Paris

A Europa alargada respira a Boa Nova

Este Inverno, alguns dias apenas depois da reunião de Copenhaga, que selava definitivamente a entrada na União Europeia de dez novos países da Europa central, cerca de 80 000 jovens de uma Europa ainda maior encontraram-se em Paris para celebrar em conjunto Cristo ressuscitado, aquele que traz a paz.

Talvez mais que nos anos anteriores, o encontro europeu foi notado e carregado de sentido bem para além dos círculos religiosos. «A Europa cristã de Copenhaga em Taizé», «A Europa unida dos jovens cristãos em Taizé». «Os jovens de Taizé farão a Europa», «Paris, capital da confiança» estes eram os títulos de vários jornais franceses de grande tiragem.
Para o observador curioso, a nova geografia da Europa alargada desenhava-se nesse sábado, 28 de Dezembro, de manhã cedo, ao longo das grandes avenidas de Paris. Centenas de autocarros vinham depositar, como uma boa nova, junto ao Parque das exposições da Porte de Versailles e da Gare Montparnasse, a multidão de jovens vindos para essa 25ª etapa da peregrinação de confiança na terra: cerca de 2000 da Sérvia, 4000 da Roménia, 1000 da Ucrânia, várias centenas da Rússia, para citar apenas alguns dos países mais longínquos.
Os que não tinham tido tempo para ler os jornais ficavam espantados ao ver que havia pessoas que cantavam no metro sem pedirem dinheiro. «Porque vieram? O que vêm procurar em Paris nesta altura do ano?»
A resposta não é assim tão simples: o que poderia significar uma «peregrinação de confiança» numa sociedade onde custa imaginar que os sinais tenham a capacidade de transformar o quotidiano?

Não construam a vossa vida com base no medo!

