TAIZÉ

Carta 2025

Esperar para além de toda a esperança

 

Ao ouvir jovens em Taizé e noutros lugares[1], alguns a enfrentar duras realidades no seu dia a dia, pergunto‐me como encontram força para continuar. A questão torna‐se ainda mais premente quando vivem em zonas de guerra.

De onde vêm a resiliência e a perseverança em situações aparentemente impossíveis? Ao ouvi‐los, tornou‐se claro para mim que a confiança em Deus permite às pessoas de fé alimentar uma esperança. E, através da Ressurreição de Jesus, cresce a certeza de que a morte não terá a última palavra.

A confiança na Ressurreição dá a esperança de que as dificuldades da nossa vida não são o ponto final. Somos chamados a algo mais. Foi esta esperança que os jovens quiseram partilhar comigo, uma esperança para além de toda a esperança, porque aposta no emergir de uma vida nova quando tudo parece perdido.[2]

Maria cantou no seu grito de louvor e esperança: «Deus manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lucas 1,51‐53). Sim, ousemos cantar com Maria e rezar para que as circunstâncias mudem. Mesmo quando Deus parece silencioso, pode abrir‐se subitamente um caminho.[3]

Ao mesmo tempo, façamos tudo o que estiver ao nosso alcance, mesmo que pareça pouco, para exprimir sinais de solidariedade com as pessoas em sofrimento à nossa volta, ou com os que se encontram em guerra ou forçados a abandonar o seu país. Não será isso que nos permitirá esperar para além de toda a esperança?

A reflexão que se segue provem, em grande parte, dos encontros e conversas com jovens que vivem em países em guerra ou em zonas de conflito ao longo do último ano. Estou profundamente grato a todos os que partilharam as suas experiências e reflexões, assim como aos nossos irmãos mais jovens, cujos conselhos cuidadosos colocaram ordem no que eu tinha escrito.

irmão Matthew

A coragem de esperar

Muitas vezes, quando desejamos confiar no amor de Deus, o que vemos e sentimos à nossa volta parece contradizer esse amor. Estamos retidos entre o que já nos foi dado e o que ainda está por vir. Este espaço nem sempre é muito confortável. Mas, quando ele se abre à esperança da concretização[4], há algo que se liberta dentro de nós.

A esperança exige paciência. «É o que não vemos que esperamos» (Romanos 8,25), diz o apóstolo Paulo. Voltados para o que virá em plenitude no tempo de Deus, mas também perturbados por «lutas, por fora, temores, por dentro» (2 Coríntios 7,5), teremos a ousadia de permanecer nesse espaço em vez de fugir dele?

«Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que Abraão acreditou» (Romanos 4,18). Abraão, o antepassado de muitos crentes, agarrou‐se à promessa de Deus para além de qualquer esperança razoável. Ele e a sua esposa Sara receberam o que lhes parecia impossível.

Num tempo em que o seu país estava devastado pela guerra, os seus habitantes ameaçados pelo exílio e ele mesmo estava na prisão, o profeta Jeremias fez um investimento no futuro: comprou um campo, pois estava certo de que Deus não abandonaria o seu povo (Jeremias 32,6‐15).

Um gesto de esperança tão surpreendente torna a fé mais real. Trata‐se de uma confiança firme no que ainda é invisível e até incerto. Será que conseguimos permanecer numa esperança destas? No final, isso reabre a fonte da alegria[5]. Mesmo nas situações humanas mais complicadas, o que nunca ousámos esperar pode tornar‐se realidade.

Hoje, iniciativas incríveis de esperança[6] estão a surgir em muitos países, onde a guerra está a fazer estragos.

Ouvir pessoas de esperança

Para compreendermos melhor o que significa a esperança, precisamos de ouvir as pessoas que vivem no meio da aflição e da violência. Não nos guiará Deus através das suas vozes?

Durante a minha visita à Ucrânia com dois dos meus irmãos, um responsável da Igreja disse‐nos: «A oração abre um espaço que permite a cura». Fiquei profundamente impressionado com esta observação. Confrontado constantemente com o sofrimento do seu povo, ele percebe que é na sua vida interior que os crentes podem permanecer abertos para acolher o que é novo.

