Segunda-feira 28 de Dezembro | Introdução bíblica do irmão Kombo sobre Mateus 2,1-12
O primeiro capítulo do Evangelho de Mateus apresenta a genealogia da família de Jesus. Mateus quer mostrar-nos que Jesus descende em linha directa do rei David.
No capítulo 2 temos o relato dos magos que vêm do Oriente. Mateus não dá quaisquer detalhes sobre estas pessoas. Eram provavelmente astrólogos ou homens sábios que tentavam compreender os acontecimentos olhando para as estrelas. Estes magos, que não eram Judeus, viram uma estrela diferente que nascia a Oriente e, acharam que tinha um significado especial, por isso partiram para o local onde o rei deveria nascer.
No livro do Apocalipse lemos: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos anunciar todas estas coisas acerca das igrejas: Eu sou o descendente e a estirpe de David. Eu sou a brilhante estrela da manhã.” (Ap 22,16) Esta luz espiritual que nasce para iluminar os corações dos seres humanos também é referida na segunda carta de São Pedro: “E temos assim mais confirmada a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro, até que o dia desponte e a estrela da manhã nasça nos vossos corações.” (2 Pe 1,19)
Nos tempos conturbados em que vivemos, estas palavras são como que um convite para que não nos deixemos desencorajar. Há um ditado que diz: "Por muito longa que seja a noite, o sol nasce sempre.” O mesmo sol que ilumina outros locais e pessoas, mesmo que algumas vivam momentos difíceis, acabará por nos iluminar também.
Voltemos à história dos Magos. Vêm a Jerusalém dar a notícia do nascimento de um novo rei e para o adorar. Compreendemos assim que a salvação de Deus se estende a todos os povos. Deus pode escolher seja quem for que Ele queira para enviar em missão. Como diz o profeta Isaías, “Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova, e que proclama a salvação! Que diz a Sião: O rei é o teu Deus!” (Is 52,7)
Quando os magos chegaram a Jerusalém, depois da sua longa viagem, imagino que tenham ficado muito surpreendidos ao perceber que muitas pessoas não sabiam que um rei estava para chegar. A mensagem dos Magos criou uma certa confusão. O Rei Herodes vê nesta criança um potencial rival e as pessoas que, em princípio, deveriam ficar radiantes com a vinda do novo rei, ficam confusas. Será que todos temem as consequências desta revelação?
Para localizar o recém-nascido Rei dos Judeus, os Magos são enviados a Belém e quando o encontram lá, adoram-no e oferecem-lhe presentes. A sua missão está cumprida, terminada.
O irmão Alois escreveu na sua mensagem para 2021: “Na situação actual, marcada pela pandemia, assistimos a um aumento da precariedade em vastas regiões do mundo. São necessárias de decisões políticas corajosas, mas a solidariedade e a amizade social que todos podemos viver são igualmente essenciais. Muitos estão prontos para servir os outros. A sua generosidade lembra-nos que a entreajuda abre um caminho para o futuro.”
Neste excerto, há dois conceitos importantes: solidariedade e amizade social. A solidariedade para com os outros consiste em descobrir em conjunto sinais de esperança, iniciativas pessoais de comunitárias que possam ajudar outros. Que as nossas próprias iniciativas pessoais e comunitárias possam ajudar outros a ultrapassar as suas dificuldades. Mesmo que pensemos que as nossas acções e recursos são muito limitados, é importante perseverarmos porque o mais importante é não desistirmos a meio do caminho. Se Deus dá uma missão a alguém, Deus é suficientemente poderoso para a levar a cabo.
O profeta Isaías escreve: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles.” (Is. 9, 1)
A pandemia causou um grande sofrimento no mundo. É como se o nosso mundo estivesse a passar por um túnel escuro, mas no fundo do túnel, tal como Isaías diz, há luz. Que alegria viveremos no dia em que pudermos agradecer a Deus termos deixado a escuridão para trás. Sejamos corajosos. Não desistam!
"Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo.” (Rm 15,13)
Terça-feira 29 de Dezembro | Introdução bíblica da irmã Sietske, das irmãs de Santo André, sobre Lucas 10,25-37
A história que acabámos de ler é um diálogo entre Jesus e um doutor da Lei. Este doutor da Lei é um homem sábio e inteligente. Estudou a Lei e sabe ser um bom Judeu. Pergunto-me o que ele terá pensado acerca das palavras de Jesus num versículo anterior deste capítulo, quando Jesus diz que “estas coisas”, um certo conhecimento sobre Deus está escondido para os sábios e inteligentes... (Lc 10,21).
A pergunta do doutor da Lei “quem é o meu próximo?” dá a impressão que para ele a humanidade se divide entre próximos e não-próximos. Entre "nós" e "os outros". Será que o doutor da Lei está a pedir a Jesus uma regra para saber quem ele deve ou não amar? Podem ter reparado que Jesus não entra nesta discussão. A sua parábola não responde directamente à pergunta, porque não é uma boa pergunta.
Então, o que é que Jesus tenta dizer ao doutor da Lei? Vamos olhar mais atentamente para as personagens da parábola. O sacerdote e o Levita são Judeus religiosos, que servem a Deus no Templo. Conhecem a Lei e a sua religião. Os Samaritanos são considerados heréticos porque não observam a Lei. Os três passam pelo mesmo homem ferido.
O sacerdote e o Levita vêem-no mas escolhem ignorá-lo. A sua abordagem intelectual da religião e da Lei faz com que vejam a vítima apenas como um risco de se tornarem impuros aos olhos da Lei. Os seus olhos e os seus corações estão cegos ao sofrimento deste homem.
Mas o Samaritano ’encheu-se de compaixão’. E a palavra que é usada em grego indica que ele não está só ’com pena’. É muito mais do que isso: é algo que reage dentro dele, a dor do outro não o deixa frio que nem uma pedra. É um sentimento forte de compaixão.
Literalmente, "com-paixão" significa tomar parte no sofrimento do outro. A compaixão não é algo da mente, é algo que vem do mais profundo do nosso ser. Faz com que o Samaritano veja com os olhos do coração. Ele vê um ser humano igual a ele, não apenas alguém que está meio-morto, mas principalmente alguém que ainda está vivo! A compaixão faz com que veja também as necessidades do homem ferido.
E mais ainda, ele sente-se responsável pelo bem-estar do outro, e esta responsabilidade leva-o a agir. Ele responde de forma espontânea ao que ele vê, fazendo o que ele acha que é necessário. Ele dá o seu tempo e faz o que pode, sem se importar com as consequências para si próprio. E descobrimos que não o faz sozinho. Pede ajuda ao estalajadeiro. Juntos, prestam ao homem ferido os cuidados de que ele precisa. Resumindo, a compaixão é isto: ver, sentir, agir. Literalmente aproximar-se do outro. Sim, a compaixão faz toda a diferença.
É provavelmente muito incómodo para os Judeus ouvirem que foi um Samaritano que mostrou compaixão e que se aproximou do homem ferido. Mas ao chamar ao Samaritano «O que usou de misericórdia para com ele», o doutor da Lei mostra que compreendeu que ser próximo não depende de quem se é. Através da pergunta de Jesus que conclui esta parábola, compreendemos que o que importa é, como nos podemos tornar o próximo dos outros e como amamos.
Mais ainda há mais uma coisa. Algo que, na minha opinião, tem a ver com a questão inicial do doutor da Lei: ’quem é o meu próximo’: o homem ferido é completamente anónimo. Não sabemos quem é nem de onde vem. Podia ser outro sacerdote, outro Samaritano, podia ser outro bandido, uma amigo ou um inimigo, podia ser qualquer um. Para o Samaritano a sua identidade não é importante, ele simplesmente o reconhece como seu irmão. A compaixão não se importa com as diferenças entre as pessoas e por isso consegue erguer pontes.
Por isso o convite que Jesus nos lança neste texto é duplo: primeiro, tornarmo-nos próximos. E em segundo lugar, tornarmo-nos próximos de qualquer um. Descobrimos nesta parábola que ser um sacerdote ou um Levita ou saber muito sobre fé ou teologia, não significa automaticamente que saibamos amar os outros! Através de todo o seu diálogo com Jesus, vemos que o inteligente doutor da Lei descobre como a compaixão é a chave para compreender bem o mandamento de “amar a Deus e ao seu próximo como a si próprio”.
Ele compreende que sem compaixão, receber a vida eterna vai ser difícil… Talvez seja a compaixão, este ver com o coração, que faz com que os pequeninos e os pobres de espírito compreendam coisas que is sábios e eruditos não conseguem compreender…?
Terça-feira 29 de Dezembro | Meditação do irmão Alois durante a oração da noite
Há um ano fomos calorosamente acolhidos em Wrocław, na Polónia, e tínhamos marcado encontro para o 43º Encontro Europeu em Turim, em Itália. No entanto, devido à pandemia de Covid-19, depressa se tornou claro que tínhamos de adiar esse Encontro por um ano.
Os meios de comunicação permitem-nos porém viver, nestes dias, um Encontro em linha. Há grupos que se reúnem em mais de 150 locais em todo o mundo, graças a iniciativas muito pequenas ou maiores, como na Bolívia, no Camboja, no Chade, na Lituânia e noutros países.
Desta forma, estamos em comunhão com pessoas de todo o mundo, que nos estão a ouvir e a ver-nos neste momento: saúdo-vos a todos muito calorosamente.
Por ocasião deste Encontro Online, publiquei um texto antes do Natal que certamente poderão ler nestes dias. Tem como título “Manter a esperança em tempo propício e fora dele - Uma Mensagem para 2021”.
No início do texto, falo das grandes incertezas de tantas pessoas, especialmente na vossa geração mais jovem, face a um futuro que parece tão instável e por vezes muito sombrio.
Esta pandemia revela as profundas fragilidades da nossa humanidade. Muitos foram tocados pela doença, pela provação da morte de um ente querido ou também pela solidão. E para muitos, talvez até para alguns de vocês, as restrições têm sido difíceis de viver.
Ao mesmo tempo, também constatamos que há muitos gestos de solidariedade e de generosidade. Talvez pudéssemos estar ainda mais atentos a eles: mesmo nas provações que atravessamos, é por vezes possível discernir razões para ter esperança, como uma força que nos é dada no meio da fragilidade.
Há muitas testemunhas de solidariedade. Eles ajudam-nos a acreditar que Deus não nos está a abandonar na provação actual. Com todo o meu coração, espero que o nosso Encontro reforce em nós esta confiança. Em Jesus, a Palavra de Deus fez-se carne, ele partilhou a nossa vida. Deus conhece os nossos sofrimentos.
A esperança segundo o Evangelho, longe de ser uma confiança ingénua, é um convite a mudar o nosso olhar, a reavivar esta confiança que nos vem de Cristo: ele partilhou a nossa condição humana até ao extremo sofrimento da cruz, abrindo assim um caminho de vida.
Através da sua ressurreição, Cristo abre-nos um novo horizonte, para além das catástrofes sanitárias e ambientais que tão pesadas são sobre a nossa humanidade. Seremos capazes de discernir este novo horizonte?
Rezemos nestes dias uns pelos outros. No limiar do Ano Novo, procuremos dar um lugar especial na nossa oração aos que sofrem da Covid e de outras doenças, aos que vivem na precariedade ou no isolamento, às crianças que sofrem, a todos os que são vítimas de violência ou de guerra, aos exilados e refugiados.
Com a sua carta encíclica “Fratelli tutti”, o Papa Francisco encoraja-nos imenso. E se eu pudesse expressar um desejo para este Encontro que estamos a viver nestes dias, seria o seguinte: que esta experiência de comunhão e partilha, no meio dos pesados desafios do momento, nos faça tomar consciência de que somos uma só família humana, de que precisamos uns dos outros.
Duas crianças:
- Gostaríamos de agradecer àqueles que tornaram este Encontro possível, especialmente aos oradores nos ateliês da tarde.
- Obrigada aos jovens voluntários que prepararam o Encontro.
- Saudamos calorosamente os líderes das Igrejas e a Presidente da Comissão Europeia que enviaram mensagens de saudação e amizade.
- Boa noite a todos aqueles que nos seguem em África, nas Américas, na Ásia, na Oceânia e na Europa.
Quarta-feira 30 de Dezembro | Introdução bíblica do irmão Richard sobre João 14,15-24
Jesus sabia que a sua morte violenta seria um choque terrível para os seus amigos. As suas palavras e acções tinham fortalecido a esperança que tinham numa presença tangível de Deus, um Deus que cuida, que traz justiça e paz, que protege.
