TAIZÉ

Encontro da Peregrinação de Confiança nas Filipinas

 

«Uma sede de vida em plenitude...
um convite a transformar o mundo.»

De quarta-feira dia 3 até domingo dia 7 de Fevereiro, teve lugar em Manila o 5º Encontro Asiático de Jovens, etapa da «Peregrinação de Confiança através da Terra» animada pela comunidade de Taizé.

A grande maioria dos jovens veio de várias regiões das Filipinas. Incluindo a participação de numerosas famílias de acolhimento, o encontro reuniu 6000 pessoas, das quais 500 eram jovens de outros países da Ásia e 200 da Europa e da América, de diferentes confissões religiosas.

Os participantes, entre os 16 e os 35 anos de idade, foram recebidos nos 77 centros de acolhimento das paróquias. No acolhimento, estiveram envolvidas as paróquias católicas e algumas paróquias não católicas. A partir daí os jovens estiveram nas famílias, onde ficaram alojados durante todo o encontro.

Três orações por dia e encontros em pequenos grupos com temas baseados na «Carta da China» escrita pelo irmão Alois, foram os elementos essenciais do programa. Cada noite, o irmão Alois fez uma medição durante a oração.

Domingo 7 de Fevereiro, às 10 horas, o cardeal G. Rosales, Arcebispo de Manila, presidiu a celebração eucarística. O encontro nas Filipinas foi preparado em estreita colaboração com a ECY-NSYA, Comissão Episcopal para os jovens – Secretariado nacional para o apostolado da juventude.

Catherine é inglesa e estudante de medicina. Actualmente faz um estágio em Manila no Departamento da O.M.S. para a sobrevivência da criança. Durante o encontro de Manila, enviou as notícias dos acontecimentos de cada dia.

O encontro dia-a-dia

Terça-feira 2 de Fevereiro

O irmão Roger visitou a «Smokey Mountain» em 1991, a montanha de resíduos de Manila, fumegando no calor de uma manhã de domingo. É uma montanha tão alta e tão extensa que do topo podemos ver desde as gruas do porto ao longe, até ao horizonte azul da baía de Manila. E no sopé da montanha, uma pequena igreja em madeira enche-se de crianças e de jovens cantando juntos «Sapagmamahal», «Naroroon Diyos ang». Onde está o amor, Deus está presente. Depois, o silêncio. E que silêncio! Apenas interrompido pelo canto dos galos e pelo ruído do trânsito ao longe. Os jovens da equipa de preparação de Taizé são acolhidos aqui com alegria e generosidade. E mais no final da semana também peregrinos de outras regiões das Filipinas, e mesmo de fora, serão acolhidos nesta paróquia, a do Cristo Ressuscitado, em Smokey Mountain. Sim, aqui há certamente amor. Sapagmamahal, Naroroon ang Diyos.

Mais ao sul, embalada na agitação da cidade de Manila, a nossa pequena sala de preparação no Don Bosco Technical Institute parece encolher à medida que as equipas de irmãos, irmãs e voluntários aumenta a cada dia que passa. Há energia no ar; as pessoas vão e vêm, preparam, cantam, partilham. Pintam-se painéis com bonitas caligrafias antigas de vários países da Ásia para acolher toda a gente.

Selamat datang! स्वागत! Mabuhay! 환영! 欢迎! Bem-vindos!

As crianças jogam basquetebol nos espaços livres entre os prédios. Um dos campos de basquetebol, que será o nosso imenso espaço de oração, está decorado com três tipos de bambu das Filipinas, dispostos como tubos de órgão, verdes de uma nova vida. Aqui, nas Filipinas, o bambu é um símbolo de unidade – como pode um tronco manter-se sozinho?

Este fim-de-semana foi a festa de Don Bosco e todo o lugar estava a palpitar de vida, de música e de festa. Lembramo-nos que o encontro de Calcutá, em 2006, teve também lugar numa escola Don Bosco, cujo compromisso era o de avançar ao lado dos jovens. Não será também por isso que estamos aqui? Alegramo-nos por quarta-feira, quando muitos mais se vão juntar a nós nesta aventura da Peregrinação de confiança sobre a Terra.

