TAIZÉ

Intervenção do irmão Alois

Um trabalho de Verdade

 

Neste tempo em que a Sociedade e a Igreja procuram uma clarificação sobre abusos e agressões sexuais, nomeadamente de menores de idade e de pessoas frágeis, com os meus irmãos pensámos ser necessário fazermos também uma comunicação. Em Taizé, acolhemos há várias décadas, semana após semana, milhares de jovens e de menos jovens da Europa e do mundo inteiro.

Conscientes da nossa responsabilidade e da confiança que em nós colocam os jovens, as suas famílias e aqueles que os acompanham a Taizé, sempre procurámos que este acolhimento se desenvolvesse nas melhores condições, no respeito pelas convicções e numa grande atenção à segurança e à integridade de todos.

No entanto, entre jovens ou entre jovens e adultos, participantes nos encontros, podem ter ocorrido violações da integridade humana. Quando somos informados destas situações, procuramos escutar as vítimas e também alertar as autoridades competentes, judiciais e eclesiais.

Entre outras medidas, desde 2010 temos uma página do site internet dedicada à protecção das pessoas (Nota: em Maio de 2020, estas informações foram desenvolvidas e actualizadas) e foi criado um endereço electrónico para facilitar eventuais revelações. Na colina de Taizé, um dos irmãos e algumas pessoas que não pertencem à Comunidade foram encarregadas de escutar qualquer pessoa que tenha conhecimento de agressões de caracter sexual ou outras formas de violência, em particular no que diz respeito a menores de idade: isso faz parte das informações dadas a todos os participantes no momento da sua chegada.

Se faço hoje esta comunicação é porque tive conhecimento, com uma grande tristeza, de casos implicando irmãos. Mesmo se são antigos, em Comunidade pensámos que deveríamos falar deles. Refiro-me a cinco casos de agressões de carácter sexual cometidas sobre menores, nos anos 50 a 80, por três irmãos diferentes, dois dos quais morreram há mais de quinze anos. [1]

Quando fui informado destas acusações, a primeira coisa que fiz, com outros irmãos, foi escutar as pessoas vítimas, num respeito absoluto pela sua palavra, ouvindo o seu sofrimento e acompanhando-as o melhor possível.

Nestes últimos anos, na Sociedade e na Igreja, a compreensão da gravidade de qualquer atentado à integridade humana tem-se felizmente aprofundado. Isso encontra um eco na evolução da lei francesa, que exige que se comuniquem às autoridades todos os casos, independentemente da época em que os actos tenham sido cometidos.

Para continuar o nosso trabalho de verdade, e depois de ter falado com as pessoas vítimas, acabo de informar o Procurador da República destas cinco situações.

Reconhecemos que estas agressões, cometidas no passado pelos irmãos, também fazem parte da história da nossa Comunidade. Para nós, esta comunicação ao Procurador inscreve-se num trabalho de verdade que já tinha começado pela escuta das vítimas e hoje é ainda para elas que se dirigem os nossos primeiros pensamentos. Ao ouvir o que elas viveram e sofreram, sentimos vergonha e uma tristeza profunda. É possível que esta intervenção incite outras eventuais vítimas a falar: nesse caso, estaremos à escuta delas e procuraremos acompanhá-las nas acções que elas pretenderem desenvolver.

Estamos convencidos que é apenas trazendo luz sobre estes actos que poderemos contribuir, ajudados por pessoas de fora da Comunidade, a proteger de forma eficaz todos aqueles que confiam em nós vindo a Taizé. Se falo hoje é porque devemos isso às pessoas vítimas, aos seus familiares e próximos e a todos os que procuram em Taizé um espaço de confiança, de segurança e de verdade.

irmão Alois
Quarta-feira, 4 de juho de 2019

Qualquer agressão, antiga ou mais recente, cometida contra uma pessoa menor ou maior de idade, seja por um irmão que tenha abusado da sua ascendência moral ou por qualquer outra pessoa, pode ser comunicada ao endereço taize.safeguarding protonmail.com ou a uma associação de apoio à vítima.


Nota actualizada em Julho de 2019 ↓

Depois da comunicação feita pelo irmão Alois a 4 de Junho, várias pessoas escreveram para o endereço taize.safeguarding protonmail.com. Isso levou o irmão Alois a informar o Procurador da República de duas acusações de agressão sexual contra menores, que ocorreram nas décadas de 1960 e 1970, por um irmão que morreu há mais de vinte anos e por outro irmão que deixou a Comunidade há mais de quarenta anos. Além disso, outros testemunhos recebidos implicam novamente um dos irmãos mencionados na primeira comunicação, que morreu há mais de quinze anos, e descrevem um abuso de autoridade que conduziu a carícias sobre jovens adultos.


Nota actualizada em Outubro de 2019 ↓

Depois de ter publicado, dia 4 de Junho, uma comunicação sobre «Um trabalho de Verdade», o irmão Alois recebeu recentemente o testemunho de uma senhora descrevendo um forte domínio por parte de um irmão, acusando-o de manipulação e assédio espiritual, psicológico e sexual durante vários anos. Segundo o que ela contou, esse comportamento começou em 2003, quando, enquanto jovem, participava nos encontros internacionais de Taizé e continuou até ao Verão deste ano.