Mas Deus não protegeu Jesus da morte. Aqueles que o tinham seguido ficaram sozinhos, como órfãos. Jesus já lá não está para cuidar deles. E onde está Deus, se nem mesmo Jesus Ele ajudou?
Hoje, podemos sentir-nos ainda mais perdidos. Para os companheiros de Jesus, o céu ainda era a morada de Deus. Para nós, o universo é um infinito frio e anónimo. Eles acreditavam que Deus mantinha a ordem na criação. Nós temos que nos arranjar para salvar o planeta.
E, no entanto, somos convidados a confiar, a confiar "numa presença que é elusiva e, no entanto, tão real", como diz a mensagem "ter esperança em tempo propício e fora dele". Para preparar os amigos para uma presença de Deus que ainda era desconhecida, Jesus fez-lhes três promessas.
Primeiro, prometeu que Deus dará o Espírito Santo, "outro ajudante", como disse, "para estar sempre convosco". Um "outro ajudante" significa um outro como Jesus. Mas o Espírito também é diferente. Toda a gente conseguia ver Jesus, ouvi-lo, tocá-lo. Mas o Espírito é invisível. Jesus comparou-o ao vento: "ele sopra onde lhe agrada". E, no entanto, é Jesus de Nazaré que o Espírito Santo faz presente.
Segundo, Jesus prometeu a sua própria vinda: "Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós." Reparem no tempo: "Eu voltarei". A vinda de Jesus é como a presença do Espírito Santo. Vivo em Deus, Jesus deixa de estar vinculado ao espaço e ao tempo. Ele vem todos os dias, a todas as horas, de cada vez que respiramos.
E, em terceiro lugar, Jesus prometeu a presença de Deus. Deus vem com Ele. Jesus disse: “Nós viremos aos crentes e neles faremos morada." O céu nas alturas e Jerusalém na terra eram considerados moradas de Deus. Agora Deus e Jesus também habitam nas frágeis existências humanas.
“Nesse dia”, disse Jesus, “compreendereis que Eu estou no meu Pai, e vós em mim, e Eu em vós.” Ele usou exactamente a mesma frase para expressar a Sua unidade com Deus e a nossa unidade com Ele: "Eu estou no Pai" – "vós estais em mim".
Embora Jesus tenha vivido na terra como um de nós, não podemos conhecê-lo como um entre os demais pois Ele é a nossa vida: "nós estamos n’Ele". E não podemos conhecê-lo a partir do exterior, uma vez que Ele vive dentro de nós: "Estou em vós."
Muitas vezes, não temos consciência da presença de Deus porque ela é demasiado real, demasiado evidente. Nós vivemos em Deus, tal como os peixes nadam no oceano e os pássaros são transportados pelo ar.
Um dos companheiros de Jesus perguntou-lhe porque é que a Sua presença seria tão elusiva que poucos se conseguiriam aperceber dela. Jesus respondeu: “quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.” Deus não é um facto, Deus é amor. Sem amor, não se pode ter conhecimento de Jesus vivo em Deus.
A presença elusiva de Deus torna-se certa quando amamos, quando guardamos o mandamento: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei." Naquela última noite, quando Jesus disse estas coisas aos seus amigos e lhes começou a explicar o mistério de Deus, a primeira coisa que fez foi inclinar-se e lavar-lhes os pés.
Quinta-feira 28 de Dezembro | Introdução bíblica do irmão John sobre o Salmo 96
Todos nós nos perguntamos, de vez em quando: qual é a utilidade da oração? Jesus diz-nos que Deus sabe do que precisamos mesmo antes de lho pedirmos. E, contudo, ao mesmo tempo, diz-nos: "Pedi e receberás." E quanto às orações de louvor e de agradecimento: que diferença podem fazer a Deus os cânticos que entoamos? Deus precisa do nosso apreço?
Para responder a estas questões, precisamos de compreender mais profundamente quem é Deus e em que é que consiste o amor de Deus. A Bíblia revela-nos um Deus que se preocupa e tem compaixão, que é cheio de um amor fiel pela sua criação. E o Evangelho vai ainda mais longe: nele, aprendemos que Deus É amor.
