TAIZÉ

Camboja

Visitas em Abril de 2013

 

Em abril de 2013, dois irmãos estiveram no Camboja para uma série de orações e um retiro com jovens de três dioceses. Um deles conta a sua visita à casa St Elizabeth, um dos projetos apoiados pela Operação Esperança:

A casa pode agora acolher mais pacientes, muitas vezes acompanhados por um familiar. O que se nota imediatamente é a dignidade dada a todos, cada um é tratado num ambiente muito familiar e muito humano: estava lá um jovem casal com seu pequeno bebê, que tem um cancro. A criança necessita de cuidados regulares e os pais podem revezar-se e garantir que um deles está sempre perto do filho. Noutro quarto, encontro um rapaz que também tem cancro e que está lá com o seu irmão. Percebe-se que não estamos numa instituição, mas numa casa onde há lugar para todos. Um membro da casa vai acompanhar um doente ao hospital, para verificar que ele é recebido e percebe o tratamento que deve fazer. A sensação de segurança prevalece em St Elizabeth e, sobretudo, vê-se que a alegria nos rostos. As fotos mostram isso mesmo!


Em Abril de 2011

«Encontrámos, sem dúvida, uma nova alegria»

Os irmãos da Comunidade de Taizé voltaram ao Camboja em Abril de 2011. Um deles partilha a experiência:

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«Ubi Caritas et amor, Deus ibi est». Que surpresa ao ouvirmos este cântico de Taizé aqui em Kampong Ko, uma pequena aldeia à beira-rio perto da cidade de Kampong Thom, no centro do Camboja. Fomos acolhidos por um padre amigo que nos convidou a acompanhá-lo à Eucaristia de domingo. Demorou-nos 45 minutos a chegar lá e passámos pela aldeia onde nasceu Pol Pot, o líder do Khmer Vermelho que tanto sofrimento trouxe ao país. Depois a estrada estreitou-se, passámos campos de arroz, vimos vacas a tomar banho nas lagoas, e chegámos finalmente à igreja. Antes do período difícil do Khmer Vermelho, havia, na aldeia, uma igreja feita de pedra, e até um hospital e uma escola. Depois tudo mudou. A igreja foi destruída, os cristãos foram atacados e ameaçados de morte, e muitos sofreram mesmo martírios. Actualmente a aldeia não tem electricidade, a água do rio é usada para tudo: lavar a roupa, tomar banho, até mesmo como fonte de água para beber. O padre explica que não é raro haver quem fique doente por isso. Muitas pessoas não aprenderam a ler nem a escrever, por isso a paróquia tomou a iniciativa de construir uma escola. É a esperança num futuro melhor.

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A vida aqui não é fácil e ainda assim encontrámos imensa alegria. Aguardava-nos um jovem da paróquia, que dirige o coro. Alguns dos jovens conhecem Taizé porque houve orações regulares com os cânticos de Taizé na residência dos estudantes em Phnom Penh. Ficámos muito contentes por participarmos nas suas orações, por cantarmos «Ubi caritas» com eles durante as intercessões, e de oferecermos a Deus a nossa esperança na paz e na justiça para o mundo. Depois da eucaristia, duas raparigas da paróquia levaram-nos num barco e atravessámos o lago para visitar algumas famílias. Em cada lugar tivemos um acolhimento espantoso! Não pudemos falar muito, apenas alguns deles sabiam um pouco de Inglês, mas havia sempre um sorriso, sempre algum sinal de alegria. Entre estas pessoas tão pobres – que todos os dias têm que lutar pelas necessidades básicas, na pesca ou no trabalho nos campos de arroz, descobrimos algo que está escrito na Carta do Chile: «Por vezes, os que conhecem a pobreza e a privação conseguem ter uma alegria de viver muito espontânea, uma alegria que resiste ao desalento.» Encontrámos, sem dúvida, uma nova alegria, durante a visita a esta comunidade.

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Alguns dias antes, a sul da capital do Camboja Phnom Penh, encontrámo-nos com cerca de 50 jovens que se tinham reunido em Kampong Som para receberem formação em liderança de grupos. Actualmente, depois de ter vivido tanto sofrimento e perseguição, a Igreja do Camboja está a caminho de renascer. É evidente que estes jovens são o futuro. Cada paróquia da diocese enviou jovens para este programa de formação. Alguns deles pertencem a famílias que são cristãs desde há várias gerações. Outros estão só no processo de descoberta da fé. Começámos com um momento de oração, com cânticos de Taizé cantados em Khmer. Depois continuámos com uma introdução bíblica, e um momento de silêncio pessoal seguido de uma partilha em pequenos grupos. Cada grupo pode escolher um dos três temas da Carta do Chile: «Alegria, Compaixão, e Perdão». Antes da oração do meio-dia alguns jovens partilharam com os outros aquilo que tinham descoberto. Ficámos contentes de saber como o desejo da alegria, o compromisso de compaixão pelos outros, e o desejo de receber o perdão e de perdoar, é comum a todos nós.