Quarta-feira 3 de Fevereiro

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Hoje vamos acolher e ser acolhidos. E com que alegria! Os grupos de jovens estão sentados em conjunto, há rostos de toda a Ásia e também de fora; descansam depois de longas viagens. Os jovens filipinos que nos oferecem a cidade, aproveitam todas as ocasiões para cumprimentar, trocar impressões, acompanhar, desejar as boas-vindas. O nosso lugar de encontro é um agradável paraíso verde no meio das torres e dos edifícios da cidade. As mangas e as buganvílias oferecem sua sombra refrescante àqueles que estão cansados da viagem.

Alguns viajaram de tão longe... Acolhemos grupos dos quatro cantos da Ásia, do Vietname, do Bangladesh, do Japão, da Indonésia, de Timor-leste. E também de outros continentes: Lituânia, Canadá, Quénia. Outros vieram ainda de várias ilhas das Filipinas: de Luzon e do arquipélago das Visayas. Mesmo a travessia de Manila para alguns levou várias horas. Estamos particularmente contentes por acolhermos grupos do sul da ilha de Mindanao, juntos vieram amigos muçulmanos e cristãos.

Vários peregrinos de outros países voltaram hoje a Manila depois de um momento de «pré-encontro» noutras partes do país. Uma voluntária do grupo, da Suécia, falou com entusiasmo da sua estadia na comunidade agrícola da ilha de Negros. Foi acolhida tão naturalmente que rapidamente já participava na apanha da cana-de-açúcar e de bananas.

Sob a luz dourada do fim de tarde, os sons do ensaio dos cânticos ressoavam à volta do nosso espaço de oração, decorado agora com vários ícones impressos. Sentimos o cheiro a pão, cozido para amanhã, de uma padaria gerida por jovens que vieram a Manila para trabalhar. Jogos improvisados decorrem ao lado, no terreno de futebol. Reunimo-nos para uma refeição simples de frango e arroz, depois a oração. Um jovem voluntário de Hong-Kong: «Esperámos tanto tempo por este momento e hoje foi esgotante, mas depois, quando estava sentado para orar esta noite, vi todas estas pessoas sentadas comigo e então compreendi: hoje foi um dia tão lindo...!»

Quinta-feira 4 de Fevereiro

As orações são o coração do encontro, um coração que dá o ritmo ao dia, como recentemente em Poznan e na próxima semana no Porto, tal como acontece cada dia em várias casas pelo mundo fora. A primeira oração acontece nas nossas comunidades locais, nos 77 centros de acolhimento das paróquias que abriram as suas portas aos peregrinos. Depois, de toda a parte desta vasta e diversa cidade, convergimos até ao lugar central, conduzidos por equipas de voluntários que subitamente aparecem e nos guiam do comboio ao autocarro, de jeepney em jeepney (os taxis colectivos). O som dos sinos da colina em França levam-nos ao nosso espaço de oração, «a cúpula», onde tiras de tecido ondulam com a brisa refrescante. Cantámos «O halina, halina, Diyos Espiritu Santo» acompanhados por guitarras, flautas e violinos. «Oh vem, vem, Espírito Santo!». E há lufadas de vento que nos envolvem!

Os cantos parecem falar de uma sede de interioridade: «Diyos ang bukal ng buhay», «Senhor, tu és a água viva»; «Kaluluwawa ko’y nauuhaw sa Yo», «a minha alma suspira por ti de noite.» Depois vem a melodia flutuante de um cântico filipino, talvez uma resposta: «Ang Panginoon ang aking pastol, pinagiginhawa akong lubos», « O Senhor é meu pastor, conduz-me às águas refrescantes.»

Hoje reflectimos sobre o encontro de Jesus com duas mulheres – a Samaritana, no poço, e Maria Madalena, no túmulo vazio. Depois da oração do meio-dia, o irmão Alois partilhou: «Maria Madalena é, também ela, habitada por esta sede que está presente em todo o coração humano... não será esta sede uma marca gravada por Deus em nós para que possamos virar-nos para Ele?»

