O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;habitavam numa terra de sombras,mas uma luz brilhou sobre eles.Multiplicaste a alegria,aumentaste o júbilo;alegram-se diante de ticomo os que se alegram no tempo da colheita,como se regozijam os que repartem os despojos.Pois Tu quebraste o seu jugo pesado,a vara que lhe feria o ombroe o bastão do seu capataz,como na jornada de Madian.Porque a bota que pisa o solo com arrogânciae a capa empapada em sangueserão queimadas e serão pasto das chamas.Porquanto um menino nasceu para nós,um filho nos foi dado;tem a soberania sobre os seus ombros,e o seu nome é:Conselheiro-Admirável, Deus herói,Pai-Eterno, Príncipe da paz.Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites,sobre o trono de David e sobre o seu reino.Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça,desde agora e para sempre.Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.(Isaías 9,1-6)
Num período sombrio de guerras e invasões, o profeta de Jerusalém vê uma esperança que não deriva do esforço humano, mas da fidelidade de Deus aos seus planos de amor. Séculos antes, o Senhor prometera ao rei David: «A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim» (2 Samuel 7,16). Por causa da sua confiança na promessa divina, Isaías celebra o nascimento ou entronização de um herdeiro real por um oráculo, onde vê acima de tudo a actividade de Deus, que quer dar ao seu povo a vida em plenitude.
Assim, Deus garantirá que o povo, livre de seus inimigos, possa provar «uma paz sem fim». A menção de Madian (v. 3, ver Juízes 7) destaca que essa vitória é inexplicável por razões humanas, é da ordem dos milagres. Do mesmo modo, olhando atentamente, o rei, descrito como «um menino» e «um filho», parece não fazer muito; é o «amor ardente» do Senhor que age, o rei, por sua vez, vigia a nova ordem estabelecida por Deus. E, de facto, nem se trata da destruição de inimigos reais, são simplesmente os instrumentos de violência que são consumidos no fogo do amor divino.
O propósito e o conteúdo deste oráculo explicam por que razão ele se pode manter actual, mesmo quando o rei da época tinha decepcionado as esperanças depositadas nele. Pois, apesar das falhas dos soberanos individuais, a promessa de Deus permanece e, para aqueles que crêem, não deixará de encontrar satisfação. Um dia, aos olhos dos crentes, essa palavra iria tornar-se carne. Não é de surpreender, portanto, que os primeiros cristãos tenham visto em Jesus o esperado «Príncipe da Paz»: em sua docilidade à vontade do Pai e na sua aparente fraqueza humana, ele permitiu a Deus acender o fogo do seu amor na Terra (ver Lucas 12,49).
O que impede, em nós e à nossa volta, a realização dos planos de amor de Deus?
Que sinais encontramos que reacendem a nossa confiança, revelando-nos o amor de Deus manifestado na fraqueza humana?