Sexta-feira 1 de Janeiro
Após a Eucaristia nas paróquias de acolhimento, as famílias acolheram os seus hóspedes para o almoço de Ano Novo. De seguida, os jovens deveriam dirigir-se aos locais de partida de autocarros, à gare ou ao aeroporto, para regressar aos seus países. Contámos 52 países representados entre os participantes, sem incluir os voluntários de Taizé!
Canelle e Isis (França)
Fomos acolhidos numa vila a oeste de Valência, por uma senhora idosa. No começo, não falámos muito devido à língua, mas a velha senhora transmitia-nos o seu afecto ao oferecer-nos um pequeno-almoço esmerado e guloseimas para o dia, repetindo frequentemente «estão em vossa casa». Com o decorrer dos dias, ousámos falar cada vez mais em espanhol e, no primeiro dia do ano, a sua filha veio comer connosco e foi mais fácil conversar. No momento da partida, a nossa anfitriã entregou-nos uma cópia das chaves da sua casa. Sem compreender, dissemos que estávamos de partida para França. E ela respondeu: «Disse-vos que estavam em casa. Então, guardem a chave para regressar quando quiserem...». Esta confiança tocou-nos muito e faz-nos reflectir.
Daniel (Espanha)
Para mim, um dos melhores momentos vividos nestes dias foi a recitação do Pai Nosso em mais de 10 línguas diferentes. Estávamos reunidos no que nos unia independentemente da nossa confissão, língua e origem.
Numa das suas meditações, o irmão Alois disse-nos: «Cada uma das nossas vidas pode tornar-se como uma pequena luz de paz que brilha nas trevas». É claro que, para isto, ainda há trabalho a fazer. Devemos participar na construção de um mundo novo, comprometido e solidário, unido e plural. Levo no meu coração as numerosas pessoas que conheci, de Espanha e de vários outros países.
Teresa (Bielorrússia)
No dia 1 de Janeiro, partilhámos a refeição de Ano Novo com as nossas famílias de acolhimento, após a missa. Na minha paróquia de acolhimento, ouviam-se conversas amigáveis em diferentes línguas – polaco, croata, italiano, espanhol...Depois, pudemos experimentar novamente o sentido de hospitalidade das famílias espanholas, partilhando a tradicional paella. De todo o coração, obrigado a todos os nossos anfitriões pela sua gentileza!
Toni (Alemanha)
Conheço algumas histórias de refugiados, porque trabalho como tradutor para eles. Em Valência, as palavras do irmão Alois e a sua visita à Síria tocaram-me de uma forma particular. De facto, vi as imagens da Síria bombardeada e destruída que os refugiados me mostraram. As palavras do irmão Alois renovaram-me a força para continuar a ser misericordioso e para perdoar. Neste momento, alguns dizem que os refugiados – e os estrangeiros – que se encontram na Alemanha são criminosos. Porém, isto não é a verdade e, desde Valência, tento falar às pessoas e de remover o medo aos que o têm em si.
Quinta-feira 31 de Dezembro
Kimiko (Japão)
Entre os jovens japoneses que vieram comigo participar no Encontro, alguns foram batizados como crianças e agora estão afastados da Igreja. Um deles decidiu vir ao Encontro procurando a respostas à questão: «O que significa acreditar em Deus?»
Durante o encontro por países, uma outra jovem perguntou ao irmão que estava connosco se será possível para os não-crentes aproximarem-se da Verdade - ela dizia do «princípio de vida». Ela também perguntou o que pode significar realmente a misericórdia na vida quotidiana. Todas estas questões ressoaram profundamente em mim, acho que nos ajudaram a pensar sobre o que significa ter fé.
Na nossa paróquia de acolhimento, eu acabei por ser animadora. Acho que todos nós tivemos uma boa experiência de partilha em pequenos grupos.
Aloys (Áustria)
Um capelão dos estudantes austríacos de Graz, Aloys, partilhou a propósito da sua viagem à Síria em 2013, relacionado com as recentes palavras do irmão Alois. Naquela altura, a vida era bem mais agradável. Recorda-se de como os muçulmanos, os judeus e os cristãos rezavam juntos na velha mesquita.
Hoje, há muitos refugiados sírios na Áustria. Muitas pessoas mostraram-se solidárias e tentaram ajudar os que necessitavam, apesar da desconfiança e do medo que impediam outros de se comprometer junto dos refugiados.
