TAIZÉ

Japão, Primavera 2016

«Como despertar em nós a coragem de misericórdia?»

 
Nos últimos meses, um irmão de Taizé visitou vários países asiáticos, durante uma longa viagem - aqui, evoca a sua estadia no Japão.

No Japão, comecei por visitar um jovem, Michio, que foi voluntário em Taizé aquando do tsunami. Desde que regressou ao seu país, é responsável pela base da Cáritas, numa das zonas afetadas pela catástrofe. O tremor de terra teve lugar há cinco anos, há falta de voluntários e o risco de cair em esquecimento mantém-se.

No entanto, ainda há trabalho a ser feito durante muitos anos. Passei todo o dia de domingo nas casas provisórias com pessoas idosas muito isoladas. Alguns conseguiram reconstruir as suas casas, mas não no mesmo lugar, para os proteger de outro eventual tsunami. Trabalhámos por toda a parte, em rotas, pontes, cortámos a parte superior de uma montanha, recuperámos a terra, de modo a elevar o nível do solo.

Nas casas provisórias, plantar flores em tanques era cumprir um pequeno gesto de reconciliação entre crianças e idosos. Simultaneamente, era uma atividade criativa para ambos. Era bonito ir ao mercado comprar flores, levá-las para as casas provisórias e passar tempo com estas pessoas.

Em seguida, fui para a região de Fukushima, no Ryusen, um pastor da Igreja Unida. Também ele já foi voluntário em Taizé, quando os irmãos viviam no Japão. Foi chamado para assumir a animação de uma pequena igreja nesta região bastante rural, situada na floresta. Para além disso, Fukushima ficou ainda a cargo de um jardim de infância. A natalidade no Japão decresceu enormemente e alguns jardins de infância devem fechar. No entanto, o de Ryousen, situado, por outro lado, no campo, acolhe uma centena de crianças. Embora a 80 quilómetros da central nuclear, há um contador de radioatividade na escola. Na vila, vemos espaços inteiros cobertos de sacos de plástico com terra radioativa, com os quais não sabemos o que fazer.

Perante estas situações, a questão que o irmão Alois colocou no fim da sua introdução às «Propostas para 2016» é muito atual: «Como despertar em nós a coragem da misericórdia, da compaixão e da perseverança na solidariedade?»

A oração é, claramente, uma das respostas, em Yonekawa, Michio reza, juntamente com quem o deseja, todas as manhãs antes de partir para o trabalho. Um outro exemplo é o grande número de jovens e adultos que vão rezar com as irmãs do Menino Jesus, em Yotsuya. É igualmente por isso que foi organizado, em Tóquio, um retiro de um dia com os animadores das orações regulares.

Um tremor de terra tão forte como em 2011 ocorreu em Kumamoto, na região em que estive. Novamente, impulsos de solidariedade surgiram de todos os lados; e novamente, questionei-me como apoiar estes impulsos aparentemente irrisórios, dada a escala do desastre. As orações que tiveram lugar em Nagasaki, na Universidade de Sophia, com os alunos de uma grande escola de Yokohama, permitiram confiar à misericórdia de Deus as vítimas de todo este recente desastre natural, bem como as suas famílias.

Uma outra resposta é parar um pouco para refletir em conjunto e em profundidade sobre esta questão. Numa pequena igreja anglicana em Ikebukuro (Tóquio), um grupo de jovens vindos de encontros europeus ou asiáticos foi capaz de o partilhar de uma maneira lúcida e realista.

Finalmente, escutar a Palavra de Deus liberta energias insuspeitas. Durante um dia de retiro com os estudantes da Universidade Kwansei Gakuin, houve uma leitura da parábola do bom samaritano a partir do ícone da misericórdia que se encontra na Igreja da Reconciliação, em Taizé. Formam-se seis grupos, cada um para atualizar um dos seis medalhões do ícone. De seguida, através de um mimo, cada grupo partilha a sua reflexão. Estes mimos abrem os olhos de todos em situações da vida quotidiana. Eles apontam os nossos pontos fortes e os nossos medos, mas mostram que, acima de tudo, é possível para cada um de nós ser um bom samaritano.

Em Tóquio, o escritório que organiza as «Jornadas Mundiais da Juventude», mostrou-se bastante interessado nas propostas de 2016 e espera utilizá-las para preparar a nível espiritual os jovens japoneses que irão à Cracóvia.

Última actualização: 5 de Junho de 2016