O irmão Roger declarou diversas vezes, e escreveu no seu último livro, que tinha reconciliado em si mesmo sem ruptura a sua fé reformada e a tradição católica. Será que se poderia respeitar o seu percurso e não querer recuperar confessionalmente o que ele queria ultrapassar? Protestantes querem frequentemente catolicizá-lo; católicos querem ver uma conversão (como se estivessem a cantar vitória) naquilo em que ele via uma reconciliação, uma comunhão sem ruptura.
Ao categorizar o que ele não queria categorizar, evitamos sem grande custo ser interpelados por um percurso de reconciliação que nos perturba porque nos chama a uma mudança. Faríamos melhor, para sermos evengélicos, em procurar entrar num percurso semelhante de cura das exclusões confessionais. A nossa paisagem cristã e as nossas mentalidades limitadas são tais que temos dificuldade em pensar na reconciliação das duas: se se é católico, já não se é protestante; e se se é protestantes, já não se é católico. É a realidade institucional e formal das nossas Igrejas. É também o seu pecado.
O irmão Roger entrou num percurso pós-confessional ou, dizendo de outra forma, de ultrapassagem destas clivagens confessionais. Isso parece-nos insólito, parece ir para além do que podemos imaginar, mas era esse o seu percurso. Mesmo que não o partilhemos, o mínimo que podemos fazer é respeitá-lo.
Pastor Gill Daudé,
Responsável pelo serviço de relações ecuménicas da Federação Protestante de França