Neste inverno, o Padre Aloys organizou em Graz uma refeição de Natal para os sírios, em conjunto com uma comunidade de estudantes. Organiza frequentemente viagens a Taizé para os estudantes de Graz e, este ano, acompanhou, também, grupos ao encontro europeu. Crê que as orações ecuménicas são verdadeiramente importantes e que são essenciais para o futuro da Igreja. Espera um dia poder acolher em Graz peregrinos de Taizé.
Arya (Curdistão, Alemanha)
Durante um atelier sobre a descoberta do caminho e da palavra de Deus, dois irmãos de Taizé partilharam as suas reflexões. O primeiro irmão começou por explicar que precisamos crer que Deus nos confiou uma tarefa maior do que a nossa vida. Devemos deixar atrás de nós tudo o que possuímos e seguir o seu caminho e a sua palavra. Somos todos convidados a anunciar o reino de Deus, ainda que dele não conheçamos muito, e devemos aprender a ver para além da aparência das coisas. «Se sabes em que és bom, então sabes qual o caminho a seguir na tua vida! Não deves temer os desafios, pois fazem parte do caminho de Deus que todos devemos descobrir!»
Para o segundo irmão, esta forma de pensar pode parecer demasiado ambiciosa: «Ao permanecermos demasiado concentrado nas grandes coisas, podemos passar ao lado dos pequenos sinais que Deus nos envia». Os dois irmãos estavam de acordo num ponto: cada um deve começar pelas «pequenas coisas» da vida, que podem de seguida crescer até atingirem um tamanho extraordinários. Para isso, é preciso aprender a escutar a voz de Deus. O melhor exemplo é o de Jesus, que construiu toda a sua vida à volta de uma frase muito simples: «Tu és o meu filho muito amado». Além da palavra de Deus, é também importante escutar o que diz o nosso coração, porque ela representa um desejo mais profundo e secreto que carregamos em nós.
Raul (Espanha)
«O meu objectivo é que as pessoas desfrutem da beleza dos serviços sem saber que um grande número de voluntários trabalha nos bastidores.»
Raul é voluntário em Taizé desde Outubro e trabalha como voluntário aqui em Valência. Descreve-se como o porteiro da tenda B. «Sou o principal organizador da tenda, animo uma equipa de oito voluntários e ocupamos-nos de tudo o que deve ser feito aqui, desde as inspecções diárias durante a manhã ao acolhimento dos peregrinos para a oração da noite!»
Quarta-feira 30 Dezembro
Julia (Alemanha)
O atelier inter-religioso de 29 de Dezembro abordou o tema da misericórdia. Isaac Sananes Haserfaty, o presidente da comunidade israelita de Valência, Don Esteni Escuerdo, o bispo auxiliar de Valência, e Miriam Barouni, a representante da juventude do Centro Cultura de Valência, partilharam os seus pontos de vista sobre a misericórdia. Os três estão de acordo num ponto: todas as criaturas vivas são objecto do amor e da misericórdia de Deus. M. Haserfaty apresentou a celebração judaica em que se pede perdão aos outros, a fim de receber a misericórdia de Deus. M. Escuerdo focou-se em histórias bíblicas como a do filho pródigo: «Deus é mais do que justiça. Deus é amor: abre os seus braços e perdoa-nos».
Ao longo deste atelier, os jovens colocaram questões que destacaram um problema maior: por que existem tantas guerras para que as três religiões cheguem a acordo sobre o significado de «misericórdia»? Miriam Barouni respondeu dizendo: «Pertenço a uma religião acusada de ser violenta e terrorista, mas as pessoas que praticam actos criminosos não me representam enquanto muçulmana. O meu Deus e os seus profetas ensinam-me a viver no amor, na paz e no respeito pelos outros. A verdadeira jihad (luta) é o combate contra o ego e o egoísmo dos seres humanos».
Um outro participante acrescenta: «Para ser misericordioso, devemos parar de pensar somente em nós e começar a pensar também nos outros. Têm necessidade de nós, como nós temos necessidade de Deus.»
Serge (Holanda)
«Estava sentado numa rua de Valência, como todos os dias durante os últimos três anos, quando um jovem se aproximou de mim e me propôs rezar com ele na igreja das redondezas. Entrámos juntos. Há muito tempo que não rezava.
Venho da Holanda, mas agora vivo em Espanha. Cheguei até a ir a Taizé há alguns anos. Deixo-vos imaginar a minha alegria quando soube do encontro europeu em Valência.
