TAIZÉ

Meditações do irmão Alois

 
O irmão Alois vai falar aos jovens todos os dias do Encontro, no final da oração da noite. Os textos destas meditações serão publicados nesta página.

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Segunda-feira, serão de 31 de Dezembro

Estamos já no final do nosso encontro. Esta noite, iremos celebrar a chegada do novo ano. E terão nas vossas comunidades de acolhimento uma oração pela paz.

Em demasiados locais pelo mundo, a paz está ameaçada. Rezemos pela paz e pela justiça, pois não existem uma sem a outra. Não aceitemos situações de injustiça, nem perto nem longe de nós, mas esforcemo-nos para lutar com um coração reconciliado. Não adicionemos ódio à violência.

A experiência da comunhão que fizemos estes dias estimula-nos e dá-nos coragem para nos comprometermos de forma concreta pela paz. Cabe a cada um encontrar a sua forma. Muitos de entre vós estão já envolvidos em iniciativas de solidariedade. Gostaria de vos indicar, de forma breve, três desafios que me parecem importantes.

O primeiro, diminuir o abismo entre ricos e pobres. Será que, em pequenos grupos nas nossas Igrejas, podemos estar mais atentos a uma situação de pobreza? Mesmo com poucos meios, com quase nada, é possível começar, por exemplo, com visitas, rompendo o isolamento de um sem-abrigo, de um idoso, de crianças abandonadas.

Uma segunda urgência é, sem dúvida, o acolhimento de imigrantes e refugiados. Apoiemos as iniciativas locais e internacionais que procuram dar-lhes mais segurança e justiça. A segurança de uns não pode ser assegurada em detrimento da de outros. O medo perante este fenómeno, de uma amplitude nova para a Europa, é compreensível. Contudo, uma coisa é certa: não existirão soluções sem relações pessoais com os que buscam refúgio ou um futuro melhor noutros países.

E esta terceira pista: a paz entre os humanos precisa da solidariedade com a criação. O nosso maravilhoso planeta está ameaçado pela exploração descontrolada dos seus recursos, pelas diferentes formas de poluição e pela perda de biodiversidade. E isso conduz a injustiças e violências entre os humanos. Todos nós podemos dar passos concretos para responder a este desafio.

Estes três compromissos, entre outros possíveis, são muito mais do que um imperativo moral. Se os levarmos a sério, e a eles nos dedicarmos, a nossa própria vida pode encontrar um sentido.

Uma última nota. Acabo de apelar a que, nos nossos compromissos, lutemos com um coração reconciliado. Tal supõe que descemos à fonte da reconciliação. Esta fonte não é uma ideia, é uma pessoa, é Cristo. Ele dá-nos a sua paz. Sem a paz interior que recebemos dele, a tentação do desânimo e da amargura pode tornar-se demasiado forte.

Junto a este fonte, somos um só com Jesus. Contudo, precisamos, também, de pessoas que nos mostrem o caminho rumo à fonte. Há, na Igreja, mulheres e homens, não apenas sacerdotes e pastores, que estão preparados para vos escutar. Podem compreender, sem vos julgar, o que atravessam, mesmo no mais íntimo do vosso coração. Procurem junto de vós uma pessoa de confiança, que vos acompanhe um pouco no vosso caminho.

Para todos nós, a peregrinação de confiança continua já de seguida, através da nossa viagem de volta a casa.

Aqui em Madrid, nas paróquias, poderão continuar a viver este ímpeto de generosidade que demonstraram ao acolher-nos. Há, também, a oração com o vosso Arcebispo, todas as primeiras sexta-feira do mês, para os jovens, na catedral.

Nós, os irmãos, iremos fazer duas paragens no caminho de regresso a Taizé. No dia 2 de Janeiro, estaremos em Ávila, para celebrar uma oração ao meio dia. E no dia 3 de Janeiro, em Barcelona, teremos uma oração na Igreja de Santa Maria del Mar, às 20h.