Mas o que é o amor? Com certeza que o amor verdadeiro significa dar de nós próprios, cuidar dos outros e responder às suas necessidades. Sim, tudo isso é importante, mas não vai tão longe quanto necessário.
O amor divino, o amor de Deus vai ainda mais longe: quer fazer daquele que amamos um verdadeiro companheiro, para que se torne possível uma relação autêntica. Não quer manter o outro num estado de passividade ou de imaturidade, limitando-se a fazer coisas por nós. Quer elevar aquele que amamos a um estado em que possa de facto responder ao amor que lhe foi dado amando em troca.
Podemos encontrar um pouco disto nas nossas vidas. Os pais que dão aos filhos tudo aquilo de que precisam ou querem podem mantê-los num estado de imaturidade e dependência.
Os pais que amam verdadeiramente os seus filhos querem que eles cresçam, para que sejam capazes de tomar as suas próprias decisões e para que sejam capazes de, por sua vez, transmitir aos outros o amor que receberam, talvez um dia aos seus próprios filhos.
Na sua primeira carta, S. João fala duas vezes de um amor que "atingiu a perfeição" (1 Jo 2,5; 4,17). Com isso quer dizer um amor que transforma aquele que é amado num ser capaz de responder ele próprio com amor. O objectivo do amor de Deus, por incrível que pareça, é transformar-nos em seres que estão ao mesmo nível, seres capazes de amar como Deus ama. É por isso que João fala sempre em "amar uns aos outros"; para ele, o amor perfeito nunca pode ser uma rua de sentido único.
Este é o sentido da oração cristã: fechar o círculo, devolver a Deus o que Deus nos deu. Podemos fazê-lo pedindo activamente aquilo de que precisamos, dessa forma, usamos a nossa inteligência para colaborar com Deus. E – ainda mais importante – fechamos o círculo, agradecendo e louvando a Deus pelo que recebemos. Deste modo, os nossos dons não permanecem estéreis, mas antes dão fruto nas nossas vidas.
Na leitura que ouvimos esta manhã, vemos este tipo de oração na vida do próprio Jesus.
Jesus abençoa seu “Abba” (pai) pela bênção recebida. E esta bênção é essencialmente que o Pai concedeu uma relação com Ele não àqueles que são extraordinários em termos humanos, mas aos "pequeninos", àqueles que são "gentis e humildes de coração" como Jesus, àqueles que são capazes de receber.
Então, do mais profundo da condição humana, Jesus deixa subir uma oração a Deus, criando uma comunhão entre Deus e a Sua criação. É por isso que o salmo que hoje cantámos, o Salmo 96, se chama “Cântico novo": "Cantai ao Senhor um cântico novo; cantai ao Senhor terra inteira!"
Este cântico é novo não porque as palavras sejam diferentes, nunca antes ouvidas, mas porque nasce da coisa nova que Deus faz em Jesus, enviando o seu Espírito Santo para voltar a dar vida a todas as coisas. A Bíblia às vezes chama a isto a "nova criação".
O salmo convida não só os seres humanos, mas o céu, a terra e o mar e tudo o que neles existe a louvar a Deus pelo que Deus fez. Retrata um mundo onde o céu e a terra estão unidos num vínculo indestrutível. Esse vínculo já foi proclamado pelos anjos no nascimento de Jesus: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado” (Lucas 2,14).
Mas, para que esta corrente de louvor ligue o céu e a terra, cabe-nos a nós cuidar da criação.
Como diz a carta do irmão Alois para 2021, "Não queremos proteger a criação apenas porque precisamos dela para podermos existir, mas porque fazemos parte dela e porque os belos desígnios de Deus se estendem a tudo o que vive." Aqui podemos vislumbrar a unidade entre a nossa oração e a nossa actividade no mundo.
Quando rezamos, devolvemos a Deus o que Ele nos deu. Quando ajudamos e servimos os outros, permitimos que as suas vidas engrandeçam o Senhor. Quando agimos para tornar o mundo um lugar melhor, cuidando da criação, permitimos que ela glorifique a Deus.
Através da nossa oração e da nossa acção, ajudamos o universo a cumprir a sua vocação, a razão pela qual existe: espelhar a bondade inimaginável de Deus.