TAIZÉ

Textos bíblicos com comentário

 
Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.

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2009

Janeiro

Mateus 18,21-35: Perdoar do íntimo do coração
Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
 
Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: ’Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ’Paga o que me deves!’ O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: ’Concede-me um prazo que eu te pagarei.’ Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: ’Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.» (Mateus 18,21-35)

Mateus 18 reúne alguns ditos de Jesus que dizem respeito à vida comum dos seus discípulos. O último terço do capítulo tem que ver com o perdão. Sem perdão, não há vida comunitária, não há Igreja.

Pedro é aquele que faz a pergunta. Está consciente de que, mesmo entre os discípulos, surgirão desentendimentos, tensões, palavras ou actos que ferem. Ele viveu tempo suficiente com Jesus para perceber que o perdão é a única forma de nos libertarmos das paralisações causadas pelo pecado. É por isso que ele não pergunta se deve ou não perdoar, mas sim até aonde deve ir. Oferecendo-se para perdoar sete vezes, pensa, sem dúvida, que está a fazer muito. E ele está certo: perdoar o mesmo erro sete vezes é muito.

Pedro e os outros discípulos devem ter ficado surpreendidos com a resposta de Jesus. «Não sete vezes, mas setenta vezes sete». Por outras palavras, sem limites, sem contar. O número setenta vezes sete talvez seja uma a alusão a Lamec, descendente de Caim, que foi castigado setenta vezes sete vezes por ter errado, ou seja, desproporcionalmente. (Génesis 4,23-24).

Jesus rejeita a questão de Pedro sobre os limites do perdão e conta uma parábola que enfatiza duas coisas. Por um lado, o perdão é ilimitado. Por outro, este é um todo inquebrável; é impossível separar o perdão de Deus daquele que mostramos uns aos outros.

Na parábola, claro que o rei não representa Deus. Deus não tenciona vender os seus servidores como escravos, nem os manda para a prisão para os torturar. Na parábola, devemos tomar atenção às coisas inesperadas que são significativas, aos detalhes surpreendentes.

A dívida que é perdoada é de «dez mil talentos». Isso é o equivalente ao salário anual de cerca de cento e cinquenta mil trabalhadores, uma soma que hoje representaria biliões de euros ou dólares! Parece-nos inconcebível que um rei se deixasse comover pela súplica do seu servo para perdoar tamanha quantia, sem pedir satisfações. É um exagero; um rei que actua desta forma não é racional, mas age de acordo com as fantasias do seu coração. Jesus faz-nos compreender que o perdão de Deus não é racional, mas sim inacreditável, desafiando, assim, o senso comum e ultrapassando todo o calculismo.

A recusa do servo em conceder um prazo mais alargado ao seu companheiro, que lhe devia a pequena quantia de cem denários, ou seja, apenas o salário de cerca de quatro meses de um trabalhador, é igualmente surpreendente e escandalosa. Os outros companheiros têm o direito de se sentir entristecidos, assim como o rei de ficar zangado. A falta de consideração do servo toca o cinismo. Como é que ele pode reclamar os seus direitos se ele próprio deve tudo ao acto de misericórdia do rei?

Com esta parábola, Jesus mostra-nos um espelho de cada vez que pensamos que temos de limitar o nosso perdão. «Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?» Esta pergunta do rei é, também, a pergunta que Cristo nos faz. Limitar o perdão não faz sentido para alguém que conheceu o perdão desmedido de Deus.

Claro que o perdão de Deus vem primeiro. Não é condicionado pelo nosso. Mas, visto que o perdão é um todo indivisível, é impossível viver no perdão de Deus sem «perdoar ao seu irmão do íntimo do coração».

- Costumo dizer «Chega!»? Que limites é que imponho à minha prontidão em perdoar? Porquê?

- O que significa perdoar do íntimo do coração (v.35)?

- Como pode aquilo que é inacreditável e desmedido no perdão de Deus transformar a minha atitude face àqueles que são injustos comigo?



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Última actualização: 1 de Abril de 2024