Este é um processo que não produz necessariamente resultados imediatos, mas que, talvez acompanhado por outros meios, abre uma porta para superar as feridas e a tristeza e desperta a esperança de uma humanidade curada. A oração dá força para resistirmos perante as situações mais complexas[7]. Ela quebra as ondas de desânimo quando as trevas parecem engolir tudo.

Uma mulher palestiniana que vive em França, mas cuja família está em Gaza, escreveu‐nos: «O amor que sustenta os feridos, os frágeis, dá novamente força. Faz‐me pensar no paralítico[8] do Evangelho, carregado pelos seus amigos e pela sua fé. A oração é também uma forma de resistir, e para mim isso é importante. Mas sou humana: depois da notícia da morte de dois membros da minha família, a raiva tomou conta de mim, gritei, chorei... Quando recuperei a calma, sabia que Deus estava presente, no sofrimento e no desespero, e que ele nos ampara».

Neste Verão, durante uma visita a Taizé, ela disse‐nos: «Todas as manhãs, rezo para encontrar a força de amar em vez de odiar». As suas palavras são para nós como uma lâmpada no caminho.

Uma jovem de um país asiático devastado pela guerra contou‐me: «O nosso povo está oprimido, mas encontra conforto no Evangelho. Quantas vezes o povo de Deus esteve em exílio? Ainda assim, uma comunidade foi criada, independentemente da dificuldade da situação. Deus pode ter planos maiores para nós, mas devemos acolher cada dia, um de cada vez. Poder viver o presente é um dom e um sinal de que a vida está aí para ser vivida plenamente. Na oração, há uma fonte de paz que nos permite encorajarmo‐nos mutuamente, encontrando sentido na partilha e na solidariedade».

Do Líbano, ouvi estas palavras: «A minha mãe é um testemunho de esperança. Apesar de tudo, ela permaneceu sempre firme. É graças a ela que sou quem sou hoje. Ela ensinou‐nos a ter fé em Deus e a rezar. Cada pessoa que vive na confiança reflete confiança, porque bebe da fonte e pode tornar‐se testemunha».

Quem são as testemunhas de esperança que cada um de nós pode descobrir e ouvir na sua própria situação? Abramos os ouvidos para escutar o que elas têm a dizer.

Esforçarmo‐nos por ter esperança

Como reagimos quando os nossos planos são contrariados e as nossas esperanças desfeitas? Jesus dá‐nos uma chave para continuarmos a ser pessoas de esperança. Perante uma grande multidão de pessoas famintas, ele teve «compaixão» delas; literalmente «o seu coração voltou‐se» para elas[9]. E encontrou uma maneira de satisfazer as suas necessidades.

A recusa de nos resignarmos perante situações de aflição permite que a esperança tome forma dentro de nós. Ela é o oposto da espera passiva, é uma luta[10], não há outro caminho. Mesmo o nosso simples desejo de esperança pode levar‐nos a atravessar o limiar entre o que é possível humanamente e o que é possível para Deus.

A esperança dada por Cristo concede‐nos um gosto antecipado do que se realizará em plenitude no futuro de Deus. Ela é como a âncora de um barco[11]. Ela mantém‐nos firmes quando a tempestade se abate. Permite‐nos viver pequenos sinais da nossa fidelidade ao chamamento que recebemos e às pessoas que nos foram confiadas. É também como um capacete[12], que nos protege da adversidade que pode cair sobre nós.

A Regra de Taizé fala de nunca nos resignarmos ao «escândalo da separação dos cristãos que tão facilmente professam o amor ao próximo, mas continuam divididos». Para o irmão Roger, a unidade dos cristãos[13] nunca foi um simples objetivo em si mesma, mas um caminho que leva à paz dentro da família humana[14].

Os humildes arbustos de buxo à volta de Taizé, embora devastados duas vezes por parasitas nos últimos anos, estão subitamente a renascer. Daquilo que aparentemente estava morto, novas ramagens crescem e o cinzento dá lugar ao verde. A natureza luta para sobreviver, refletindo e encorajando a nossa própria luta pela esperança. A esperança na criação[15], e a esperança que recebemos da boa criação de Deus, caminham lado a lado com a esperança na humanidade[16].

