Obrigado, Santo Padre, por ter convocado este Sínodo. Em Taizé tocou-nos muito o convite para a sua abertura. Obrigado também pela tradição de convidar delegados de outras igrejas. Será precioso ouvi-los falar sobre sua prática da sinodalidade, dos seus benefícios e dos seus limites.Este processo sinodal ocorre num momento crucial em que constatamos duas evoluçoes contraditórias. Por um lado, a humanidade está mais consciente de que estamos todos ligados uns aos outros e ligados a toda a criação. Por outro lado, as polarizações agravam-se nos planos social, político e ético e provocam novas fracturas nas sociedades, entre os países e até dentro das famílias.
Infelizmente, entre as nossas Igrejas e dentro das nossas Igrejas, há diferenças que também tendem a tornar-se polarizações separadoras, ao passo que o nosso testemunho de paz seria vital.
Como promover a unidade dos cristãos? Recentemente, coloquei esta pergunta ao pastor Larry Miller, antigo Secretário-geral do Fórum Cristão Mundial. Ele respondeu: «Não é bom começar dizendo: ’É isto que nós somos e porque é que temos razão.’ Em vez disso, trata-se de reconhecer as nossas fraquezas e de pedir às outras igrejas que nos ajudem a receber o que nos falta - ou seja, um ecumenismo receptivo, que nos permite acolher o que vem dos outros.» Não estará este pastor a ver bem? Todos levamos o tesouro de Cristo em vasos de barro e talvez ele brilhe ainda mais quando reconhecemos humildemente o que nos falta.
Dentro da própria Igreja Católica, o sínodo vai salientar grandes diversidades. Estas diversidades serão tão fecundas quanto mais a procura da comunhão se aprofundar simultaneamente. Não para evitar ou ocultar conflitos, mas para alimentar um diálogo que reconcilie.
Para promovê-la, parece-me desejável que haja, no caminho sinodal, momentos de respiração, como paragens para celebrar a unidade já realizada em Cristo e torná-la visível.
A este respeito, Santo Padre, visto que nos convidou a sonhar, gostaria de partilhar um sonho. Será que seria possível que um dia, durante o processo sinodal, não só os delegados, mas o povo de Deus, não só os católicos, mas os crentes das várias Igrejas, fossem convidados para um grande encontro ecuménico? Pelo baptismo e pela Sagrada Escritura, somos irmãs e irmãos em Cristo, unidos numa comunhão ainda imperfeita mas muito real, mesmo quando as questões teológicas permanecem sem resposta.
Um encontro assim - aqui em Roma e ao mesmo tempo noutras partes do mundo - teria no centro uma celebração sóbria de escuta da Palavra de Deus, com um longo momento de silêncio e uma intercessão pela paz. Será que poderiam ser jovens a animá-la? E poderia essa celebração prolongar-se com tempos de partilha intercofessionais? Descobriríamos que, estando unidos em Cristo, nos tornamos artesãos de paz.
A nossa experiência em Taizé incentiva-me a fazer esta proposta. Na nossa Comunidade, vindos de várias denominações, vivemos sob o mesmo tecto. Há mais de sessenta anos, acolhemos jovens de diversas Igrejas ou simplesmente em busca do sentido das suas vidas. Longe de nos pormos de acordo num mínimo denominador comum, somos constantemente instados a ir à fonte do Evangelho, a Cristo Ressuscitado que, por meio do Espírito Santo, nos conduz juntos ao Pai de todos os seres humanos, sem exceção.
Fotografia: Tilen Čebulj