Paul Ricœur, filósofo francês, entrevistado por uma rádio no dia 30 de Dezembro depois de ter vindo à oração da noite, tentava responder a esta questão: «Vivemos num período dominado pelo medo, o medo do terrorismo, da pobreza, de todos os males. E em Taizé não se tem medo. A primeira lição de Taizé, para mim, é: ‘Não temais’, ‘Não construam a vossa vida com base no medo!’ A paz é o fim da luta, é o fim do medo. Vejo nesta união em volta de Taizé uma espécie de avanço profético em relação ao que desejamos ver nas instituições do mundo.»
«Não temais!» Não é só o início de um dos novos cânticos em francês. Foi talvez a primeira frase em francês que tiveram de aprender os jovens voluntários, de mais de uma dezena de nacionalidades, presentes desde Setembro em Paris para preparar o acolhimento com as 350 paróquias da região de Paris, de todas as confissões cristãs. Durante vários meses, centenas de visitas às paróquias faziam eco a essa exortação do Evangelho.
A confiança começa com poucas coisas. Quem teria imaginado, aquando das primeiras visitas em Setembro, encontrar quase 40 000 lugares oferecidos por famílias de acolhimento, apesar de todas as incertezas? Um jovem voluntário conta o seu primeiro anúncio feito no fim da missa de domingo, numa paróquia dos arredores de Paris, para convidar as pessoas a encontrar onde alojar os jovens peregrinos. «Vão chegar 80 000 jovens, talvez mais, não sabemos quantos. Vós não os conheceis, mas é bom acolhê-los e ir visitar famílias que não conheceis para acolherem estes jovens que não conheceis!»
«Avanço profético em relação ao que desejamos ver nas instituições do mundo», como dizia Paul Ricœur… 150 câmaras ofereceram um ou mais ginásios para alojar os que não tinham podido ser recebidos por famílias de acolhimento. Entre elas, câmaras confrontadas quotidianamente com dificuldades sociais da vida das cidades e dos bairros com problemas: em Garges-les-Gonesses, a equipa de preparação, constituída por três raparigas de origem africana e indiana, conta que os polacos ficaram extremamente surpreendidos quando chegaram no dia 28 de Dezembro à paróquia, ao verem que entre as famílias de acolhimento, só uma não era de cor. Perguntaram discretamente a uma senhora da paróquia se todas aquelas pessoas eram francesas, e ainda ficaram mais surpreendidos com a resposta afirmativa. Muitas famílias de acolhimento eram do Sri Lanka, porque as poucas famílias católicas conseguiram mobilizar toda a comunidade, até os hindus.»
O encontro europeu é uma maneira simples de visitar, como se todos fossem vizinhos. Alguns foram sensíveis a esta dimensão de laço social reencontrado.
Durante as manhãs passadas nas paróquias para partilhar os sinais de esperança com as pessoas do bairro, várias equipas de preparação tiveram a ideia de trazer o testemunho do presidente da câmara ou de um conselheiro municipal sobre o seu empenhamento na vida da cidade. Num país marcado tão intensamente por uma ideia tão estrita de laicidade, a iniciativa surpreende. Em Ivry sur Seine, município comunista desde os anos 1930, os quatrocentos jovens acolhidos na zona foram recebidos uma manhã pelo presidente da câmara: «Senti que a Europa dos 25 estava a construir-se. Haverá entre estes jovens ‘decisores’ nos seus respectivos países. Se este encontro de Taizé pode contribuir para uma consciência comum a nível da Europa, isso é importante.»
Ainda em Ivry, os jovens da paróquia católica tinham querido demonstrar de várias formas o empenhamento de homens e mulheres ao serviço dos outros; Kamel, animador de um grupo de teatro composto essencialmente por jovens de origem magrebina, conta: «Acolhemos uns trinta jovens na terça de manhã. A discussão foi apaixonante. Fez com que quinze jovens do nosso grupo tivessem vontade de vir à festa de passagem de ano na paróquia; tudo se passou bem; sentiram-se acolhidos. Nos dias seguintes, falou-se outra vez disso, estavam encantados. Gostaríamos de continuar nesta via e fazer coisas com os jovens da vigararia durante este ano.»
«Por que vieram?» Monsenhor Daucourt, bispo da diocese de Nanterre, responde: «Estes encontros lembram que a Igreja não existe para ela mesma. Existe para o mundo, para ser portadora e sinal dessa comunhão que Jesus quer criar, não só entre os cristãos, mas entre todos os homens do mundo.» Havia em Paris como que uma música festiva, tocada por uma Igreja sem outra pretensão que não a de ser acolhedora e sinal de comunhão. De uma maneira simples, os jovens tiveram essa capacidade de expor a profundidade de uma procura sincera e profunda. Olivier Clément, teólogo ortodoxo, especifica num artigo sobre o encontro de Paris publicado no jornal «La Croix»: «Na perspectiva de Taizé, a Igreja é chamada a tornar-se aquilo que já é em profundidade, a terra dos Vivos.»