Permanecermos pessoas de esperança

A esperança pode ser muito facilmente sufocada quando deparamos com situações em que nenhuma compreensão mútua parece possível. Criar uma atmosfera de suspeita corre o risco de prender os outros numa teia de desconfiança.

Isso pode acontecer nas nossas comunidades, igrejas e famílias, assim como na sociedade e nos nossos países. Essas dinâmicas podem ser ocultas ou explícitas, mas esgotam sempre as nossas forças. No entanto, há momentos em que, perante a injustiça, devemos denunciar o mal para que as pessoas deixem de ser vítimas de outras pessoas[17].

Para manter a esperança, precisamos uns dos outros. A esperança floresce quando estamos atentos às necessidades dos outros. Podemos ver pessoas que, mesmo no meio da maior adversidade, escolhem viver, sorrir e oferecer as pequenas coisas que são possíveis a cada dia.

A esperança está ligada à verdade[18] e à justiça. Será isso porque são qualidades de Deus? Não as vemos na vida, morte e Ressurreição de Jesus? Nutrir a esperança requer enfrentar a realidade tal como ela é e vê‐la à luz das promessas de Deus[19].

Um jovem que vive numa zona de conflito contou‐me: «Estava num café a ler o meu livro, quando começaram a voar rockets à nossa volta. As pessoas saíram a correr, cheias de emoção, mas eu decidi ficar e terminar a minha leitura». Procurar abrigo também teria sido uma opção sensata, mas partilhar esta história é um protesto de esperança contra a inevitabilidade da guerra.

Um dos meus irmãos disse‐me: «A esperança é provocadora e, mais do que isso, é contagiosa. O oposto da esperança é a indiferença ou a resignação. Durante uma visita recente ao meu país, que está a ser devastado pela guerra, vi os rostos das pessoas tristes, preocupados e stressados. Perguntei‐me então: ‘O que posso fazer?’ E surgiu‐me uma ideia: sempre que estou a conduzir e tenho a prioridade, paro e dou a vez à pessoa à minha frente. Isso custa‐me cinco segundos. Mas, com este pequeno gesto, pude ver os rostos das pessoas a reagir, aliviando um pouco a dor do meu irmão ou da minha irmã.

Tudo em nós resiste à guerra e à morte... Tudo em nós aspira à vida e à beleza»[20].

A esperança da Páscoa

Onde estou neste momento? Ao pé da Cruz na Sexta‐feira Santa? Na alegria do Domingo de Páscoa? Ou esperando, sem saber para onde me virar, no Sábado Santo?

Onde quer que eu esteja, consigo entrever um caminho de esperança? Ele abre‐se à minha frente quando olho para Jesus, que deu a sua vida por amor a todos, que nos mostrou um amor mais forte do que todas as forças da violência, do ódio e da morte.

A esperança não se baseia na análise da situação, mas numa chama muitas vezes vacilante de confiança. Embora frágil, essa chama arde na noite mais profunda, como aconteceu com os amigos de Jesus. Muitos deles abandonaram‐no no momento da sua maior provação. O amor dele permitiu‐lhes voltar.

Se ao menos pudéssemos reconhecer Jesus Ressuscitado! Contudo, a sua presença não depende do nosso reconhecimento. O nosso desespero às vezes cega‐nos, como cegou Maria Madalena. Jesus Ressuscitado perguntou‐lhe: «Porque choras?» e «Quem procuras?» (João 20,15). Esta segunda pergunta faz eco às suas primeiras palavras no Evangelho de João: «Que procurais?» (João 1,38). Depois de ter entrado na dor mais profunda e na morte humana, a busca de sentido revela‐se um desejo de presença[21].

Ressuscitado dos mortos e vivo em Deus, Jesus atrai‐nos para si[22]. Encontrando‐nos no nosso ser mais íntimo, esteja ele cheio de tristeza ou de alegria, Jesus Ressuscitado abre‐nos à sua relação com o Pai e à comunhão entre nós no Espírito Santo. Já não somos prisioneiros do nosso próprio desespero – uma nova vida é possível.