Aqui, nas Filipinas, a religião é visível por toda a parte – pintada nos autocarros, e as decorações de Natal ainda enfeitam muitas ruas. Mas, mais do que vestígios, estes são talvez sinais de uma fé mais profunda, de um desejo, de uma sede, que é central em muitas vidas de aqui. Lembrámo-nos que o irmão Roger «tinha admirado os dons dos jovens filipinos; disse-lhes como tinha apreciado entre eles a confiança do coração, a confiança no Deus vivo.»

Esta tarde somos convidados a fazer partilha em pequenos grupos. Uma rapariga de Mindanao disse-nos: «Em 2008 vimos a violência muito perto de casa, muitas casas foram queimadas e pessoas mortas. Por isso tempos sede de paz, e decidimos ser pacificadores na nossa escola e na nossa comunidade. É preciso muita coragem e por vezes desesperamos, mas continuamos a agarrar-nos à esperança.»

Temos muito a aprender uns com os outros.

Sexta-feira 5 de Fevereiro

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Talvez mais do que noutros continentes, na Ásia vivemos lado a lado com pessoas de diferentes tradições religiosas e desta experiência colectiva chega-nos riqueza e sabedoria. Esta tarde somos convidados a ir aos workshops, para sermos alimentados dessa sabedoria e para a partilharmos.

Num dos workshops, os jovens muçulmanos e cristãos de Mindanao partilham as suas experiências sobre a forma de diálogo entre pessoas de crenças diferentes de maneira a abrir uma estrada rumo à paz. Num outro, jovens com dependências falam de uma comunidade agrícola onde são acolhidos. Outros ouvem relatos de jovens adultos que trabalham com refugiados e com os muito pobres. Em muitos há o desejo de se aproximarem de outros seres humanos, de abrir as suas vidas ao «outro».

Outro grupo reflectia sobre o Espírito Santo, como é dado a todos os povos, a todas as classes, tribos, ilhas, religiões. Sentados com os nossos snacks, «la merienda», ao sol quente do meio-dia, falámos dos nossos medos. Vimos do Paquistão, da República democrática do Congo, de várias ilhas das Filipinas. Uma jovem do Vietname fala «de entrar em contacto com os nossos mais profundos desejos, a nossa liberdade interior para nos colocarmos em movimento com o Espírito Santo.» Partilhámos já tanto!

Somos levados aqui a partilhar do profundo e generoso acolhimento que recebemos das famílias que abriram com confiança as suas casas. Um peregrino suíço fala de um momento de oração, à noite, quando cantavam juntos no terraço da casa. Somos acolhidos para além das divisões, sem nenhuma questão. Uma jovem alemã traz um colar oferecido por um novo amigo filipino; um voluntário das Filipinas carrega com ela um pote de pimenta vermelha trazido por um visitante coreano.

Nas igrejas das Filipinas damos as mãos para cantar «Ama Namin», o Pai-Nosso. Em cada noite desta semana somos convidados a orar juntos à volta da cruz, para aí colocar, talvez os nossos fardos, e os do mundo. Ouvimos orações nas diferentes línguas do continente asiático. A igreja é iluminada por tochas, a cruz é sustentada por estruturas em bambu, uma vez mais o símbolo de unidade. Como o irmão Alois dizia no início: «É Deus quem nos une».

Falando da sua vida de casa, um rapaz da ilha de Mindanao explica: «Vivemos como duas culturas separadas. Devemos construir pontes, muito simplesmente porque é difícil viver na divisão.» Reflectimos sobre o Espírito como uma ponte sobre a qual se pode caminhar até ao outro lado. Uma rapariga do Equador conta que vira hoje um homem que vendia peixe que tinha apanhado no rio, e apercebeu-se de que as nossas culturas têm muito em comum, que existem já várias pontes.

Sábado 6 de Fevereiro

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«Muitos de vocês sabem o que significa a simplicidade» disse o irmão Alois, «a simplicidade abre o nosso coração à partilha e à solidariedade com os outros. Vemos aqui, em Manila, muita gente que toma iniciativas de partilha e que se compromete ao lado dos pobres.»

Somos chamados a transformar o mundo. E esta semana pudemos vislumbrar tantas vidas solidárias que actuam silenciosamente. Vários grupos de paróquias convidaram os «testemunhas de esperança» a partilhar um pouco da sua vida. Um rapaz conta como a sua comunidade local reuniu dinheiro suficiente para pagar as suas aulas ao vender grinaldas de flores «Sampaguita» em frente à igreja durante vários anos. Ouvimos relatos de pessoas que viveram as inundações do ano passado aqui, em Manila. Um jovem que vive numa comunidade afectada por um tufão diz-nos: «Não tenho nada a dar, mas ponho à disposição a minha voz.»