O irmão Alois notificou imediatamente as autoridades competentes e a polícia ouviu o testemunho da vítima. O irmão em questão foi acusado de «violação e agressão sexual» e está em prisão provisória. Cabe agora à justiça reconstituir os factos e qualificá-los juridicamente.

O irmão Alois declara: «Com os meus irmãos, estamos extremamente chocados. Queremos que toda a luz seja feita. Um comportamento destas é completamente incompatível com a nossa vida. Estou ao lado da pessoa vítima e faremos todo o nosso possível para a apoiar.»

Para continuar este trabalho de Verdade, a Comunidade recorda que foram tomadas várias medidas para recolher eventuais testemunhos, nomeadamente através do e-mail taize.safeguarding protonmail.com.

Excerto da meditação do irmão Alois de 22 de Outubro «Que toda a luz seja feita» ↓

Devo também dizer-vos que, enquanto continuamos a animar esta «peregrinação de confiança» com muita alegria, também estamos a atravessar, nos últimos tempos, uma realidade muito sombria que acho importante partilhar agora convosco.

Nos últimos meses, desenvolvemos um trabalho de verdade a respeito de acusações de agressões a carácter sexual cometidas por irmãos a jovens menores, entre os anos 1950 e os anos 1980.

(...) Depois de relatar esses testemunhos à justiça e depois de os divulgar publicamente, recentemente recebi mais um testemunho, chocante, acusando um irmão de manipulação e assédio espiritual, psicológico e sexual, desde há muitos anos.

Para esclarecer toda a questão, encaminhei imediatamente esse testemunho às autoridades competentes. Há alguns dias, o irmão acusado foi detido para interrogatório e depois acusado de violação e agressão, tendo ficado em prisão preventiva.

É claro que devemos esperar que a verdade seja estabelecida. Mas devemos dizer claramente: se esses factos forem verdadeiros, isso significa que esse irmão traiu a confiança que lhe fora confiada. A confiança da vítima, antes de tudo, mas também a confiança daqueles que vêm aqui e também a confiança dos irmãos.

(...) Se decidi falar-vos hoje sobre este assunto tão sério foi porque a nossa comunidade quer fazer tudo para que Taizé permaneça para você um lugar de confiança, um lugar no qual todos são acolhidos tal como são e respeitados na sua integridade.

O texto completo desta meditação está publicado no site em:
- em francês
- e em inglês


Nota actualizada em Março de 2020 ↓

No passado mês de Junho, publicámos aqui um texto sobre acusações de agressão sexual, duas das quais implicando um irmão ainda vivo. Depois dessa comunicação inicial, chegaram à Comunidade outros testemunhos envolvendo o mesmo irmão, relatando também agressões sexuais a menores, sob a forma de carícias. Estes testemunhos foram transmitidos às autoridades responsáveis pelo inquérito.

É da exclusiva responsabilidade da autoridade judicial classificar os factos perante a Lei e determinar as consequências legais da sua ancianidade. Mas nada permite duvidar do testemunho das vítimas, cujo sofrimento permanece presente tantos anos depois. Perante a gravidade das acusações feitas e da sua incompatibilidade com os compromissos assumidos pelos irmãos, o irmão Alois informou-o que é preferível que ele deixe a Comunidade. Ele vai viver noutro lugar e, tendo em conta a sua idade, um irmão viverá com ele e outros vão ajudar a acompanhá-lo durante este período de sua vida.

O irmão Alois acrescenta: «Sei tudo o que com os meus irmãos recebemos dele e estamos profundamente tristes. Espero que esta decisão, cujo impacto e gravidade eu compreendo, nos ajude - e a ele também - a avançar neste caminho de verdade.»


Nota actualizada em Junho de 2020 ↓

Em Outubro passado, um irmão foi detido (ver nota acima de Outubro de 2019). Foi libertado, sob supervisão judicial, no início de Maio deste ano. A investigação prossegue, enquanto se aguarda a decisão judicial. Independentemente do resultado do processo judicial, e de mútuo acordo com ele, foi decidido pôr termo à sua pertença à Comunidade.


Nota actualizada em Novembro de 2022

Após a criação em França de uma comissão independente, chamada «Reconhecimento e Reparação», para pessoas vítimas de religiosos na Igreja, o prior de Taizé, irmão Alois, reuniu-se em Janeiro com o seu presidente, o magistrado Antoine Garapon, que concordou em lidar com denúncias envolvendo irmãos da Comunidade e nomeou dois membros da Comissão para esse fim. Qualquer pessoa que deseje contatá-los pode fazê-lo directamente por e-mail ou através do site. [2]

Por outro lado, um depoimento enviado ao endereço taize.safeguarding protonmail.com foi enviado ao Ministério Público de Mâcon, que implica mais uma vez o ex-irmão acusado de várias agressões sexuais (ver o texto de Junho de 2019 e nota actualizada de Março 2020).

Por fim, a Comunidade informa que a seu convite uma equipa independente de quatro pessoas veio a Taizé no início de Novembro de 2022 para iniciar uma auditoria à política de proteção de pessoas e fazer recomendações.


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Última actualização: 25 de Novembro de 2022

Notas

[1Sobre este assunto, ver a nota actualizada de Março de 2020.

[2Esta página será actualizada em caso de eventual denúncia ao Ministério Público ou a pedido da Comissão «Reconhecimento e Reparação».

Ver também: