TAIZÉ

Roma

45.000 jovens reunidos na Praça de São Pedro para rezar com o Papa Bento XVI

 
No segundo dia do Encontro Europeu de Roma, animado pela comunidade de Taizé entre os dias 28 de dezembro e 2 de Janeiro na capital italiana, 45 mil jovens, ortodoxos, católicos e protestantes reuniram-se na praça de São Pedro para uma oração comunitária com o Papa Bento XVI. Os jovens preencheram aos poucos, ao longo de toda a tarde, a vasta praça do Vaticano. Às 18 horas, a oração da noite começou, com cânticos de Taizé, a leitura da Palavra de Deus e um longo tempo de silêncio. Depois, sob a lua cheia acabada de aparecer, toda a praça se iluminou com dezenas de milhares de velas que cada um trazia na mão, como sinal da ressurreição. Num ambiente meditativo e propício à oração, os jovens escutaram em seguida a saudação que o irmão Alois dirigiu a Bento XVI; depois, a mensagem que o Papa transmitiu aos jovens, exprimindo-se sucessivamente em cinco línguas.


Para ver a celebração no site da Rádio Vaticano,
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Saudação do irmão Alois, prior de Taizé

Santo Padre,
 
Hoje cumpre-se uma etapa importante da nossa «peregrinação de confiança através da terra». Viemos de toda a Europa, e também de outros continentes, pertencendo a diferentes confissões religiosas. O que nos une é mais forte do que o que nos separa: um único baptismo e a mesma Palavra de Deus unem-nos. Viemos esta noite celebrar à volta do Santo Padre esta unidade, real, mesmo se ela não está ainda completamente concretizada. É ao olharmos juntos para Cristo que ela se aprofunda.
 
O irmão Roger deixou em herança à nossa comunidade a sua preocupação por transmitir o Evangelho, em particular aos jovens. Ele estava muito consciente de que as separações entre cristãos são um obstáculo à fé. Abriu caminhos de reconciliação que ainda não acabámos de explorar. Inspirados pelo seu testemunho, são muito numerosos os que gostariam de antecipar a reconciliação através das suas vidas; que gostariam de viver já reconciliados.
 
Cristãos reconciliados podem tornar-se testemunhas da paz e da comunhão, portadores de uma nova solidariedade entre os seres humanos.
 
A procura de uma relação pessoal com Deus é o fundamento do nosso caminho. Este ecumenismo da oração não encoraja uma tolerância fácil; favorece uma escuta mútua exigente e um diálogo verdadeiro.
 
Ao rezarmos aqui esta noite, não podemos esquecer que a última carta escrita pelo irmão Roger, mesmo antes da sua morte violenta, foi dirigida ao Santo Padre, para dizer que a nossa comunidade gostava de caminhar em comunhão convosco. Também não podemos esquecer como, depois desta morte trágica, o vosso apoio foi precioso para nos encorajar a continuar em frente. Então, gostaria de vos voltar a garantir a afeição profunda dos nossos corações pela vossa pessoa e pelo vosso ministério.
 
Para terminar, gostaria de trazer o testemunho de esperança de um grande número de jovens africanos com os quais estivemos reunidos há um mês em Kigali, no Ruanda. Vinham de 35 países, entre os quais o Congo, concretamente a região do Kivu do Norte, para viver uma peregrinação de reconciliação e de paz. A grande vitalidade destes jovens cristãos é uma promessa para o futuro da Igreja.
 
Estes jovens africanos quiseram que trouxéssemos connosco um sinal da sua esperança: grãos de sorgo, para que cresçam na Europa. Permiti-me, Santo Padre, que vos dê, da parte deles, um pequeno cesto tradicional ruandês, chamado «agaseke», juntamente com algumas destas sementes de esperança vindas de África. Poderão elas ser semeadas e florir nos jardins do Vaticano?

Discurso do Papa Bento XVI aos participantes no 35º Encontro Europeu de jovens

Obrigado, caro irmão Alois, pelas vossas palavras calorosas e cheias de afecto. Queridos jovens, queridos peregrinos da confiança, bem-vindos a Roma!
 
Viestes em grande número, de toda a Europa e também de outros continentes, para rezar junto dos túmulos dos santos apóstolos Pedro e Paulo. Foi de facto nesta cidade que ambos derramaram o seu sangue por causa de Cristo. A fé que animava estes dois grandes apóstolos de Jesus é também a mesma que vos pôs a caminho. Durante o próximo ano, quereis tentar desobstruir as fontes da confiança em Deus, para vivê-las no quotidiano. Alegro-me por irdes deste modo ao encontro da intenção do ano da fé, que começou no mês de Outubro.
 
É a quarta vez que há um Encontro Europeu em Roma. Nesta ocasião, gostaria de repetir as palavras que o meu predecessor João Paulo II dirigiu aos jovens no terceiro encontro em Roma: «O papa sente-se profundamente empenhado convosco nesta peregrinação de confiança através da terra. Também eu sou chamado a ser um peregrino de confiança em nome de Cristo».
 
