No início da Primavera, um irmão e um amigo da comunidade visitaram durante duas semanas os cristãos da Argélia. Os contactos da Comunidade de Taizé com este país do Magreb não são de ontem: ainda antes da independência de 1962, um pequeno grupo de irmãos vivia em fraternidade num bairro pobre da capital.
O objectivo desta visita inscrevia-se, pois, numa certa continuidade, pela qual procurámos, em conjunto com a Igreja da Argélia, as fontes da confiança no Senhor e os sinais de esperança nas situações por vezes muito complexas e difíceis que os cristãos deste país vivem. Mas a continuidade foi também muito palpável em relação ao que foi vivido quando do encontro de jovens em Nairobi, no Quénia, graças, entre outras coisas, à presença de jovens africanos subsaarianos que estudam na Argélia. Os tempos fortes da visita foram as reflexões de Quaresma organizadas pelos estudantes subsaarianos cristãos e pelos responsáveis pastorais das dioceses visitadas. .
Continuamos marcados por dois aspectos destes pequenos encontros de dois ou três dias em que uma centena de jovens pôde participar de cada vez. Por um lado, houve a expressão espontânea e sincera de uma alegria simples e transbordante que se concretizava quer pelos gestos calorosos de acolhimento quer pelos cânticos e danças que acompanharam as celebrações. Apesar de todas as preocupações e problemas com os quais estes jovens africanos e os seus países são confrontados, eles não perderam o sentido da festa gratuita que se torna expressão de uma alegria partilhada entre pessoas vindas de países muito diferentes e por vezes mesmo em guerra.
Por outro lado, fomos marcados pela capacidade de cada um em ultrapassar obstáculos, durante estes encontros tão curtos mas sempre muito intensos e que exigiam de cada participante um completo investimento. A casa que achávamos ser muito grande para alojar uma dezena de pessoas acolheu o dobro; a cozinha, que estava inicialmente prevista para alguns religiosos, acabou a alimentar uma centena de estudantes esfomeados; e a capela parecia ter crescido para deixar espaço aos cânticos e às danças dos jovens cristãos vindos de mais de vinte países diferentes do continente africano. Ultrapassagem dos nossos medos e ultrapassagem das nossas certezas: eis o que nos está reservado quando aceitamos deixar-nos levar, quando deixamos espaço para o espírito criador. E a vida jorra de onde não se estava à espera.
No meio das mudanças que a Igreja da Argélia vive, a nossa visita permitiu ver em cada etapa os pequenos sinais desta vida que continua em profundidade, como quando vemos o primeiro despontar da Primavera logo que a neve começa a desaparecer. Observámos a precariedade da situação dos que se preparavam para o baptismo, o carácter efémero das comunidades de estudantes e das assembleias de migrantes ou a fragilidade das estruturas da Igreja. Mas vimos sobretudo como cada um, ao seu nível, era convidado a ultrapassar obstáculos para seguir a Deus. A Carta do Quénia cita as palavras de Santo Agostinho, esse cristão do Norte de África: «Tu eras mais interior do que o íntimo de mim mesmo e mais sublime do que o mais sublime de mim mesmo». No regresso da nossa visita, o nosso coração estava cheio de reconhecimento pelo ultrapassar de obstáculos que pudemos observar e viver, em conjunto com os nossos amigos.