Paulo escreve: «A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Romanos 5,5). Vivamos desse amor. Que o Espírito Santo nos guie sempre!

Peregrinos de esperança, peregrinos de paz

A fé na Ressurreição permitiu que muitas pessoas se agarrassem à esperança no meio da aflição. Ela é uma fonte que nos conduz para lá das nossas próprias impossibilidades, para que os nossos corações se abram aos outros e possamos agir.

A fé na Ressurreição de Jesus exige muita coragem e ousadia. Isso significa esforçarmo‐nos para não ficarmos paralisados pela presença da morte e da destruição que nos cercam hoje.

A partir de situações que parecem sem esperança, Deus pode criar algo novo. Deus pode fazer surgir a vida a partir da morte e até mesmo a reconciliação a partir do conflito.

As mulheres, amigas de Jesus, que chegaram cedo na manhã de Páscoa ao seu túmulo, perguntavam: «Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro» (Marcos 16,3)? Nas nossas próprias vidas, que pedras devemos pedir a Deus para tirar, para que uma nova vida possa nascer dentro de nós?

Essa nova vida ajuda‐nos a levantar, leva‐nos a caminhar em conjunto com os outros. Tornamo‐nos peregrinos da esperança que carregamos dentro de nós. Não será esta também uma esperança de paz? De facto, «Cristo é a nossa paz» (Efésios 2,14). Ouvi‐lo‐emos dizer‐nos: «Deixo‐vos a paz, dou‐vos a minha paz[23]. Não é como a dá o mundo, que eu vo‐la dou. Não se perturbe o vosso coração nem fique com medo» (João 14,27‐28).

Como peregrinos de paz[24], entendemos que não há verdadeira paz sem justiça[25]. A paz que carregamos dentro de nós, que vem da esperança com que vivemos, torna‐nos interiormente livres. Permite‐nos amar a vida e resistir à injustiça, enquanto perseveramos movidos pelo Espírito Santo.

Um dia, poderemos encontrar‐nos a rezar o cântico de Zacarias. Homem idoso numa terra ocupada, ele alegrou‐se com um nascimento inesperado e celebrou: «Graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» (Lucas 1,78‐79).

Estamos prontos para esperar para além de toda a esperança?

Cristo ressuscitado, pela presença do Espírito Santo, tu derramaste o amor de Deus nos nossos corações e permites‐nos esperar para além de toda a esperança. E, de dentro de nós, pouco a pouco, surge uma paz surpreendente. Louvado sejas!

[1]  Em Maio de 2024, com dois dos meus irmãos, viajámos como peregrinos através da Ucrânia devastada pela guerra. Durante o Verão, recebemos em Taizé jovens do Myanmar, da Nicarágua e da Ucrânia. No Outono, tive conversas online com jovens destes países, bem como de Belém e do Líbano, enquanto quatro dos meus irmãos regressavam à Ucrânia, visitando o país do oriente ao ocidente.

[2]  «Não pode haver esperança sem a experiência prévia de uma ausência total de horizonte, que é como uma noite em pleno dia e obriga os indivíduos, assim como os povos, a desfazerem‐se das suas ilusões». Corine Pelluchon em L’espérance, ou la traversée de l’impossible (Éditions Payot Rivages, Paris, 2023), p. 8.

[3]  «A esperança é a resposta humana ao silêncio de Deus». Jacques Ellul, citado por Anne Lécu em https://www.revue-etudes.com/articl...

[4]  Num comentário sobre Dt 4,31, Gustavo Gutiérrez escreve: «Deus não se esquecerá da aliança; a lealdade é, antes de mais, memória. Ser fiel é recordar, não esquecer os nossos compromissos, ter um sentido de tradição. A lealdade à aliança pressupõe recordar as fontes da aliança e as suas exigências (...) mas a verdadeira fidelidade implica mais do que isso; exige também, e isso parece menos claro à primeira vista, uma projeção para o futuro. Ter memória não significa permanecer fixos no passado. Lembrar o ontem é importante, mas é importante porque nos ajuda a apostar no amanhã (...). A fidelidade não consiste em seguir caminhos conhecidos sem iniciativa, mas em renová‐los permanentemente; ela conduz‐nos – deve conduzir‐nos – a inovar, a mudar, a conceber novos projetos». (Gustavo Gutiérrez, El Dios de la vida, Ediciones Sígueme, Salamanca, 1992, pp. 82‐83).

