A procura da paz e da reconciliação na família humana está inscrita no mais profundo da vocação da Comunidade de Taizé. A Comunidade anima há trinta anos uma «Peregrinação de Confiança através da Terra», que já reuniu várias gerações de jovens de todos os continentes.
Reunidos em Bruxelas para uma etapa desta peregrinação, de 29 de Dezembro de 2008 a 2 de Janeiro de 2009, 40 000 jovens de toda a Europa gostariam de revigorar a intuição e o entusiasmo do início da construção europeia: concretizar a reconciliação entre os povos, pondo em comum os seus recursos e as suas especificidades.
A construção europeia: uma aventura sem precedentes
A Europa conseguiu abrir um período de paz sem precedentes na sua história. O caminho percorrido desperta uma enorme esperança noutras regiões do mundo. Depois de tantas fracturas, a paz é um bem inestimável. No entanto, ela nunca é adquirida de uma vez para sempre: cada geração precisa de a construir.
Não ceder ao desalento
As instituições europeias são por vezes vistas hoje com incompreensão e com um certo desalento. Contudo, elas são indispensáveis para assegurar uma continuidade na construção da paz no continente. Mas elas não se devem substituir a uma assunção de responsabilidades por cada camada da sociedade europeia. [1] Por seu lado, os responsáveis nacionais podem apoiar um novo impulso renunciando a designar injustamente, na hora das decisões difíceis, as instituições europeias como o «bode expiatório».
A mundialização da solidariedade
A construção da Europa apenas encontra o seu sentido integral se se mostrar solidária com os outros continentes e com os povos mais pobres. Estes povos evoluem muito rapidamente. A situação actual exige um novo esforço de compreensão para adaptar as instituições e os mecanismos europeus de auxílio.
Muitos jovens pedem que à mundialização da economia se associe uma mundialização da solidariedade. Será que o objectivo de uma prosperidade partilhada não apela os países ricos a manifestar mais generosidade, simultaneamente através de investimentos a favor dos países em vias de desenvolvimento e de um acolhimento digno e responsável proporcionado aos imigrantes vindos destes países?
Multiplicando as relações pessoais através do seu próprio continente, muitos jovens já adquiriram uma consciência europeia. Esta consciência não implica abandonar as especificidades de cada povo ou de cada região, mas sim realizar uma partilha de dons no respeito da diversidade. Iniciativas como um serviço cívico europeu hão-de aprofundar um conhecimento mútuo entre povos e regiões.
A crise financeira actual
A crise financeira actual mostra que, sem seguir normas éticas, a economia não se pode desenvolver sustentavelmente. Esta crise pode tornar-se numa oportunidade se nos levar a procurar as prioridades na construção da sociedade mundial: que tipo de desenvolvimento procuramos? Que tipo de desenvolvimento é possível, respeitando os recursos limitados do nosso planeta?
Quanto mais complexo se torna o sistema económico e financeiro mundial mais se impõe a necessidade de uma coordenação e de uma regulação, com vista ao bem comum de toda a família humana. Instâncias supranacionais, que determinem regras assegurando mais justiça, são agora indispensáveis. [2]
Duas contribuições dos cristãos
O Evangelho encoraja a simplicidade de vida. Convida o crente a dominar os seus próprios desejos para se conseguir limitar, não por constrangimento mas por escolha. [3] A simplicidade escolhida livremente permite que os mais favorecidos resistam à corrida ao supérfluo e contribui à luta contra a pobreza imposta aos mais deserdados.
Apoiar processos de perdão é outro contributo dos cristãos. Estes processos implicam recusar transmitir à próxima geração o rancor relacionado com feridas que permanecem abertas: não se trata de esquecer um passado doloroso, mas sim de curar a memória pelo perdão, de interromper a cadeia que faz subsistir ressentimentos. Sem perdão não há futuro para as sociedades. O fantástico impulso que está na origem da construção europeia nasceu em grande parte desta convicção. [4]
Todos podem participar numa civilização marcada não pela desconfiança mas pela confiança. Na história, por vezes bastaram algumas pessoas para fazer inclinar a balança no sentido da paz. [5]