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Alguns dias mais tarde, alguns dos jovens juntaram-se a nós para uma oração na paróquia BTP em Phnom Penh. Os jovens da paróquia e o coro não estavam seguros quanto à quantidade de pessoas que viria, por ser, aquela a altura, o tempo em que se celebra, no Camboja, o Ano Novo Khmer. «Se calhar, irmão, vão aparecer apenas algumas pessoas», avisaram-nos, para que não ficássemos desiludidos. Ainda assim, decidiram preparar bem a igreja, com ícones, lençóis laranja e imensas velas. Para surpresa de todos, veio imensa gente e a igreja ficou mesmo cheia. A adoração da cruz continuou até tarde e foi espantoso ver a grande diversidade de participantes. Para além dos jovens e dos padres da paróquia, havia também membros mais velhos da paróquia e irmãs de congregações religiosas, a par de jovens, que durante três anos tinham feito a preparação para o baptismo e que iam ser baptizados na Páscoa. Havia também um pequeno grupo com um pastor da igreja evangélica, onde há regularmente orações com cânticos de Taizé; um grupo de doentes de um lar católico St. Elisabeth das redondezas; até o próprio bispo compareceu.

Aqui na capital barulhenta e agitada, tal como na aldeia à beira-rio, redescobrimos a verdade das palavras que tantas pessoas cantam pelo mundo inteiro: «Ubi Caritas et amor, Deus ibi est.....» «Onde há amor e caridade, aí está Deus».


Luz de esperança

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Em Novembro de 2007, o irmão Alois acompanhado por outro irmão viajaram na Ásia, para visitar os irmãos que vivem na Coreia e para animar encontros de jovens em vários países. Durante esta viagem, o irmão Alois quis fazer uma etapa no Camboja, onde os cristãos foram duramente reprimidos durante um período sombrio da história recente. Os irmãos visitaram as três dioceses do país, tendo ido a Kompong Tom, depois a Kompong Cham e terminando a viagem em Phnom Penh.

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No dia 29 de Novembro, mais de 600 jovens estiveram presentes numa oração na paróquia de São José de Phnom Penh, durante a qual o prior de Taizé expressou a sua grande alegria por rezar na capital do Camboja. Meditando na frase de Cristo «vois sois a luz do mundo» (João 8,12), o irmão Alois pôde sublinhar a esperança que suscita o renascimento da Igreja no Camboja: «mesmo se a vossa Igreja é muito pequena, a sua luz brilha até em Taizé, onde nós estamos em França.»

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Hoje, a dimensão da oração e a da solidariedade estão intimamente ligadas na vida das comunidades cristãs do Camboja. Para além do trabalho das ONG, há uma imensidão de pequenas iniciativas discretas que respondem a necessidades locais. O irmão Alois sublinhou essa ligação entre ligação e solidariedade na vida dos cristãos: «É bom ver como as vossas paróquias e comunidades são locais de esperança, lugares onde as pessoas rezam juntas e onde se expressa de forma muito concreta uma solidariedade para com os mais pobres».

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«A visita do irmão Alois foi muito significativa para os cristãos do Camboja, foi como um sinal da sua pertença à Igreja Universal», dizia Sok, um jovem cambojano da equipa de preparação, entrevistado pela agência de notícias UCAN. Tendo vivido as provações muito pesadas que o país atravessou, os cristãos do Camboja encontraram na oração coragem para preservar: é uma esperança que irradia bem para além das fronteiras do país e que nos chega «da confiança de que Deus está sempre presente nas nossas vidas e na história dos nossos países.»


Começai em vós a obra da paz

Um irmão descreve a visita que fez, no início de 2003, a várias regiões do Camboja, com as suas novas comunidades cristãs, e uma experiência de oração contemplativa numa aldeia junto ao rio Mékong.

«Estará connosco na altura das eleições!» Foram as primeiras palavras que ouvi quando cheguei a Phnom Penh. Os amigos que me esperavam no aeroporto pareciam felizes por me verem nesse momento, que era um pouco tenso para todos os cambojanos. A campanha eleitoral estava no auge, a quarta desde o início da democracia. As eleições anteriores nem sempre se tinham passado com calma, e as lembranças de um passado ainda recente vinham inevitavelmente à memória.

Tive a impressão que a minha visita encontrava imediatamente o seu sentido nos tempos de oração e de reflexão, nas palavras de Santo Ambrósio citadas em várias Cartas anuais: ‘Começai em vós a obra da paz, de forma a que, uma vez pacificados, possais levar a paz aos outros.’

