A vida em Taizé
A festa dos povos
As orações comunitárias
A vida em Taizé
Aqueceu-me o coração participar nesta semana histórica em Taizé. Na comunidade, pudemos sentir um certo entusiasmo e uma grande alegria e, ao mesmo tempo, um sentimento de paz e de nostalgia. Pudemos sentir claramente a presença do irmão Roger e foi muito belo ver todos os irmãos de Taizé presentes e unidos em seu nome. Milhares de jovens adoptaram um novo olhar sobre a vida, enriquecendo assim a sua e a dos outros. Foi tocante sentir que a sua herança continua e que o seu espírito permanece sempre vivo no seio da comunidade. E que o Espírito Santo de comunhão e de hospitalidade é mais forte do que nunca. Alegria, simplicidade, misericórdia e fé são os fundamentos de Taizé.
O que me impressionou ao chegar a Taizé foi a unidade que encontrámos entre os milhares de jovens vindos de todos os continentes. Ao longo de todo o ano, sinto-me facilmente atacada pelo mundo exterior, pela actualidade: a guerra, os conflitos inter-religiosos...Contudo, aqui em Taizé, estamos todos juntos no espírito da partilha e da paz. No ano passado, estava muito impressionada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Tive a sensação de que a União Europeia, afinal, era apenas uma utopia. Mas, ao vir a Taizé, dei-me conta que a Europa estava aqui unida, cantando e rezando pela paz. Taizé, um local onde russos e ucranianos conversam, brincam, riem em conjunto, sem ódio, sem violência...um lugar de paz e de comunhão que nos permite manter a confiança no futuro, apesar das dificuldades.
Esta semana, recordei-me de uma das minhas passagens preferidas da Bíblia: »Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o SENHOR requer de ti: nada mais do que praticares a justiça,
amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus» (Miqueias 6,8)
Para mim, esta passagem resumem bem as nossas tentativas para compreender e definir «a solidariedade» ao longo da semana. Das conversas com os outros e dos encontros com os intervenientes, resultaram numerosas ideias, como, por exemplo, a de ser mais acolhedor, não pensar unicamente no seu próprio conforto, manifestar-se a boa voz pelos outros e contra os preconceitos, lutar pela igualdade e pela justiça.
Mas como podemos fazê-lo? Enquanto caminharmos humildemente com o Senhor num mundo onde muito nos é dado por acaso, de acordo com as circunstâncias, seremos capazes de fazer face ao desafio de não viver apenas de forma justa, mas deixando o nosso coração falar com sensibilidade e lealdade? Se sim, talvez possamos, então, caminhar rumo a uma nova solidariedade.
Ao longo da semana consagrada às novas solidariedades, foi uma maravilhosa surpresa ver milhares de pessoas, especialmente jovens de diferentes país, diferentes confissões e até mesmo de diferentes religiões, cantar e rezar juntos na igreja. É assim que imagino o reino de Deus. Os ateliês falaram de misericórdia, a alegria e a simplicidade e eram animados por diferentes intervenientes, jovens ou menos jovens. Isso permitiu-me compreender a necessidade real destas três palavras na minha vida a fim de construir uma nova solidariedade.
A festa dos povos
Jovens músicos do mundo inteiro partilharam os seus talentos ao longo da «festa dos povos». Gostei verdadeiramente da prestação de Yeram, uma voluntária da Coreia do Sul, vestida com os trajes tradicionais coreanos, muito coloridos, que deslumbrou com a sua voz sublime e tocante com três cânticos muito alegres.
Existem muitas coisas que podem unir as pessoas apesar das suas diferenças, e a arte é uma delas. Durante esta semana especial, foi organizada em cada dia uma «festa dos povos». Pessoas isoladas ou em grupos que nos convidaram a descobrir o seu pais e a sua cultura, foi uma experiência cativante. Os participantes nestes encontros interpretaram fragmentos de composições musicais com diferentes instrumentos para nós: não eram celebridades mas, na nossa perspectiva, a prestação deles foi de tirar o fôlego.
Vasyl, da Ucrânia, e Sasha, da Rússia, felicitaram-se mutuamente pelos seus talentos. Sacha tocou o acordeão e Vasyl cantou um tango ucraniano. Foi muito tocante – um momento muito especial de profunda unidade.
As orações comunitárias
Estarmos juntos em silêncio é uma das formas mais profundas para comunicar uns com os outros. No entanto, fazemo-lo muito raramente porque a maioria de nós tem vidas muito ocupadas. No domingo, dia 16 de Agosto, a meia hora de silêncio a meio do dia criou uma atmosfera de paz e de unidade entre as pessoas presentes na Igreja de Taizé. Para mim, foi o ponto culminante das celebrações do fim-de-semana.
Impressionou-me muito ver os diferentes responsáveis religiosos unidos pela oração, para além da atitude, por vezes tão humana, de não sentir em segurança quando divididos em pequenas congregações, em luta contra o «estrangeiro». É incrível a revolução de Taizé: a diferença não nos restringe, mas, sim, une-nos. Todas as nacionalidades, culturas línguas e confissões da Igreja unem-se como uma comunidade, fortificada pelo canto e pela oração.
O que mais gostei nesta semana especial foi o encontro com os representantes das diferentes igrejas no jardim dos irmãos. Foi muito comovedor ser testemunho deste momento alto quando, dez anos após a morte do irmão Roger, pessoas de todas as idades, do mundo inteiro e de diferentes confissões reunidas para falar da unidade e de comunhão na Igreja.