Ouvimos a mensagem enviada a Taizé por Richard, do Haiti, um amigo da comunidade: «A noite, a vida, a morte, não vejo a diferença...» Esta semana, em pequenos grupos, fomos levados a colocar-nos questões sobre este sofrimento. Talvez não possamos mais do que ficar em silêncio. Ainda assim, muitos dizem que, no meio das dificuldades, podemos ver gestos e vidas que testemunham de uma esperança mais profunda, de misericórdia.

Esta tarde reunimo-nos com os da nossa região para juntos reflectirmos sobre as próximas etapas da nossa peregrinação e para ouvirmos falar das iniciativas que já foram tomadas aqui, onde vivemos. Uma rapariga de Portugal dizia: «Aqui, num sítio tão diferente, é muito fácil ver Deus em pequenos gestos da vida quotidiana, muito fácil de partilhar a alegria da partilha. Agora temos o dever de integrar tudo isto na nossa própria vida quotidiana quando voltarmos a casa.» As pessoas que vivem aqui em Manila falam também de renovar a forma de olhar o mundo. Uma grande parte do mundo está aqui representado, mais de cinquenta países. Há tanta riqueza partilhada connosco durante esta tarde, os grupos oferecem cânticos, danças e músicas dos seus países. Que cor, que vida, e que alegria é dada e recebida!

Esta semana rezámos «Espírito Santo, tu despertas nas nossas vidas um desejo de paz e de justiça... Tu colocaste dons no nosso coração para fazeres de nós criadores de comunhão.» Esta manhã, os jovens de Smokey Mountain tiveram a sua oração no sopé da colina de resíduos, acompanhados pelos que estão lá alojados. E esta noite, na oração final, os jovens de Manila improvisaram um pequeno coro que lentamente começou a cantar em tagalog; acompanham e suportam aqueles que rezam à volta da cruz. Os pensamentos simples transformam-se em actos de generosa solidariedade, de profunda esperança, de misericórdia.

Domingo 7 de Fevereiro

Hoje chega ao fim esta etapa da nossa peregrinação e, alimentados pelo que partilhámos, preparamo-nos para a próxima etapa.

Não partimos com respostas. Esta semana ouvimos falar de um pastor protestante de 80 anos que os irmãos encontraram na China. Passou 27 anos num campo de trabalho. «O que me manteve vivo», disse-lhes ele, «foram as palavras de Isaías onde Deus diz: Os meus caminhos não são os vossos caminhos.»

É verdade que não partimos com respostas. Mas o tempo que aqui passámos juntos deixará muitos ecos, não de vazio, mas ressoantes, vislumbres vivos de esperança, um cheiro do que poderá significar viver simples e abertamente em comunidade. Uma mulher originária das Filipinas fala de uma sede de comunidade, «sempre aberta aos outros, nunca querendo dominar.» Uma outra, da Lituânia, diz: «Volto a casa com a convicção de que somos várias partes de um mesmo corpo.»

Somos, uma vez mais, lembrados deste corpo único quando o pão e o vinho da Eucaristia desta manhã são trazidos ao altar num enorme cesto cheio de fruta. Os jovens de Timor-leste, da China, do Japão, da Índia e das Filipinas carregam as suas ofertas, vestindo seus costumes tradicionais de magníficas cores, como várias partes de uma mesma família humana. Acima de nós as aves voam em círculos ao brilho do sol, e oferecemos uns aos outros um sinal de paz. «A paz esteja convosco!»

O Cardeal Rosales, arcebispo católico de Manila, termina a sua meditação com estas palavras: «Duc in altum – avancem em profundidade.» Sim, avançamos em profundidade. Somos levados pelo Espírito. Somos chamados a transformar o mundo, chamados a criar, pela nossa sede, fontes de paz, de partilha, de misericórdia.

Última actualização: 27 de Fevereiro de 2010
Irmão Alois 2010 Carta da China