Libertar o fundo de bondade

«A paz não é a ausência de guerra, não é um tratado de paz. A paz é um estado de não luta, é a suspensão da luta. É um estado de bondade reconhecida mutuamente, e é isso que se vive em Taizé. Graças a Taizé compreende-se que a função fundamental da religião é de libertar a bondade escondida dos outros, libertar o fundo de bondade, eis o que se deve dizer…» Desta forma continuava Paul Ricœur na mesma entrevista radiofónica.
No coração do encontro situa-se a oração. Retomada três vezes por dia, como uma respiração da Boa Nova, ela prepara os caminhos de paz mais concretos na busca da paz do coração. «Começai em vós a obra da paz, de forma a que, quando vós próprios estiverdes pacificados, possais levar a paz aos outros», já o dizia Santo Ambrósio, bispo de Milão no século VI.
Jean, de uma equipa de preparação em Paris dá o testemunho: «Apesar das numerosas tarefas que cabem à equipa de preparação de uma paróquia, pude libertar-me para viver as orações e as tardes na Porte de Versailles. Se conseguisse resumir estes tempos de oração, utilizaria duas palavras: beleza e simplicidade. A beleza dos pavilhões de oração é tal que se entra facilmente num diálogo com Deus. Os vitrais, as pinturas retomavam este ano motivos da catedral de Chartres ou da Sainte Chapelle. Demos por nós a contar quantas orações nos faltava viver durante o encontro, como uma criança que conta o número de dias de férias que ainda lhe restam antes de voltar à escola.»
O Cardeal Lustiger, arcebispo de Paris, veio uma noite saudar os jovens: «Para a Europa, cujos povos receberam no passado a alegria do Evangelho, eis que sois os mensageiros que Cristo envia. Sarai as feridas do passado. Onde o ódio reinou, mostrai a força do amor. Avançai sem medo em direcção ao futuro.» O Pastor Jean-Arnold de Clermont, Presidente da Federação Protestante de França, participou numa oração da noite e as várias Igrejas ortodoxas da região parisiense associaram-se ao acolhimento dos jovens.
Libertar o fundo de bondade, em si mesmo e nos outros… Durante a tarde havia a proposta de pistas práticas para aprofundar esta reflexão: «Há felicidade para os que respondem ao chamamento de Deus.» «Um desafio do Evangelho: amar os nossos inimigos.» «Deus escolheu não permanecer escondido – um mistério de amor pressentido nos ícones.» «Lutar contra a pobreza nos nossos países.» «Haverá esperança de paz para os nossos dias?» (encontro animado por um especialista em relações internacionais) «A violência atinge os jovens: como reagir?»
Realizaram-se várias iniciativas para ir ao encontro dos que por uma ou outra razão não podiam ou não ousavam ir ao encontro. Visitas a prisões, a casas de retiro e hospitais, encontro com quem cuida dos doentes terminais na casa Jeanne Garnier…
No dia 29 de Dezembro durante a tarde, alguns jovens em Trappes encontram pessoas nómadas, instaladas num acampamento que não era longe da paróquia católica onde as senhoras se costumam encontrar. Aurélie, uma jovem estudante do Este da França, conta: «Quando estava no comboio que ia em direcção a Trappes, surgiram várias questões: costumo chamar, mais familiarmente, ciganos aos nómadas; o seu ritmo de vida é determinado pela viagem em caravanas e sobretudo em família… Mas que mais há para dizer? Serão cristãos? Os filhos irão à escola? São franceses? Do que vivem? Não sei. Creio que o meu único receio era que eles pensassem que vínhamos por curiosidade e não para partilhar um momento das nossas vidas. Finalmente fiquei muito feliz por ter podido descobrir pessoas do meu país que têm um ritmo e sobretudo costumes de vida muito diferentes dos meus, vivendo ao meu lado. Acho muito bonito que cada um de nós tenha arranjado tempo para partilhar um momento das nossas vidas, a partilha foi verdadeiramente recíproca.»
No dia 31, à noite, aquando da última oração comunitária do encontro europeu, diante de 80 000 jovens de todos os países da Europa, e também de outros continentes, o irmão Roger concluía:
«Durante estes dias de encontro, surgiu uma pergunta: Como retomar um novo impulso de forma a continuar o caminho, mais uma vez e sempre? Longe de nos deixarmos habitar pela inquietude, gostaríamos de escutar este apelo que o Evangelho nos dirige a todos: ‘Deixa o desânimo, sim, deixa o desespero, que viva a tua alma!’
Quando há jovens que assumem uma resolução pela paz nas suas próprias vidas, eles apoiam uma esperança que se transmite ao longe e mesmo cada vez mais longe. De regresso a casa, cada um de vós pode começar a ser um foco de paz.
Sabemos que vivemos num mundo onde coexistem a luz e as trevas. Se cada um de vós se tornar num foco de paz, através de vós haverá uma nova luz na família humana sobre a terra.
No que me diz respeito, se pudesse iria até ao fim do mundo para afirmar e repetir a minha confiança nas novas gerações.»

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