Taizé é um milagre. E mesmo se, por vezes, é difícil encontrar um local onde tomar um duche, posso, pelo menos, apreciar a comida que me é dada pelos peregrinos.»
Terça-feira 29 de Dezembro
Na manhã desta terça-feira, teve lugar a primeira oração da manhã em todas as paróquias envolvidas no encontro. As orações do meio-dia e os ateliês da tarde decorreram em diferentes locais do centro da cidade de Valência.
O dia terminou com a oração da noite. Na catedral, o Cardeal Cañizares saudou os jovens participantes e, de seguida, o irmão Alois apresentou a sua meditação quotidiana.
David (Portugal) & Pablo (Espanha)
O encontro europeu é, também, uma oportunidade para que pessoas de meios diferentes e opiniões diversas possam dialogar e partilhar as suas perspectivas sobre a vida. Um exemplo é-nos dado por David e Pablo:
- David (27 anos), peregrino português: «Sou professor de flauta em Lisboa, mas estudei a cultura catalã na universidade. Creio que, ao vir a Valência, podemos ser agentes de paz e respeitar todas as ideias através de um diálogo construtivo».
- Pablo (29 anos), padre vindo de Espanha: «Sou um padre diocesano em Valência. Penso que a unidade não significa uniformidade: uma melodia soaria falsa se todas as notas fossem as mesmas. O encontro em Valência é uma ocasião para partilhar os nossos valores comuns e para descobrir como melhor comunicar sem considerar as nossas diferenças».
Szymon (Polónia)
Szymon (26 anos) é um voluntário polaco. O encontro europeu de Valência é o seu segundo encontro. Porém, este ano, está presente como voluntário. A primeira vez que ouviu falar de Taizé, não ficou particularmente interessado. Não sabia o que fazer. Contudo, desde que participou no encontro europeu de Praga no ano passado, mudou de opinião. Percebeu que podia fazer algo diferente: «É fantástico. Durante um encontro europeu, temos cinco dias unicamente para Deus, para nós mesmos e para os outros. De igual modo, é uma oportunidade de que dispomos para renovar a nossa relação com Deus».
No dia do acolhimento, trabalha como «ponto de informação móvel» no acolhimento polaco e ajuda os peregrinos que chegam. Mesmo se Szymon não fala espanhol fluentemente, tem um bom contacto com a sua família de acolhimento. «A língua pode ser uma barreira, mas, permanecendo abertos, podemos compreender e fazer-nos compreender com poucas palavras».
Oxana e Ivan (Ucrânia)
Um grande número de ucranianos participa no encontro europeu deste ano e isso não foge à regra. Grupos vindos de toda a Ucrânia chegaram hoje ao pavilhão A. Dois jovens da Igreja Greco-Católica da Ucrânia, Oxana (24 anos) e Ivan (29 anos), de Kiev e Lviv, vieram com um grande grupo de ucranianos com idades entre os 17 e os 35 anos. Alguns saem do seu país pela primeira vez, enquanto que outros já participaram em vários encontros de Taizé. São acompanhados por dois padres. Segundo Oxana e Ivan, o encontro é uma verdadeira peregrinação desde o começo da viagem, que começou com orações, liturgias, espiritualidade e catequese. Falam da sua experiência: «Participar num encontro devolve-nos a inspiração para avançar na vida. Torno-me mais paciente e encontro a minha paz interior. Queremos rezar pela paz no nosso país.»
Segunda-feira 28 de Dezembro
É hoje que começa o acolhimento dos participantes. Em sete locais de Valência, os peregrinos juntam-se aos 950 que chegaram sábado. Foram acolhidos na sua língua e receberam uma explicação completa sobre o encontro, com um bilhete para os transportes e um itinerário, que servirá, igualmente, de cartão refeição. Depois, foram enviados para as suas paróquias para aí serem acolhidos e apresentados às suas famílias de acolhimento, onde permanecerão durante o encontro.
Matthijs (Holanda)
A minha viagem começou na aldeia de Taizé, para onde me desloquei para passar o Natal, sem saber como partir de seguida para Valência. Contudo, em Taizé conheci a Erica, que se encontrava na mesma situação que eu. Então, procurámos e encontrámos um autocarro que partia de Lyon.
Organizámos tudo no dia 23 de Dezembro, dois dias antes da nossa partida para Valência. Na manhã do dia de Natal, deixámos Taizé, após uma oração muito bela na igreja da aldeia.