Estes são, para nós, duas fontes. Teresa d’Ávila encoraja-nos a ir, na nossa vida de comunidade, de começo em começo. E em Barcelona fomos várias vezes acolhidos muito calorosamente. Talvez alguns de entre vós possam ainda alterar a rota da viagem de regresso a juntar-se a nós, seja em Ávila ou em Barcelona.

A todos vós uma boa viagem de regresso a casa! E não esqueçam a hospitalidade!

Madrid, Domingo, serão de 30 de Dezembro 2018

Após cantar Alleluia :

“Não esqueçamos a hospitalidade!” É este o chamamento que aprofundamos nestes dias. Partilhamos as nossas ideias, mas, sobretudo, experienciamos a hospitalidade. Às famílias, paróquias e comunidades religiosas que abriram as suas portas, ao Arcebispo Cardeal Osoro e outros representantes da Igreja, à Sra. Carmena, Presidente da Câmara de Madrid, e a todas as autoridades civis, a todos expressamos a nossa gratidão pelo acolhimento caloroso que encontrámos aqui em Madrid.

Cardinal Osoro irá agora dirigir-nos algumas palavras.

No final da oração:

Nós, os irmãos de Taizé, esperamos muito deste encontro europeu em Madrid. O nosso desejo ardente é que desperte a esperança. Perante as grandes dificuldades e desafios do nosso tempo, alguns são ameaçados pelo desânimo e desilusão. A experiência da partilha e da comunhão que fazemos estes dias pode encorajar-nos a olhar o futuro com esperança.

Estamos verdadeiramente a cumprir uma peregrinação de confiança. Construindo relações, construindo pontes para além do que divide, aquilo de que precisa a nossa sociedade. Uma sociedade não pode sobreviver sem confiança entre as pessoas que a compõem. A confiança permite o diálogo sobre aquilo que divide. A confiança consegue respeitar e até apreciar as particularidades do outro.

Somos todos parte da mesma família humana. Mais do que nunca, precisamos uns dos outros. Tantas questões – os enormes desafios ecológicos, por exemplo – podem apenas ser resolvidas se trabalharmos juntos além fronteiras.

É claro que a experiência da comunhão que fazemos nestes dias é curta. Contudo, é real. Mostra-nos que a confiança é possível entre as mais diversas pessoas. E vemos que a Igreja pode ser um lugar que permite a essa confiança crescer.

Sim, a Igreja é chamada a ser local de amizade, uma amizade que não cessa de crescer. Ao longo destes dias, é-nos dada uma imagem da universalidade da Igreja. E isto permite-nos sentir que os cristãos podem promover uma globalização com um rosto humano – e que esta é até uma responsabilidade especial para eles.

Comecemos numa escala pessoal. Exploremos de que forma podem as nossas comunidades locais abrir-se mais. Caminhemos ao encontro dos que são diferentes: os mais pobres ao nosso redor, imigrantes, Cristãos de outras denominações, crentes de outras religiões, aqueles que não conseguem acreditar.

A atenção à solidariedade humana é inseparável da vida interior. Enquanto crentes, exploremos como podemos renovar a nossa oração, pratiquemos permanecer atentos ao amor de Deus, nos nossos dias e noites. Tal permite-nos chegar mais perto daqueles que são diferentes.

Para viver esta abertura, é preciso, sobretudo, escutar os outros. Não sofrem frequentemente os nossos diálogos, na sociedade como na Igreja, de um fracasso de escutar? Comecemos por tentar compreender os outros, compreender situações muitas vezes complexas.

Em Outubro, fui convidado a participar no Sínodo dos Bispos Católicos para a Juventude, em Roma. Um desejo foi ali repetidamente manifestado: que vocês, os jovens, possam encontrar na Igreja pessoas que vos ouçam. Que os vossos sonhos sejam levados a sério, a vossa criatividade apoiada, o vosso sofrimento ouvido.

Gostaríamos de fazer tudo o que for possível para que a solidariedade, e até a amizade, possam marcar o futuro das nossas sociedades. É neste espírito que continuaremos a nossa peregrinação de confiança na terra.

