Carta de Taizé

Solidariedade com toda a criação

Nesta página publicamos textos sobre o tema do último número da Carta, «Solidariedade com toda a criação». Cada um dos testemunhos comenta uma passagem da «Carta 2012 – Rumo a uma nova solidariedade».

No encontro de Berlim, o irmão Alois convidou os jovens a reflectirem juntos sobre possíveis caminhos «rumo a uma nova solidariedade». Durante estas últimas semanas, em Taizé, um workshop reuniu voluntários e jovens visitantes em torno de uma variação do tema: «Solidariedade com toda a criação – a responsabilidade dos cristãos no mundo de amanhã». Damos aqui eco a estas partilhas: jovens que participaram no workshop, e outros, partilham as percepções das suas experiências pessoais.

Para que uma nova solidariedade entre os homens floresça a todos os níveis, nas famílias, comunidades, cidades, vilas e aldeias, entre países e continentes, são necessárias decisões corajosas. Conscientes dos perigos e dos sofrimentos que pesam sobre a humanidade e sobre o planeta, não gostaríamos de nos deixar tomar pelo medo e pela resignação.
irmão Alois, Carta 2012 – Rumo a uma nova solidariedade

Daniel (Costa Rica)

Toda a criação tem sido um dom para todos os humanos, pela qual Deus nos fez responsáveis. Para mim, isto significa que eu sou co-criador, que sou responsável pelo que lhe acontece: as minhas acções afectarão cada uma das criações de Deus. Isto faz-me comprometer a respeitar, a proteger esta criação e a torná-la mais perene. Submergidos num mundo que constantemente nos fala das consequências das mudanças climáticas, deve crescer em nós um alarme, um abrir de olhos: O que estou a fazer? O que posso fazer?

Por exemplo, temos, na minha comunidade, grandes caixotes do lixo onde podemos colocar materiais recicláveis e, assim, promover a conservação de recursos naturais. Da mesma forma, tento tomar duches menos demorados, de maneira a poupar água. Não são necessárias acções grandes. Podemos fazer pequenas coisas e despertar a consciência dos que se encontram ao nosso redor. Cada parte da obra de Deus tem em si algo d’Ele. Aprendi a encontrar Deus na Sua criação e isso faz-me desejar modificar a minha maneira de observar o que me rodeia, esforçar-me mais na sua protecção e amá-la cada dia mais.


Paulina (Polónia)

Para mim, ser parte da criação de Deus não é apenas um chamamento à gratidão pela vida que me foi dada, mas é, igualmente, um compromisso com a protecção do ambiente. Entendo o gesto da apresentação de todos os animais ao primeiro ser-humano (Génesis 2, 19-20) como um encorajamento à aprendizagem sobre as outras criaturas e, de igual modo, a assumir responsabilidades por elas. Penso que esta é uma dimensão muito importante da dignidade humana e que deveríamos falar mais desta dimensão da nossa vocação cristã.

Sinto-me frequentemente assoberbada pela enormidade do mal que a humanidade está a causar. É difícil para mim ver animais tratados como objectos ou ver uma paisagem danificada. Isso deprime-me e reflicto sobre o que pode fazer para reduzir este impacto. Tento tomar decisões responsáveis na minha vida quotidiana – quando faço compras, quando viajo ou quando vou de férias. Sei que, sozinha, não irei salvar a natureza, mas esse facto não me liberta da minha responsabilidade.


Charles (Índia)

Actualmente, o mundo está sob a ameaça do aquecimento global. De forma a evitar as mudanças climáticas no planeta, todos podemos decidir preservar a natureza de um modo prático. Plantar uma árvore dificilmente será mais do que uma gota de água num solo seco. Porém, se todas as pessoas o fizessem, seria suficiente para proteger o clima do excesso de dióxido de carbono na atmosfera. Como advertiu Mahatma Gandhi: se cortares uma árvore, deves plantar duas para compensar o dano.

