Esta noite ouvimos uma passagem do Evangelho segundo São Lucas na qual Jesus responde a esta pergunta feita por um especialista nas Escrituras: «Quem é o meu próximo?» Como acontece muitas vezes, na verdade Jesus não responde diretamente, mas de forma pedagógica, com uma história.

Nesta história encontramos um homem ferido, deixado meio morto à beira do caminho. Um sacerdote e um levita passam ao lado e continuam, sem parar. Depois chega um estrangeiro, de um país chamado Samaria. Aproxima-se do ferido, presta-lhe os primeiros socorros e leva-o para uma estalagem.

Esta história é como um resumo do Evangelho: convida-nos a descobrir que Cristo olha para nós com amor. Nele, Deus torna-se próximo da humanidade ferida. Ele não vem para condenar, mas para cuidar e curar. E convida-nos a fazer o mesmo.

Sim, podemos acolher em nós a misericórdia de Cristo e deixar-nos enviar aos que estão feridos. Como o samaritano, não tenhamos medo de nos aproximar daqueles que estão abandonados à beira dos nossos caminhos. Penso em particular nos migrantes, cada vez mais numerosos em todo o mundo.

Quando dedicamos as nossas forças a ir em auxílio do próximo, a reparar as injustiças, descobrimos que Cristo está presente no homem ferido e abandonado à beira do caminho, é ele quem espera a nossa compaixão. Ele mesmo o sublinhou: «Tive fome e destes-me de comer» (cf. Mt 26).

Após a história, ocorre uma inversão, pois Jesus pergunta ao especialista nas Escrituras: «Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem agredido?» O próximo já não é apenas aquele que sou chamado a amar, a ajudar ou a resgatar, mas aquele que está ali para amar, ajudar e resgatar.

Assim, cada um de nós é convidado a ajudar os outros, mas às vezes também deve aceitar ser ajudado. Por vezes os magoados somos nós. Se atravessarmos uma provação, Cristo olha para nós com bondade. E esse olhar de bondade pode ser revelado por uma pessoa que simplesmente se aproxima de nós.

Jesus amou assim, encontrando as pessoas e acompanhando-as sem impor condições. É esta a coragem do Evangelho de que somos convidados a ser testemunhas. Podemos vivenciar isso com pessoas aparentemente distantes de nós e também com aqueles que nos rodeiam.

A este respeito, também podemos tirar deste texto um belo apelo quando pensamos na unidade dos cristãos. Se somos irmãos e irmãs em Cristo, como podemos deixar de ver um apelo urgente à reconciliação, à cura das feridas das nossas divisões, a ir juntos em auxílio daqueles que sofrem?

É isto que gostaríamos de viver no próximo dia 30 de setembro, em Roma, com o «Encontro do Povo de Deus», que escolhemos chamar «Together», Juntos. Este encontro acontecerá paralelamente em Roma e noutras partes do mundo, na véspera da assembleia sinodal da Igreja Católica.

Estamos a preparar esta vigília de oração ecuménica – e todo um fim-de-semana para jovens – com cerca de sessenta parceiros de diferentes Igrejas, alguns dos quais estão aqui bem representados esta noite. Todos estão cordialmente convidados a participar!

E agora vamos continuar a rezar juntos com um gesto: todos aqueles que quiserem podem vir e rezar apoiando a testa na cruz, depositando assim os nossos fardos e os dos outros em Cristo. É um sinal de que Cristo ressuscitado se une a nós nas nossas dores e nas nossas provações.