Os encontros em Taizé serão dela etapas. Acontecerão todas as semanas do ano, com uma semana especial dedicada aos adultos entre os 18 e os 35 anos, de 25 de Agosto a 1 de Setembro. Será precedida por um fim-de-semana de amizade entre jovens cristãos e muçulmanos, de 22 a 25 de Agosto.

Noutros lugares do mundo, outros encontros ocorrerão no caminho da peregrinação. Um grupo do Líbano e de outros países do Médio Oriente veio e encontra-se aqui entre nós para nos convidar a estar mais perto da sua realidade, e para nos oferecer hospitalidade. De 22 a 26 de Março, teremos um encontro de jovens em Beirute.

Após o Verão, iremos para Sul, em África. Temos tanto a aprender ao escutar a história da África do Sul das décadas recentes e sobre o seu estado actual. A África do Sul fica muito longe da Europa, mas estão todos convidados para o encontro de jovens, de 25 a 29 de Setembro, na ponta mais a Sul de África, na Cidade do Cabo.

Depois, teremos o próximo Encontro Europeu, de 28 de Dezembro de 2019 a 1 de Janeiro de 2020 em…

Sábado, serão de 29 de Dezembro 2018

Estes dias, em Madrid, estamos reunidos vindos de tantos países diferentes. E os que nos acolhem pertencem a diversas gerações. Com todas estas pessoas que não tínhamos conhecido antes, fazemos a experiência de uma comunhão. E aí encontramos uma alegria.

A nossa peregrinação de confiança é, também, uma aventura interior. E gostaria, esta noite, de chamar a vossa atenção para este aspecto do nosso encontro: a confiança nos outros, a confiança em nós mesmos e a confiança em Deus são realidades intimamente ligadas.

A confiança não é cega, nem ingénua ou sonhadora. Sabe discernir o bem e o mal. É, sim, a certeza de que, independentemente da situação, mesmo na escuridão, se pode abrir um caminho de vida.

A confiança não é passiva. É uma força que nos impele em todas as situações a dar mais um passo para viver mais plenamente e para ajudar os outros a viver de forma mais plena. Estimula a imaginação, dá a coragem e o gosto de arriscar.

Mas todos conhecemos, também, o que significa não ter confiança. A fadiga, os fracassos, a amizade traída, a violência, as catástrofes naturais, a doença, tudo isso corrói a confiança, que é muito vulnerável.

A nossa confiança em Deus é muito frágil. Em certa medida, todos nós conhecemos a dúvida: duvidamos do amor de Deus, alguns duvidam mesmo da sua existência. Onde encontrar, então, a fonte da confiança?

Para que a confiança nasça e renasça em nós, precisamos de alguém que confie em nós, alguém que nos acolha, que nos ofereça a sua hospitalidade.

Lemos esta noite um relato impressionante da vida de Jesus. Caminhou sobre as águas do lago para se juntar aos seus discípulos na tempestade. Este relato parece inverosímil aos nossos ouvidos modernos. Retenhamos, no entanto, as palavras de Jesus: «Não temais, estou aqui». E a Pedro, que queria ir ao seu encontro sobre as águas, diz: «Vem». Então, Pedro atira-se à água. Olhando Jesus, chega a avançar. Porém, quando se deixa hipnotizar pelo perigo, afoga-se.

Para os discípulos, Jesus não é apenas o mestre que os ensina. Chamou-os para estar consigo e envia-os porque confia neles. Se também nós pudéssemos ver em Jesus aquele que confia totalmente em nós…

Fossemos nós o maior pecador do mundo, e ele diria as mesmas palavras que aos seus discípulos: «Não temais, estou aqui». A cada um e a cada uma de nós, ele dirige o mesmo apelo que a Pedro: «Vem», abandona as tuas pequenas seguranças, ousa enfrentar a realidade por vezes dura do mundo.

De Teresa de Ávila, essa mulher excepcional do século XVI que ainda hoje nos estimula, cantamos estas palavras: «Nada te turbe, nada te espante, quien a Dios tiene nada le falta». Disse também: «Aventuremos la vida!». Sim, a vida é bela para quem se lança e toma decisões corajosas.

