Saudação
Dirijo uma cordial saudação a todos os que, através da televisão, estão nesta manhã a rezar connosco, os irmãos de Taizé, e com os milhares de jovens reunidos na nossa colina. Estamos felizes por se poderem associar à nossa oração de louvor. Em Agosto, celebramos três aniversários: o 100º aniversário do nascimento do irmão Roger, nosso fundador, o 10º aniversário da sua morte e os 75 anos da fundação de nossa Comunidade.
Meditação
A história do Evangelho de hoje acontece um dia depois de Jesus ter multiplicado alguns pães para alimentar uma multidão. Esta multidão está agora à procura de Jesus e acaba por encontrá-lo. Contudo, a multidão encontra-o não onde pensava que ele haveria de estar, mas «na outra margem», diz o Evangelho.
Então Jesus explica que, para procurá-lo, eles devem não apenas mudar de margem no lago, mas também mudar a maneira de pensar. Não devem procurá-lo por estarem com fome nem por terem visto no dia anterior o que ele fora capaz de fazer, ao alimentá-los a todos. Devem procurá-lo porque ele pode saciar todas as suas fomes e todas as suas sedes mais profundas, ele que é o pão da vida. É por isso que ele lhes diz estas palavras misteriosas: «Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede».
Para nós, que também estamos famintos e sedentos, a ansiar pela cura dos nossos corpos ou do nosso coração, ou à espera de um amor para sempre que encha as nossas vidas, ou de um consolo que alivie a nossa dor, como encontrar o pão que realmente sacia as nossas fomes?
Durante a vida de Jesus, as pessoas podiam procurá-lo e encontrá-lo pessoalmente. Hoje, podemos procurá-lo e encontrá-lo numa comunhão pessoal com ele, porque, ressuscitado, ele permanece perto de nós através do seu Espírito Santo.
Mas para descobrir esta comunhão pessoal com ele, também nós devemos mudar de margem, mudar a nossa maneira de pensar. Onde é que ele está? Ele encontra-se nos humildes acontecimentos da nossa vida diária. Quando lemos uma palavra do Evangelho, é a ele que encontramos. Quando nos reunimos em seu nome, ele está invisível no meio de nós. Na Eucaristia é o dom de si mesmo, o pão da vida, que recebemos.
E ele também está presente quando se cumpre um gesto de amor e de solidariedade. Gostaria de me deter um pouco sobre isto.
Como recordei no início desta celebração, este é um ano de aniversários para a nossa Comunidade. Para esta ocasião, foi pintado um ícone, o ícone da misericórdia. Ele mostra Cristo misericordioso, através da história do Bom Samaritano. Com os jovens, gostaríamos de nos deixar inspirar por esta parábola, porque hoje por toda a terra novos problemas, novas solidões, deslocamentos da população, desastres ecológicos, desemprego em massa, violência, tudo isso reclama novas solidariedades.
Então, dizemos a nós mesmos: durante o próximo ano, para implementar estas novas solidariedades, redescubramos a misericórdia de Deus e também a bondade humana. Elas são mais profundas do que o mal!
Olhemos para o ícone de misericórdia. Se estamos entre os que dedicam as suas forças para ir em auxílio do próximo, saibamos que Cristo está presente no homem ferido e abandonado à beira da estrada, à espera da nossa compaixão. Sim, Cristo está presente, principalmente, naqueles que são mais pobres do que nós. Ele mesmo sublinhou isso: «Eu estava com fome e deste-me de comer».
Se nós mesmos estamos a passar por uma provação, seja ela qual for, como o homem da parábola, Cristo está presente. O seu olhar de bondade pode revelar-se através de uma pessoa que simplesmente se aproxima de nós. Ele cuida de nós como de toda a humanidade. Ele é o pão da vida que sacia a nossa fome.
Esta manhã, Jesus diz-nos: «Eu sou o pão da vida». Ao celebrarmos a Eucaristia abrimos as portas a Cristo, para que a sua presença de amor alimente as nossas vidas. A Eucaristia convida-nos à solidariedade para com os que nos são confiados, para que, através de nós, a presença de Cristo aja no mundo. A Eucaristia leva-nos a ir como Jesus até ao extremo do amor, até amar como ele amou.