Carlos (Espanha)
Carlos é originário de Valência e trabalha num pequeno restaurante no meio de uma grande rua, nas proximidades do Colegio de las Esclavas. Excluindo o que os professores da escola lhe disseram, pouco sabia sobre o encontro de Valência. Após alguns dias, viu passar cada vez mais grupos na rua e ficou feliz ao ver tantos jovens de diferentes culturas.
Carlos não se considera muito religioso, mas vê o encontro com bons olhos: «É sempre bom quando as pessoas têm fé! Quando se encontram para algo bom». A sua única desilusão é não ter sido informado mais cedo. Porém, pensa agora juntar-se às orações da noite e participar num dos ateliês que ocorrerão nos próximos dias.
Agnieska (Polónia)
Estudante em Espanha desde Setembro graças a um programa de intercâmbio, Agnieska viajou apenas quatro horas para chegar a Valência. Ainda que este seja o seu primeiro encontro, trabalhou como voluntária no acolhimento dos jovens. A sua família de acolhimento é muito calorosa. Têm sete filhos e disponibilizaram espaço para acolher quatro convidados – três polacos e um ucraniano. Agnieska não pôde ir a casa no Natal, mas sentiu-se acolhida por uma grande família. Tendo ela mesma uma família grande, sentiu-se um pouco em casa.
Caya, Fenja, Jan, Nico, Marcel, Birk, Kristina (Alemanha)
A nossa viagem que nos conduziu ao encontro europeu começou no aeroporto de Hamburgo, Após três horas de vôo, o sol acolheu-nos em Madrid e, depois, o comboio mais veloz que já vimos levou-nos ao nosso destino final: a magnífica cidade de Valência. Ao chegar, deambulámos um pouco pelo centro histórico, passando à frente de pequenas lojas e restaurantes cheios de pessoas que riam. Vendo que estávamos perdidos, vários habitantes ofereceram-nos ajuda a encontrar o nosso caminho. Nesse momento, encontrámos, por acaso, um irmão, que nos indicou o local da oração da noite, no parque Turia, onde decidimos ir: uma bela conclusão espiritual para um dia fatigante mas excitante!
Domingo 27 de Dezembro
Esta manhã, chegaram a Valência 950 voluntários, dois antes do começo do encontro, para oferecer a sua ajuda. São os ucranianos, os polacos e os espanhóis quem veio em maior número. Foram acolhidos do Colegio de las Esclavas e, de seguida, foram enviados para as paróquias de acolhimento. As primeiras refeições e orações tiveram lugar no Jardín del Turia, com todos os voluntários e os irmãos.
Perpétue (Togo)
Como membro da Igreja Evangélica Presbiteriana do Togo, a minha presença neste encontro de Valência tem por objectivo permitir-me ter uma impressão sobre uma reunião de jovens cristãos vindos de diversos horizontes a fim de melhor preparar a peregrinação de confiança através da terra que Taizé organiza em Cotonou (Benim) em 2016.
Fui para Taizé no dia 20 de Dezembro e, de seguida, cheguei a Valência, onde sou acolhida pela família de Joseph e Julie, juntamente com dois belgas. Os nossos anfitriões levaram-nos ao local de acolhimento no «Colegio de las Esclavas». Depois, fizeram-nos uma visita guiada pelo centro da cidade de Valência: a Basílica, a Catedral, o Mercado, a Faculdade de Teologia, a «Plaza de la Reina».
Nazar e Andriy (Ucrânia)
Nazar e Andriy, dois jovens ortodoxos de 16 anos vindos de Khmelnytsk (Ucrânia), chegaram com um pequeno grupo de seis pessoas. Os rapazes chegaram a Valência no começo da manhã, prestes a fazerem-se voluntários e a trabalhar, ainda que seja o seu primeiro encontro internacional. Estão entusiasmados com a ideia de encontrar pessoas de novos horizontes e de partilhar a sua experiência de fé.
Ingrida e Janutis (Lituânia)
Ingrida e Janutis, dois jovens lituanos de 21 anos, vieram num grupo de nove pessoas. Vir a Valência a partir da Lituânia foi uma viagem muito longa. A fim de poder ajudar como voluntários ao longo do encontro, o grupo partiu no dia 22 de Dezembro, atravessando a Polónia e a Alemanha. Passaram a véspera de Natal em Lyon, França, partilhando o jantar no autocarro, transformado na sua casa durante a viagem. No dia 25, chegaram a Barcelona, onde puderam participar na celebração da missa de Natal na catedral. Chegaram finalmente a Valência com imensas histórias engraçadas para contar.