Durante essas quase três semanas, atravessei grande parte do país; em todo o lado flutuavam bandeiras de diferentes partidos e os que me guiavam falavam-me da situação política.

Como nos Actos dos Apóstolos

Ao visitar novas comunidades, parecia-me que estava a ler os Actos dos Apóstolos: catecúmenos, pessoas a caminho, cristãos espalhados que se reúnem em pequenas comunidades.

Em Phnom Penh, houve um serão muito bonito na igreja de Psar Toit com cristãos de diferentes confissões. Como noutros locais, a oração foi precedida pela leitura da Carta para 2003, Deus só pode amar, seguida de um tempo de silêncio e de partilha em pequenos grupos. Os cânticos eram muito conhecidos, pois são utilizados nas celebrações dominicais. Mas para muitas pessoas, o silêncio e a simplicidade em que tudo aconteceu constituíam uma descoberta.

Todos os dias num local diferente

Os encontros sucediam-se todos os dias num local diferente. Embora o programa fosse sempre o mesmo, tudo parecia diferente de um local para o outro, porque as situações eram muito diferentes: a 11 km de Phnom Penh, numa pequena comunidade sobretudo vietnamita, nascida num bairro onde havia muita prostituição; em Kompot, onde estive com um dos jovens padres khmers e uma dúzia de alunos do liceu (mas que já têm à volta de 21 anos…); em Kompong Som, que também se chama Sihanoukville, o encontro realizou-se no Centro Dom Bosco com jovens da cidade e as suas famílias. Foi muito bonito ver as mães e as crianças chegarem pouco a pouco e em pequenos grupos, como se a notícia se tivesse transmitido entre conhecidos e se tivessem decidido a vir. A igreja de Kompong Som foi construída antes da época de Pol Pot, altura em que serviu de prisão. Morreu aí uma irmã de uma comunidade religiosa.

Em Siem Reap foi um jovem bispo que nos guiou, o que nos deu a oportunidade de falar durante várias horas. Ele mudou verdadeiramente a vida da diocese. Preocupa-se muito em integrar a dimensão social na vida pastoral. Por exemplo, construiu um centro de acolhimento para crianças deficientes mesmo atrás da sua casa. Também tentou estimular a vida cultural: foi graças a ele que os jovens voltaram a aprender danças clássicas.

Uma pequena aldeia junto ao rio Mékong

A principal razão desta visita ao Camboja foi um convite para partilhar uma experiência contemplativa com leigos empenhados na diocese de Kompong Cham. Não há comunidades contemplativas cristãs nesta diocese desde 1970. No entanto os pagodes e os mosteiros budistas têm-se multiplicado.

O local escolhido para esta experiência de contemplação foi K’dol Leu, uma pequena aldeia junto ao rio Mékong, onde já fui três vezes, mas nunca nesta altura do ano. Foi verdadeiramente maravilhoso sob todos os pontos de vista. Viajámos de mota, de manhã cedo, aldeia após aldeia, pagode após pagode – cujo ouro das colunas cintilava com os primeiros raios de sol – depois vimos uma mesquita, apanhámos uma barca para atravessar o rio e, por fim, chegámos à aldeia! As suas casas alinham-se ao longo das margens do Mékong, construídas sobre pilares por causa das inundações causadas pela monção. Era tudo muito simples, mesmo rudimentar. Não havia electricidade e para nos lavarmos tínhamos a água do rio. Um pequeno grupo de mulheres da aldeia cozinhava ao ar livre numa fogueira de lenha, com a ajuda de alguns jovens. A igreja também está sobre pilares: é uma bela construção de madeira castanha escura com duas janelas a dar para o rio. A vegetação era abundante por causa das chuvas, com uma profusão de flores. Éramos uns vinte, e para quase todos era uma primeira experiência de retiro e de silêncio.

Havia catequistas a tempo inteiro e outros que, mesmo sendo agricultores, dirigem uma das comissões diocesanas. Foi um desafio preparar um encontro destes, mas acho que nos compreendemos e que as pessoas se sentiram tocadas pelas imagens da Bíblia que partilhámos. Eles eram todos jovens no tempo de Pol Pot e da ocupação vietnamita que lhe sucedeu. De certa forma foram sempre escravos, mas aqui aperceberam-se que existem, que Deus não é alguém de quem temos que merecer favores, mas alguém que é o primeiro a amar-nos. Pouco a pouco, as suas expressões mudavam, acalmavam, e vários diziam: «Não sei o que hei-de dizer, apenas posso dizer que estou feliz». Toda a comunidade foi convidada para a última noite: uma multidão de crianças, de mães e de homens que regressavam do trabalho encheu a igreja para uma oração particularmente festiva.

Última actualização: 12 de Fevereiro de 2017