taizé e em outros lugares vão ajudar-nos, especialmente o Encontro Europeu de Valência, em Espanha, no final de Dezembro, e o Encontro Africano em Cotonou, no Benin, em Setembro de 2016. Estamos muito felizes por sermos acolhidos em África.
Uma última palavra. Eu gostaria de expressar a nossa profunda comunhão com os jovens reunidos em Tlemcen, na Argélia. Há dez anos que, todos os Verões, os jovens têm vindo a organizar ali duas semanas de encontros com os mesmos temas que em Taizé. São na sua maioria estudantes, vindos de toda a África. O encontro é um sinal claro de esperança para o futuro do continente Africano.