TAIZÉ

Porto

«Toca a entrar no jogo!»

 

No rescaldo de Taizé-Porto: atenção ao mundo e à Igreja

«Durante a minha infância e juventude, ser cristã e ir à Igreja, ao Domingo e mesmo durante a semana, rezar e ter reuniões de jovens era a regra e não a excepção. Agora vivo na Inglaterra e sucede o contrário. As pessoas perguntam-me porque faço o que faço e continuam na sua vida, indiferentes.»
(Uma jovem polaca no grupo de reflexão)

Além de toda a evidente mobilização de jovens e comunidades cristãs do Porto, de Portugal inteiro e doutros vinte e quatro países de quatro continentes, o encontro de Taizé irá permanecer pelos seus frutos na sociedade e na Igreja.

Gosto de dizer que Taizé é uma «avalanche» e não apenas uma «peregrinação da confiança» porque provoca um efeito contagiante e por arrastamento: uns acolhem sem conhecer, outros deixam-se acolher sem hesitar, todos juntos porque confiam em Alguém comum que os faz confiar uns nos outros. Este é o primeiro fruto: renovar a esperança e o optimismo sobre a bondade possível de cada ser humano. Pode ler-se na Carta da China escrita pelo irmão Alois: «permaneçamos atentos para não nos deixarmos invadir por uma visão pessimista do futuro».

Surge, em segundo lugar, a referência constante de Taizé ao Deus que nos procura e por Quem podemos deixar-nos amar. Esta palavra libertadora sobre o amor de Deus nunca falta nos encontros e meditações de Taizé. Certamente bem precisamos de a ouvir e tanto mais os jovens hoje tão agredidos pelas mesmas instituições que a eles devem dedicar-se. E, nestes dias, foi possível não apenas dizê-lo mas vivê-lo no cuidado e preocupação que as comunidades e os jovens empregaram no acolhimento aos outros: Deus ama-nos e revelou-Se no calor humano e cristão dos outros. Como deverá ainda continuar a revelar-Se na oração e na prática solidária para com o povo haitiano, bem recordado neste encontro.

Por fim, como bons estafetas, foram entregues dois testemunhos ou missões aos jovens: a evangelização activa e a formação cristã. O diagnóstico do irmão Alois não esconde muito realismo (enganam-se os que pensam que Taizé é como um comprimido efervescente e dissociado das circunstâncias concretas) e alguma preocupação: «a fé parece desaparecer em muitas sociedades». O testemunho da jovem polaca que abre esta partilha é eloquente. E talvez possa ser o mesmo o de tantos jovens portugueses… Mas a constatação do Prior de Taizé vem acompanhada de um encargo: «precisamos encontrar as palavras adequadas e simples para tornar acessíveis aos outros a fé que nos faz viver». Apesar desse cenário duro da dissolução da fé, os (jovens) crentes não devem resignar-se mas antes estar disponíveis e preparados para dar razões da esperança que os anima (1 Pe 3,15). E, diante do facto de que «muitas crianças crescem sem nunca ninguém lhes ter dito que Deus as ama», ele pergunta e desafia «quem serão os jovens disponíveis a acompanhar uma ou várias crianças no caminho da fé?»

Não era preciso pensar muito… bastava levantar um pouco o olhar sobre os jovens presentes no Dragão Caixa ou na Igreja da Trindade e perceber que a maioria estão em idade escolar ou universitária e outros já (ou a entrar) no mundo do trabalho. Foi acertadíssimo e muito feliz referir que «muitos de vós, nos próximos anos, ireis adquirir uma competência intelectual e/ou laboral elevada. Também a vossa fé não deve ficar ao nível de expressões infantis». Porque é certamente esta uma das razões do eclipse da fé em muitos cristãos: são crentes e até em profundidade, mas tão poucos esclarecidos e informados que são incapazes de suportar as adversidades e provocações do tempo presente. O irmão Alois não quer que tal aconteça aos jovens.

Foi dado o pontapé de saída… não fosse o Dragão Caixa o ponto de referência do encontro! Toca a entrar no jogo.

P. Pablo Lima, Director do DNPJ

21 de Fevereiro de 2010

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Taizé: beleza, jogo, religião

Começou este sábado na Invicta o Encontro Ibérico de Taizé. Organizado conjuntamente pela Comunidade de Taizé e pelos Secretariados Diocesanos de Pastoral Juvenil e Universitária do Porto, integrado, aliás, no projecto Missão 2010.

Esta comunidade fundada pelo irmão Roger, na sua vocação ecuménica, tem criado pontes entre países, igrejas, culturas e mesmo religiões diversas através do seu carisma contemplativo de simplicidade, oração e beleza. Por isso digo que quem vai a Taizé ou participa num Encontro por ela promovido realiza uma experiência estética, lúdica e religiosa.

Experiência estética porque em Taizé tudo é simples e, por isso, tudo é belo. Simplicidade está aqui nas antípodas de banalidade. A beleza é uma porta para a humanização e disso precisa urgentemente a nossa sociedade dita pós-moderna mas, porventura, bastante mais embrutecida e superficial do que qualquer outra porque ruidosa e grotesca. Sobra dizer que a via pulchritudinis foi a privilegiada dos místicos de todos os tempos e lugares.

Trata-se também de uma experiência lúdica no sentido mais rico do termo. Lembremos «a Liturgia como Jogo» de R. Guardini, no seu celebérrimo «Espírito da Liturgia». Ele equipara a liturgia a um jogo porque este quando autêntico é gratuito, desinteressado, cria laços fraternos, obriga a entrar na lógica das regras partilhadas e construídas em conjunto, tornando os homens iguais e simples como crianças. E, sobretudo, o jogo leva ao sorriso: a mais bela assinatura de Deus no corpo humano.

Finalmente, Taizé propicia uma experiência religiosa. Abre ao silêncio, convida a sentar-se, afina o ouvido para a escuta e a voz para o canto. Alguns dirão que é uma experiência um pouco nebulosa, que não cria raízes porque é muito intensa mas fugaz. É aqui que entra a responsabilidade dos agentes de evangelização, mormente os da pastoral juvenil, em dar continuidade a esta que é uma experiência liminar, em quantos porventura não conhecem ou se afastaram mesmo da fé, e em ordem a um encontro profundo e contínuo com o Senhor Jesus. Compete aos cristãos fazer deste que é um ensaio religioso um ensaio do essencial cristão para quantos nele participam.

O irmão Alois pergunta no texto de convite: Como purificar em nós a fonte de esperança e de alegria? E o Bispo do Porto, Dom Manuel Clemente, insinua a resposta: A Páscoa do Senhor é a Páscoa da verdadeira alegria.

Surrexit Dominus vere! Bom encontro!

P. Pablo Lima, Director do Director do Departamento Nacional de Pastoral Juvenil

14 de Fevereiro de 2010
Última actualização: 21 de Fevereiro de 2010