Os países ricos, abençoados com recursos naturais, terão sempre água suficiente para beber e para as necessidades higiénicas. Contudo, existem locais no planeta onde as pessoas são obrigadas a esperar pacientemente por água. Por vezes, o abastecimento de água funciona apenas num determinado momento e é necessário reservá-la para tempos complicados. É frequente existir apenas uma torneira de água ou um canal comum para abastecer de água todo um lugar e a sua população e as pessoas esperam em fila durante bastante tempo. Acabar com o desperdício de água, mesmo que a tenhamos em abundância, é um passo em direcção à preservação da natureza.


Duarte (Portugal)

Para mim, ter fé significa ser capaz de reconhecer a presença de Deus em tudo o que existe. Trata-se de entender as leis da natureza como expressão da Sua vontade porque, através delas, Deus criou tudo o que existe, incluindo a Humanidade. Por conseguinte, quando maltratamos a natureza, atentamos também contra a vontade de Deus. Nenhum artista, nenhum criador deseja ver a sua obra destruída. Creio, então, que é nosso dever, enquanto cristãos, esforçarmo-nos para aproximar de novo os humanos do resto da criação. De facto, Deus deu-nos a Terra não para que a possuíssemos, mas, sobretudo, para que a cuidássemos.


Iko (Indonésia)

Quando penso nas preocupações ambientes, entristece-me constatar que os alimentos cuja produção agride a terra são os mais baratos. Obviamente, não possuo meios para consumir exclusivamente alimentos provenientes de agricultura biológica e de comércio justo; mas, em todo o caso, tento não desperdiçar o que compro, separar os resíduo e encorajar todos a consumir de forma responsável de acordo com os meios de que dispõem.

É nosso papel compreender que o mundo que Deus criou como algo bom se tem tornado cada vez menos ao longo dos séculos devido à forma como o tratamos. Se somos cristãos, se queremos viver em solidariedade com toda a criação, temos uma contributo a dar. Muitas pequenas coisas feitas por muitas pessoas podem fazer uma grande diferença.


Théophile (França)

Com os meus amigos estudantes de arquitectura, na Universidade de Nancy, passei uma semana a reflectir sobre as questões do desenvolvimento sustentável. Um grupo partiu ao encontro das comunidades ciganas para saber de que tinham necessidade, a fim de lhes oferecer soluções de melhorias sociais. De facto, em muitos casos, as cidades mostram-se reticentes em as aceitar e acabam por se instalar bastante longe do centro, alojadas em conjunto num lugar rudimentar. É isto que significa ser cidadão? Os meus amigos sugeriram a sua reintegração na rede urbana, em locais variados, para que permaneçam próximas das infra-estruturas de que necessitam: hospitais, mercados, escolas… Procuraram por diferentes espaços onde estes novos pontos de acolhimento pudessem ser estabelecidos e apresentaram um plano muito prático. A arquitectura e o urbanismo são, também, meios de solidariedade humana, ao forçar-nos a reflectir sobre como servir a humanidade tornando mais acolhedores os locais onde vivemos.


Friedemann (Alemanha)

É como humanos, como filhos do Deus único, e não apenas como cristãos, que somos chamados a tratar a Terra e toda a criação de forma responsável. O meu compromisso pessoal com o ambiente não veio da Bíblia mas, sim, da minha fé pessoal e do meu espírito de admiração perante a plenitude e a beleza da natureza. [...]

Quando considero a palavra « Reino » na perspectiva revelada por Deus e por Cristo, compreendo o convite a governar a terra como um apelo a fazer-me tão pequeno como um grão de mostarda, com que o Reino de Deus também é comparado (Marcos 4, 30-34), e colocar em prática o apelo do Génesis com a consciência tranquila. Além disso, sinto-me confirmado por esta passagem: « embaixadores de Cristo » (2 Coríntios 5, 20): não estamos aqui para explorar a Terra; mas, pela nossa posição peculiar na Criação, somos responsáveis por ela e devemos cuidá-la. […]

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