Há pouco mais de 70 anos, o irmão Roger fez nascer a comunidade de Taizé. Ela continua a ver chegar até ela milhares de jovens do mundo inteiro, à procura de um sentido para a sua vida. Os irmãos acolhem-nos na sua oração e fornecem-lhes a oportunidade de fazerem a experiência de uma relação pessoal com Deus. Foi para apoiar estes jovens no seu caminho rumo a Cristo que o irmão Roger teve a ideia de começar uma «peregrinação de confiança através da terra».
 
Testemunha infatigável do Evangelho de paz e de reconciliação, animado pelo fogo de um ecumenismo de santidade, o irmão Roger encorajou todos os que passam por Taizé a procurarem a comunhão. Eu disse-o, no dia logo depois da sua morte: «Deveríamos escutar o interior do seu ecumenismo, vivido espiritualmente, e deixarmo-nos conduzir pelo seu testemunho rumo a um ecumenismo verdadeiramente interiorizado e espiritualizado». Ao segui-lo, sede todos portadores desta mensagem de unidade. Asseguro-vos o compromisso inabalável da Igreja católica em prosseguir a procura de caminhos de reconciliação para chegar à unidade visível dos cristãos. Nesta noite, gostaria de saudar com um afecto muito particular todos os que, de entre vós, sois ortodoxos e protestantes.
 
Hoje, Cristo faz-vos a pergunta que dirigiu aos seus discípulos: «Quem sou eu para vós?» A esta pergunta, Pedro, junto de cujo túmulo nos encontramos neste momento, respondeu: «Tu és o Messias, o filho de Deus vivo» (Mt 16, 15-16). Toda a sua vida tornou-se uma resposta concreta a esta pergunta. Cristo também deseja receber de cada um de vós uma resposta que venha não da obrigação ou do medo, mas da vossa liberdade profunda. Com a resposta a esta pergunta, a vossa vida encontrará o seu sentido mais pleno. O texto da Carta de São João que acabámos de ouvir dá-nos com grande simplicidade, como uma espécie de resumo, uma resposta: «que acreditemos no Nome de seu Filho, Jesus Cristo, e que nos amemos uns aos outros» (3, 23). Ter fé e amar Deus e os outros! O que há de mais exaltante? O que há de mais belo?
 
Que, durante estes dias em Roma, possais deixar subir aos vosso corações este sim a Cristo, aproveitando particularmente os longos tempos de silêncio que ocupam um lugar central nas vossas orações comunitárias, despois da escuta da Palavra de Deus. Esta Palavra, diz a Segunda Carta de Pedro, é «como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro», que fazeis bem em observar, «até que o dia desponte e a estrela da manhã nasça nos vossos corações» (1, 19). Compreendestes: se a estrela da manhã deve nascer nos vossos corações é porque ela não está sempre aí. Por vezes, o mal e o sofrimento dos inocentes criam em vós a dúvida e a preocupação; e o sim a Cristo pode tornar-se difícil. Mas esta dúvida não vos torna descrentes! Jesus não rejeitou o homem do Evangelho que gritou: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» (Mc 9, 24).
 
Para travar este combate da confiança, Deus não vos deixa sós ou isolados. Ele dá-nos a todos a alegria e o conforto da comunhão da Igreja.
 
Durante a vossa estadia em Roma, graças especialmente ao acolhimento generoso de tantas paróquias e comunidades religiosas, fazeis uma nova experiência de Igreja. Quando regressardes a casa, nos vossos diversos países, convido-vos a descobrir que Deus vos torna corresponsáveis pela sua Igreja, em toda a diversidade de vocações. Esta comunhão, que é o Corpo de Cristo, precisa de vós, e aí todos tendes um lugar. É a partir dos vossos dons, do que há de específico em cada um de vós, que o Espírito Santo constrói e faz viver este mistério de comunhão que é a Igreja, com o objectivo de transmitir a boa nova do Evangelho ao mundo de hoje.
 
Com o silêncio, o cântico ocupa um lugar importante nas vossas orações comunitárias. Os cânticos de Taizé enchem durante estes dias as basílicas de Roma. O cântico é um auxílio e uma expressão incomparável da oração. Ao cantardes a Cristo, abris-vos igualmente ao mistério da sua esperança. Não tenhais medo de preceder a aurora para louvar a Deus. Não ficareis desiludidos.
 
Queridos jovens amigos, Cristo não vos afasta do mundo. Ele envia-vos aos sítios onde falta a luz, para que a leveis aos outros. Sim: todos vós sois chamados a serdes pequenas luzes para os que estão à vossa volta. Através da vossa atenção a uma repartição mais equitativa dos bens da terra, pelo vosso empenho na justiça e por uma nova solidariedade, ajudareis os que estão à vossa volta a compreenderem melhor como o Evangelho nos conduz até Deus e até aos outros. Assim, com a vossa fé, contribuireis para que se erga a confiança através da terra.
 
Estai, pois, cheios de esperança. Que Deus vos abençoe, bem como às vossas famílias e aos vossos amigos!
Última actualização: 15 de Janeiro de 2013