Quais são estas decisões corajosas? Cabe a cada um responder, cumprindo uma peregrinação interior que vai da dúvida à confiança. Trata-se, para todos nós, de acolher o amor de Cristo para nos tornarmos artesões de confiança e de paz, perto e longe de nós.

Sexta-feira, serão de 28 de Dezembro 2018

É uma grande alegria começar esta noite o nosso encontro europeu na cidade de Madrid! Para chegar aqui, alguns de vós fizeram viagens muito longas. A cidade de Madrid, as comunidades cristãs, numerosas comunidades religiosas, muitas famílias, e mesmo pessoas que habitam sozinhas, acolhem-nos. Digamos-lhes já um grande obrigado por esta generosidade.

A hospitalidade que nos é oferecida toca os nossos corações. Cada ano, desde há mais de quarenta anos, graças aos encontros de peregrinação de confiança através da terra, fazemos a experiência desta hospitalidade como fonte de alegria.

«Não esqueçamos a hospitalidade!» - eis o apelo que desejamos aprofundar durante estes dias e ao longo de todo o ano que vem, em Taizé e noutros locais. No caderno do encontro, encontrarão cinco propostas para 2019, que fornecem pistas para a reflexão e acção.

Este ano, fizemos uma experiência de hospitalidade excepcional. No mês de Agosto, dois mil jovens de toda a Ásia, e de outros lugares também, reuniram-se para um encontro em Hong Kong. Setecentos jovens vieram da China continental.

Alguns meses antes, descobrimos esta mesma hospitalidade em Lviv, na Ucrânia. Jovens de todas as confissões cristãs presentes neste país acolheram jovens vindos de outros lugares e reuniram-se numa mesma oração comum.

Eram sinais de esperança: sinais de que as jovens gerações podem preparar para a humanidade um futuro marcado pela cooperação e não pela competição.

A hospitalidade aproxima-nos, além das diferenças e mesmo das divisões que existem, entre cristãos, entre religiões, entre crentes e não crentes, entre povos, entre opções de vida ou opiniões políticas. É certo que a hospitalidade não cola essas divisões, mas faz-nos observá-las sob uma outra luz: torna-nos aptos a escutar e ao diálogo.

A hospitalidade é um valor fundamental para todo o ser humano. Todos nós viemos à vida como pequenos bebés frágeis que precisaram de ser acolhidos para viver, e esta experiência fundamental marca-nos até ao último suspiro.

A motivação para escolher praticar a hospitalidade reside na convicção de que a nossa própria vida é um dom que recebemos. E esta convicção é alimentada pela fé. Acabámos de ler a primeira página da Bíblia. Este grande relato poético, um pouco misterioso, deseja fazer-nos compreender que tudo o que existe é um dom. O céu e a terra, o oceano, a escuridão, a luz – tudo vem de Deus. E em tudo o que existe, Deus está aí presente pelo seu sopro, o seu Espírito.

Sim, a minha vida é um dom que recebi. E os outros são também, em graus diferentes, um dom para mim. A minha própria identidade constrói-se através das minhas relações com os outros. Seguramente, o outro permanece sempre diferente de mim, não compreendo tudo no outro e, sem dúvida, não posso partilhar tudo com o outro.

Acolhermo-nos mutuamente pressupõe, então, aceitar limites, os meus e os dos outros. Acolher o outro caminha de braço dado com um discernimento. Porém, isso nunca pode transformar-se num pretexto para nos fecharmos, cedendo ao medo do outro, esse medo que está presente em todos nós.

Eis algumas reflexões sobre este belo tema da hospitalidade. Amanhã de manhã, lerão, em pequenos grupos, as duas primeiras propostas, que nos querem ajudar a entrar mais profundamente na fé, na confiança de que Deus nos acolhe sempre, e que Cristo está presente nas nossas vidas. Procuremos, procuremos, ao longo destes dias, e encontraremos.

Última actualização: 29 de Dezembro de 2018