[5]  Nas minhas conversas com jovens que vivem em situações de guerra, muitos deles falaram sobre a importância dos cânticos como fonte de alegria e de força. Esta Carta será publicada durante o Encontro Europeu 2024‐2025 em Tallinn. Não nos esqueçamos da «Revolução Cantada», que tanto contribuiu para que a Estónia recuperasse a sua independência pacificamente em 1991. As pessoas desceram às ruas a cantar para enfrentar a ameaça com a qual se confrontavam.

[6]  Uma pessoa que um dos nossos irmãos encontrou durante uma peregrinação disse‐lhe: «Uma raiva criativa habita em mim». Foi essa força que a impulsionou a querer fazer pelo menos uma pequena coisa para mudar a situação atual.

[7]  «Do ancião [Silvano], ele [Sophrony Sakharov] aprendeu muitas coisas que seriam fundamentais para a sua vida espiritual. Dois elementos destacam-se: como enfrentar o sentimento de abandono quando, em vez de Deus, tudo o que se experimenta na oração é um vazio desolador; e como lidar com a angústia que acompanha a intensa oração pelo mundo em sofrimento. O primeiro encontrou sentido no conceito de abandono de Deus que Sakharov viria a desenvolver mais tarde, e o segundo na injunção revelada ao ancião na oração e comunicada por ele ao seu discípulo: ‘Guarda a tua mente no inferno e não desesperes’». (Norman Russell, Theosis and Religion, Cambridge University Press, 2024, p. 169)

[8]  Ver Marcos 2,1‐12. Reparemos na força da esperança dos amigos do homem, que superam todos os obstáculos, entrando pelo telhado da casa para tentar ajudá‐lo e levá‐lo até Jesus.

[9]  O verbo grego σπλαγχνίζομαι (splanchnizomai) é muito forte emocionalmente. Indica uma resposta calorosa e compassiva a uma necessidade. É difícil de traduzir: compaixão, piedade, simpatia são palavras que transmitem algo desse verbo. Mas «o seu coração inclinou‐se para eles» talvez exprima mais plenamente a reação instintiva que o verbo implica. Em Mateus (ver 14,14; 15,32; 18,27; 20,34), o verbo não se refere apenas a uma emoção ou sentimento, mas designa também uma resposta prática que atende à necessidade. Neste caso, Jesus cura os doentes e depois alimenta a multidão. A emoção resulta numa ação cuidadora e eficaz. O verbo resume o Evangelho em poucas palavras.

[10]  Cf. 1 Timóteo 4,10: «Pois se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, sobretudo dos que crêem».

[11]  Cf. Hebreus 6,19

[12]  Cf. 1 Tessalonicenses 5,8

[13]  O Sínodo sobre a Sinodalidade permitiu à Igreja Católica reconhecer e valorizar a diversidade que já existe nela mesma. O papel dos delegados de outras Igrejas neste Sínodo foi importante. Não será isso uma nova esperança na vocação ecuménica, no caminho em direção à unidade de todos os que amam Cristo?

[14]  Taizé foi fundado em tempos de guerra. A «parábola de comunhão» que nos esforçamos por viver enquanto irmãos de diferentes Igrejas, países, culturas e idades necessita de cuidados constantes para ser um sinal de esperança perante as divisões da família humana.

[15]  Cf. Romanos 8,21‐23

[16]  Perante o desafio das alterações climáticas e da perda da biodiversidade, como podemos aprofundar os cuidados com a nossa casa comum, onde tudo está interligado?

