TAIZÉ

Textos bíblicos com comentário

 
Estas meditações bíblicas são sugeridas como meio de procura de Deus no silêncio e na oração, mesmo no dia-a-dia. Consiste em reservar uma hora durante o dia para ler em silêncio o texto bíblico sugerido, acompanhado de um breve comentário e de algumas perguntas. Em seguida constituem-se pequenos grupos de 3 a 10 pessoas, para uma breve partilha do que cada um descobriu, integrando eventualmente um tempo de oração.

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2017

Fevereiro

Actos 1,1-11: Tempo para mudar
No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. A eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições, durante quarenta dias, e falando-lhes também a respeito do Reino de Deus. No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai, «do qual - disse Ele - me ouvistes falar. João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo.» Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: «Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?» Respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.» Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco,que lhes disseram: «Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu.» (Actos 1,1—11)

Após a sua ressurreição, Jesus regressa para junto dos seus discípulos para lhes oferecer dons preciosos: em primeiro lugar, o Espírito Santo, que, como descreve o texto dos Actos dos Apóstolos, é um poder, uma dinâmica, uma força. A este pequeno grupo de seres humanos é conferida uma força de transformação, uma capacidade criadora de colocar as coisas em movimento e de fazer nascer o que ainda não existe.

O segundo é o tempo. Enquanto os discípulos pressionam Jesus para lhes dizer quando chegará o fim dos tempos, Jesus, na sua resposta, inverte a ordem das prioridades: conhecer o tempo do fim não é do vosso âmbito, nem se devem preocupar com isso, nem com quando restaurarei o Reino. Preocupem-se sobretudo em utilizar bem a força que vos é dada.

No fundo, os dois dons andam de mão dada: mais do que uma capacidade criadora, Deus oferece, também, tempo para realizar transformações. Se a Paixão, a Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes são momentos distintos uns dos outros, é porque Deus procura tomar o seu tempo e dar tempo aos seres humanos.

Uma das primeiras consequências é a impossibilidade de julgar as pessoas e a situações de forma definitiva. Perante os nossos «sempre» e os nossos «nunca», os nossos «tudo» e os nossos «nada», frequentemente pronunciados com demasiada rapidez, Deus continua a oferecer-nos o Espírito de transformação e o apelo à paciência. Sem soluções definitivas para os pequenos e grandes problemas da existência, mas com o convite a aceitar o provisório das situações e a trabalhar para evoluções positivas.

O Papa Francisco não para de repetir, em particular aos responsáveis sócio-económicos com que reúne, o que «o tempo é superior ao espaço». Na sua encíclica «A alegria do Evangelho», escreve: «Dar prioridade ao espaço leva-nos a proceder como loucos para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e autoafirmação. É cristalizar os processos e pretender pará-los. Dar prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os em elos duma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de privilegiar as acções que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos históricos importantes» (Parágrafos 222-225).

Devemos, então, interrogar-nos: se aspiro a ser filho ou filha da ressurreição, como utilizar as minhas competências para iniciar processos novos em vez de o fazer para conquistar territórios?

Além de dar o Espírito Criador e tempo para mudar, Jesus encoraja os seus discípulos a não permanecerem ali após o Pentecostes, mas a ir «até às extremidades da terra». Entrar no longo tempo da paciência de Deus é um pouco como tornar-se um viajante nesta terra. Esta viagem para proclamar a boa nova é geográfica e espiritual: consiste não apenas em viajar até Jesus no sentido primordial do termo, partindo em missão, mas, também, tornar-se viajante na sua própria vida. Viver com poucos recursos, aceitar não conhecer as novas etapas, viver de uma forma provisória, aceitar não planificar nem controlar tudo: o tempo da paciência de Deus é o da mudança. Em detrimento de procurar respostas demasiado definitivas, aceitemos, então, o provisório. Um pouco como em Taizé, onde, após mais de 40 anos de encontros de jovens, preferimos manter as tendas para nos reunirmos em vez de construir mais edifícios. A falta de conforto e o provisório aligeiram-nos; tornam-nos humildes e criativos.

Paradoxalmente, esta atitude de viagem interior não é a do consumidor desenfreado, nem a do turista, nem a do adepto da cultura do desperdício, que compra e descarta a um ritmo elevado. Aceitar não ter respostas definitivas leva, igualmente, a oferecer a sua vida num compromisso para sempre. É em nome de uma viagem ainda maior que as pessoas se unem num juramento para sempre. Este juramento não restringe a nossa liberdade criadora, antes a aprofunda e lhe confere, antes da hora, um gosto de eternidade.

- Já me lancei em projectos com um final incerto? O que me levou a fazê-lo? O que me permitiu continuar?

- Ao dar-nos o poder do seu Espírito Santo, Deus inspira-nos a fazer coisas novas. Como utilizar este dom que recebemos?



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Última actualização: 1 de Abril de 2024