[17]  Continuamos, na nossa Comunidade de Taizé, o caminho de apuração da verdade perante acusações de abuso e agressões, que foram feitas em relação a alguns irmãos. A coragem das pessoas que sofreram e falaram deve incitar‐nos a procurar sempre mais como aprender com elas. Com frequência, essas pessoas buscam repetidamente uma nova esperança e uma nova vida. Elas motivam‐nos a fazer tudo o que for possível (ver www.taize.fr/ protection) para tornar os encontros em Taizé e noutros lugares seguros para todos; e também para aumentar a consciencialização em relação às questões aqui envolvidas. Estamos também gratos ao trabalho da Comissão de Reconhecimento e Reparação (ver ->[www.reconnaissancereparation.org]) pela sua escuta dos sobreviventes e pela sua mediação.

[18]  «Acredito que a esperança está ligada à verdade. Até que aceitei a perspetiva da morte, não conseguia ter esperança. Isto aplica‐se a todas as situações. Enquanto cristãos, podemos ter a tendência de fugir das situações que nos fazem desesperar – politicamente, ecologicamente, humanamente... É normal que nos horrorize, mas parece‐me que a esperança nos incentiva a estar precisamente ali, na realidade dessas situações, a vê‐las com verdade. Georges Bernanos fala muito da esperança como uma virtude heroica. É uma virtude que nos leva à ação, a não fugir, a lutar pelo que sabemos ou acreditamos ser bom. A esperança leva‐nos à promessa de Deus». Clémence Pasquier, entrevista por Clémence Houdaille, La Croix 11/10/2024.

[19]  Na língua Kikuyu (Gĩkũyũ), um dos atributos de Deus é ser «digno de esperança» – «Mwihokeku»: Deus em quem podemos depositar a nossa esperança. Mwĩhoko – Esperança; Wĩhokeku – Qualidade de ser digno de esperança; Mwĩhokeku – Digno de esperança. Por isso: Ngai nĩ mwĩhokeku | Deus é digno de esperança.

[20]  «Se a esperança implica avaliar os perigos atuais, ela ensina também a habitar o presente e a acreditar no futuro, sem remoer o passado e abandonando todo o rancor. Ela é, por fim, o que a nossa alma deseja; a sua ausência torna‐nos amargos ou violentos. Como o amor no Cântico dos Cânticos, a esperança dá vida ao corpo que o desejo tinha abandonado». Corine Pelluchon, em L’espérance, ou la traversée de l’impossible (Éditions Payot Rivages, Paris, 2023), pp. 13‐14.

[21]  «É a própria pessoa na cruz que sofre como nós, que foi reduzida a ninguém, que ilumina a nossa trágica existência humana... Não procuramos Jesus como um mero exemplo a seguir, nem tentamos idolatrá‐lo. Vemos Jesus como o Deus que assume forma humana, que sofre e chora connosco». Kwok Pui Lan, teóloga de Hong Kong, God Weeps with Our Pain, em New Eyes for Reading: Biblical and Theological Reflections by Women from the Third World, ed. John S. Pobee e Barbel von Wartenberg‐ Potter (Meyer Stone Books, Bloomington, IN, 1987), p. 92.

[22]  Cf João 12,32

[23]  «Deixo‐vos a minha paz, dou‐vos a minha paz» (João 14,27). A característica de quem é plenamente maduro é não se deixar facilmente abalar pelas coisas do mundo, não se perturbar pelo medo, não se agitar pela suspeita, não se deixar abalar pelo terror, não se inquietar pela dor, mas permanecer firme na calma da fé, como numa margem firme e segura, perante um dilúvio ameaçador e as tempestades do mundo. É esta firmeza que Cristo trouxe à mente dos cristãos, infundindo‐lhes a paz interior concedida aos que atravessaram provações». Ambrósio de Milão, Tratado III, Sobre Jacob e a Vida Bem‐Aventurada 6, 28, citado em Soyons l’âme du monde (Les Presses de Taizé, 1998 e 2025), p. 109.

[24]  Ver Peregrinos de paz

[25]  Ver o Salmo 85,10 «O amor e a fidelidade vão encontrar‐se. Vão beijar‐se a justiça e a paz».

Última actualização: 28 de Dezembro de 2024